Homilia no XXVII Domingo Comum A 2023
1. Não há duas sem três. E este é já o terceiro domingo, em que a Liturgia da Palavra nos propõe a bela imagem da vinha do Senhor. A vinha do Senhor é o seu «sonho», o projeto que Deus cultiva com todo o seu amor, como um agricultor cuida da sua vinha. A videira é uma planta que requer muitos cuidados! Numa primeira parábola, há quinze dias, Jesus mostrava-nos um Pai, que saía ao nosso encontro, para nos desafiar: “ide vós também para a minha vinha”(Mt 20,4.7). E pedia-nos apenas prontidão de resposta, na hora e a qualquer hora. Há oito dias, numa segunda parábola, Jesus mostrava-nos um Pai, que insiste e persiste, dizendo a cada um dos seus filhos: “Filho, vai hoje trabalhar na vinha” (Mt 21,28). Não é para ontem. Nem para amanhã. É para hoje. O Pai espera de ti uma resposta, não “da boca para fora”, mas um “sim”, que te comprometa!
2. Neste domingo, numa terceira parábola (Mt 21,33-44), ainda com cheiro a vinha e a vinho, Jesus revela-nos o rosto de um Pai, comparável ao do senhor da vinha, semelhante ao de um camponês triste e desiludido, que sente o seu amor traído, que vê o esforço do seu amor não correspondido. Na verdade, confiou a Sua vinha, isto é, o cuidado do Seu Povo, a alguns vinhateiros. E eles, em vez de trabalhar na vinha, como bons cuidadores e administradores dos bens que receberam, apoderaram-se da vinha, como se fossem os seus donos e senhores! Através dos seus servos, os profetas, estes vinhateiros foram, uma e outra vez, alertados, mas não ligaram nada! Resultado: a vinha não deu os frutos esperados! Em vez de uvas, produziu agraços; em vez de se ouvirem cânticos de alegria – como seria normal no trabalho da vinha – só havia gritos de horror. Por isso, o cuidado desta vinha tem de ser entregue àqueles que a façam frutificar e entreguem os frutos a seu tempo.
3. Daqui podíamos retirar algumas orientações pastorais, para este novo ano pastoral (e catequético):
1.º: Esta Vinha do Senhor é a Casa de Israel; é todo o Santo Povo de Deus. Podemos dizer que esta Vinha é a Igreja e o Mundo, chamados a transformar-se em sinal e lugar do Reino de Deus. Nós não somos os donos disto tudo! Não. A vinha é do Senhor. A Igreja não é nossa. Nós é que somos da Igreja. O mundo não é nossa propriedade. É a nossa Casa Comum. Qual é então a nossa missão? É a de cuidar, com amor, da Vinha do Senhor. Somos cuidadores uns dos outros. Nós, (pároco, pais, avós, catequistas, educadores e professores), somos chamados a cuidar com amabilidade dos outros (paroquianos, dos fiéis, dos filhos, dos netos, dos catequizandos, dos alunos), não como donos, mas como cultivadores e colaboradores, no trabalho da vinha do Senhor. E vós, mais novos (catequizandos): também sois cuidadores deste mundo, da vida da Igreja, da família, dos amigos!
2.º: O Senhor não nos pede produção. Não. Ele espera o fruto. A árvore conhece-se pelos frutos. A glória de meu Pai – disse Jesus – é que deis muito fruto (Jo 15,8). O fruto é aquilo que nos marca a alma, que traz a alegria verdadeira ao coração. Como fazer frutificar a vinha? Façamos desenvolver em cada pessoa tudo o que há nela de verdadeiro, de belo, de bom, de justo e de puro, para que cada um cresça como filho de Deus e irmão de todos e dê frutos de amor, de alegria e de paz.
3.º: Tal como no trabalho da vinha, a nossa missão é um serviço realizado em clima de alegria e de festa. Não podemos olhar para a Catequese, para a Eucaristia, para a vida e para o trabalho em comunidade, como um fardo, uma obrigação, um peso, uma tortura, uma penitência, mas como uma graça, uma oportunidade, uma chance, uma fonte de alegria. Eis por que o nosso Plano Diocesano de Pastoral insiste nesta marca da alegria. Irmãos e irmãs: escutemos o convite do Senhor: “Ide para a minha vinha”, “Filho, vai para a minha vinha”, “Ide e frutificai”. E que a nossa resposta seja esta: “Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo”. Com este lema pastoral, apresentemo-nos diante de Deus e apresentemo-nos uns aos outros, como servidores da alegria e humildes trabalhadores da vinha do Senhor!