No último domingo de julho, vêm a contragosto as advertências do sábio Coelet, do apóstolo Paulo e do único Mestre, que é Jesus Cristo. Um alerta vermelho contra o risco da avareza, irmã gémea da cobiça e da soberba. Talvez estivéssemos à espera, em tempo de férias, de uma Palavra mais suave, mais deslizante, menos exigente e menos acutilante. Mas não. A Liturgia da Palavra não nos vende ilusões de verão e enche de sabedoria o nosso coração, para nos tornar ricos aos olhos de Deus. Comecemos por reconhecer o que há no nosso coração de terreno, de mundano, de mortal.

Reunimo-nos para celebrar a Eucaristia, neste XVII Domingo Comum. É também o 4.º Domingo do mês de julho, o mais próximo do dia 26, que é o dia litúrgico em que se faz memória de São Joaquim e de Santa Ana, avós de Jesus. Quis então o Papa Francisco, como o grande «avô do mundo», que este 4.º domingo de julho, fosse celebrado como Dia Mundial dos avós e dos anciãos. É a segunda vez que o fazemos, este ano sob a inspiração de um Salmo, que nos recorda que os filhos de Deus, “dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92,15). Um desses frutos maravihos0s é a oração. A oração é uma verdadeira força discreta, na retaguarda, para quem luta e trabalha. Hoje, a Palavra de Deus, desafia-nos a usar este instrumento da oração, para mudar a sorte do nosso mundo. Façamo-lo desde já, contando-nos entre os pecadores, na confiança da misericórdia do Pai, que excede a justiça dos homens.

Em tempo de calor e de férias, a Liturgia da Palavra ensina-nos hoje a cultivar a hospitalidade, o acolhimento cordial, pessoal e pastoral. A hospitalidade generosa de Abraão – que escutaremos na 1.ª leitura – configura-se como uma liturgia do acolhimento, uma festa da alegria do encontro à mesa. A hospitalidade de Marta e de Maria – no Evangelho – mostra-nos que a qualidade do acolhimento não está tanto na qualidade do prato, mas na escuta ativa. A nós, como a Abraão e aos discípulos de Emaús, compete-nos estar atentos e dizer: «Senhor, não passeis adiante, sem parar... sem ficar connosco» (Gn 18,3; Lc 24,29)... porque todos precisamos de «pão para restaurar as força e podermos continuar o caminho».

Com o verão a aquecer e as férias à porta, o Evangelho faz-nos parar na beira da estrada. Não para ficarmos à sombra, mas para nos fazer olhar e estender a mão a quem mais precisa. A parábola do bom samaritano exalta a compaixão de um estrangeiro e denuncia a indiferença de dois homens, ligados ao culto do templo de Jerusalém. Na certeza de que o Senhor, o Bom Samaritano, usa de misericórdia para connosco, deixemo-nos misericordiar por Ele, para nos tornarmos também nós misericordiosos como o Pai, bons samaritanos desta humanidade ferida pelo desamor.

Peregrinos da Cidade Santa, exultamos de alegria ao entrar na Casa do Senhor. Aqui experimentamos a ternura de Deus, no coração da Igreja, nossa mãe. A Igreja, a nova Jerusalém, é verdadeiramente a «mãe» que nos acolhe, gera e dá à luz através do Batismo, que nos perfuma e embeleza com a unção do Espírito e nos alimenta e faz crescer com o Pão da Eucaristia. Esta Igreja é Mãe que nos conforta, consola e acompanha, com paciência e misericórdia, através da Palavra e dos sacramentos. E, como Mãe, faz-nos sair de casa, projetados em missão, pelo mundo, para levar a todos a Paz de Cristo. Deixemo-nos, pois, enviar pelo Senhor, que nos confia o trabalho tão feliz da colheita dos frutos do seu Reino, que está já presente no meio de nós.  E deixemos que a Sua misericórdia se torne para nós fonte de alegria e de Paz.

Irmãos e irmãs: primeiro está o Senhor e por isso deixámos tudo para O seguir e responder ao Seu convite. Primeiro está o Senhor e por isso nada nos demoveu de sair de casa e vir ao Seu encontro. Levantámo-nos dos nossos afazeres e pusemo-nos a Caminho, sem nada opor ou antepor ou contrapor a Cristo. Ao iniciarmos esta celebração, assumimos a nossa condição de caminheiros da fé, de discípulos missionários, de peregrinos da esperança, que seguem Jesus para onde quer que Ele vá e O anunciam com alegria, em todo o lugar e em cada dia.

Em pleno mês dos Santos Populares, a Eucaristia Dominical é «a grande festa» do encontro do Senhor connosco e do nosso encontro com Ele.Jesus quer escutar a voz das multidões, quer ouvir a voz dos seus amigos e faz-nos perguntas que pedem uma resposta de viva-voz. Em pleno processo sinodal, o Apóstolo Paulo lembra-nos que somos todos filhos de Deus, todos com direito e dever de resposta. O Evangelho ensina-nos o caminho para chegar à resposta da fé verdadeira e plena. Para escutarmos, com o ouvido do coração, deixemo-nos mover e comover por este olhar de Cristo, trespassado na Cruz, para que o Senhor nos lave o pecado e de toda a impureza.

Reunimo-nos nesta Quinta-feira da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, que nos reporta à instituição da Eucaristia, na Quinta-feira da Ceia do Senhor. Os gestos de Jesus, que toma o pão e o vinho, que bendiz o Pai, que parte e nos reparte o Pão da Vida, são desafio a uma vida tomada pelo Seu amor, a uma vida que se torna um Hino de louvor, a uma Vida que dá tudo e se dá inteiramente pela vida dos outros. A Eucaristia é assim uma escola de bênção. Deus diz bem de nós, seus filhos amados. E nós bendizemos a Deus nas nossas assembleias (cf. Sal 68, 27), reencontrando o gosto do louvor, que liberta e cura o coração. Vimos à Missa com a certeza de ser abençoados pelo Senhor, e sairemos para abençoarmos, para sermos canais de bem no mundo. Preparemo-nos, oferecendo ao Senhor o pouco ou nada que temos, oferecendo o que somos e temos.

Pág. 22 de 79
Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk