Homilia na Solenidade de Todos os Santos 2023
Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo. É o lema deste ano pastoral. Neste espírito, somos hoje chamados a celebrar e a testemunhar “a alegria exultante e exaltante das bem-aventuranças e da santidade, na certeza de que nada há de mais triste neste mundo do que não ser santo” (PDP III.4.12). A esta luz, concentremo-nos em três caraterísticas da santidade, no tempo atual: a alegria, a confiança e o bom humor.
1. A alegria: Jesus começa a sua Magna Carta do Reino pela palavra «bem-aventurados» (Mt 5, 3), isto é, “felizes”, oito vezes repetida. A santidade proposta por Jesus não é feita apenas de esforços e de renúncias. É dom de Deus para tornar completa a nossa alegria. É Ele que nos faz santos! Somos santos, porque Deus, o Único santo e fonte de toda a santidade, vem habitar a nossa vida e transformá-la, purificá-la, capacitá-la, preenchê-la, engrandecê-la, para que a nossa humanidade cresça e se desenvolva feliz até à medida de Cristo, na sua plenitude. Por isso exultemos de alegria no Senhor. Porque a alegria é verdadeiramente a veste que reveste a santidade cristã. Sem esta alegria, a nossa fé corre o risco de adoecer de tristeza. Ora, a tristeza é um «verme do coração», que corrói a vida. Questionemo-nos, hoje: Sou ou não um cristão alegre? Se nada me alegra, de que felicidade ando eu à procura? Irradio aos outros a alegria de Cristo na minha vida ou sou uma pessoa sombria, triste e sempre com cara de funeral? Diz o povo e bem: um santo triste é um triste santo. Se queremos ser santos, escolhamos percorrer o trilho a alegria!
2. A confiança e só a confiança: Mas esta alegria não é, de modo algum, a emoção de um instante ou um simples otimismo humano; esta alegria vive da certeza de podermos enfrentar todas as situações, sob o olhar amoroso de Deus, com a coragem e a força que nos vêm d’Ele. Os santos, todos os santos, experimentaram esta alegria e deram testemunho dela, mesmo no meio de muitas tribulações, dores e perseguições. Para todos nós, mais dia menos dia, há ou haverá sempre momentos difíceis, tempos de cruz. Mas a alegria vem de dentro e vem depois da Cruz. Pensemos em quantos sofrem a doença, a fragilidade, o luto; pensemos nos que chegam ao entardecer da vida sós e feridos. Para estes, tal alegria “nasce da certeza pessoal de que, não obstante o contrário, somos infinitamente amados por Deus” (cf. EG 6); é a alegria radical da nossa filiação divina. Exclamava São João: “vede que admirável amor o Pai nos consagrou em sermos filhos de Deus. E somo-lo de facto” (1 Jo 3,1-3). A santidade é sobretudo um estado de vida, assente na alegre descoberta de sermos todos, todos, todos, filhos e filhas, amados e amadas por Deus. Ponhamos n’Ele e só n’Ele a confiança. Nunca percamos a confiança no amor de Deus, nem para nós nem para os outros, nem para a vida presente nem para a eternidade. Dizia Santa Teresa do Menino Jesus: “é a confiança que nos permite colocar nas mãos de Deus aquilo que só Ele pode fazer; é a confiança que nos sustenta cada dia e nos manterá de pé diante do olhar do Senhor, quando nos chamar para junto de Si”(PAPA FRANCISCO, C’est la confiance, n.ºs 45 e 3). Se queremos ser santos, ponhamos no Senhor a confiança, só a confiança e nada mais.
3. O sentido de humor: a alegria cristã é sempre acompanhada por um grande sentido de humor. O bom humor faz-nos suportar com caridade os defeitos dos outros sem nos escandalizarmos com as suas fraquezas. Meu santo pai dizia que achava graça aos defeitos da minha santa mãe. O bom humor faz-nos rir até dos próprios defeitos. Muitas vezes, o mau humor é próprio de quem só se lamenta e concentra nas suas próprias necessidades e assim se condena a viver com pouca alegria. Vivamos aquela alegria franciscana, pobre e agradecida por um pedaço de pão duro ou pela brisa que acaricia o rosto. Vivamos aquela alegria de dar alegria e de dar com alegria (2 Cor 9,7). Para sermos santos, sejamos bem-humorados, pessoas bem resolvidas, em paz com Deus, com os outros e com a própria vida!
Irmãos e irmãs: Alegria, confiança e sentido de humor, eiso programa atualizado para uma santidade feliz, para uma santa alegria. Quem lhe resistirá?!