O toque da trombeta, que anunciava o início do Ano Jubilar, no dia do Grande Perdão (Lv 25,9), ressoa também hoje, Quarta-feira de Cinzas, no toque da trombeta em Sião, para reunir todo o Povo de Deus e convocar-nos para um tempo santo de conversão ao Senhor, a fim de chegarmos de coração transformado à celebração anual da Páscoa do Senhor.O Jubileu de 2025, Ano da graça do Senhor, e a Quaresma deste ano, em direção à Páscoa, são um tempo duplamente favorável,para caminharmos juntos na esperança, para sairmos de nós mesmos, pondo toda a nossa confiança no Senhor. Eis porque o lema que nos guiará, em toda a Diocese do Porto e entre nós, é precisamente este: “Peregrinos de esperança, rumo à Páscoa. No caminho, eu confio em Ti”! Cristo ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança viva. «Não fiquemos à margem desta esperança viva” (cf. EG 278)!
Olhar e falar. Duas dimensões da nossa vida que estão hoje sob o juízo da Palavra de Deus. No centro, é claro, está o coração. Um coração que vê. Um coração que fala ao coração. O coração de Deus ecoa na Palavra e ressoa em nossos corações. Quando nos fala, é o coração de Deus que transborda! Ponhamo-nos à escuta, deixando vibrar nas cordas do coração o timbre desta Palavra, para que ela possa frutificar na nossa vida. No silêncio do coração, acolhamos a Palavra do Amor e o fruto do seu amor, na entrega de Jesus ao Pai por nós.
Jesus sobe a parada e a escalada do amor, com este desafio: «Amai os vossos inimigos»! É bem alta a medida da vida cristã comum, que todo o discípulo é chamado a viver. Trata-se agora de amar, não apenas quem é diferente de nós, mas também de amar quem nos ofende ou é contra nós. Perante a loucura deste amor sem medida, deste perdão gratuito, desta dádiva sem recompensa, sentimo-nos pequeninos e suplicamos a Jesus que nos dê o que nos pede. Na medida em que nos deixarmos amar por Ele é que poderemos amar como Ele nos amou e mandou. Invoquemos e deixemo-nos transformar pela sua misericórdia e pelo Seu perdão.
No Jubileu da esperança, a Palavra de Deus, que hoje temos a felicidade de escutar, é um verdadeiro Hino à esperança. A esperança de que somos peregrinos tem as suas flores brancas, nas asperezas do caminho. A esperança é a virtude teologal (forjada por Deus), pela qual desejamos não apenas uma vida melhor, mas a vida eterna como nossa felicidade. As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova Tema Prometida e traçam-nos o caminho através daquelas provações que, desde sempre, aguardam os discípulos de Jesus. Deixemo-nos atrair pela felicidade que Cristo nos propõe e saibamos por nas suas promessas toda a nossa esperança. Aqui e agora, somos felizes porque convidados para o banquete do Reino. Vistamos o traje de festa, o coração simples e pobre, e confessemos ao Senhor a pouquidão da nossa curta esperança!
Cristo morreu, foi sepultado, ressuscitou, apareceu. Este é o coração da nossa fé, o «núcleo» da nossa esperança. A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte onde tudo parece acabar, através de Cristo e da sua graça que nos foi comunicada no Batismo, recebe-se a certeza de que «a vida não acaba, apenas se transforma», para sempre. Sepultados com Cristo no Batismo, recebemos n’Ele, ressuscitado, o dom duma vida nova, que derruba o muro da morte. A morte torna-se uma passagem para a vida eterna: esta é a meta para a qual tendemos na nossa peregrinação terrena (cf. Spes non confundit, 20). Diante do Senhor, reconheçamos humildemente, como Isaías, como Paulo, como Pedro, a nossa pequenez e o nosso pecado, para que o Senhor nos tome, transforme e envie como testemunhas da Sua Ressurreição.
Há oito dias, tínhamos os olhos fixos em Jesus, a iniciar o seu ministério na Galileia. Jesus apresentava-se então, na sinagoga de Nazaré, como o Messias, que cumpria, em plenitude, a esperança dos pobres e inaugurava o Grande Jubileu, o Ano da Graça do Senhor. Neste domingo, 2 de fevereiro, completam-se 40 dias depois do Natal. Por ser uma Festa do Senhor, ela goza de precedência sobre o IV Domingo Comum. “Puxámos a fita atrás”, e voltamos àquele outro encontro, em que Jesus é apresentado por Maria e José, no Templo de Jerusalém. Aí é acolhido de braços abertos; aí é aclamado e reconhecido como o Messias esperado, a Luz das Nações. Simeão e Ana, que há tanto tempo esperavam o Messias, são para nós, o testemunho de quem mantém acesa a chama viva da esperança, que não engana. Por isso, hoje benzemos estas velas, pedindo ao Senhor que o nosso coração se mantenha, como o de Simeão e Ana, desperto na esperança, como uma tocha sempre acesa!
Neste Terceiro Domingo do Tempo Comum, a Igreja celebra, pela sexta vez, o Domingo da Palavra de Deus. É um Domingo especialmente “dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus” (Aperuit Illis, 3). Por estarmos a celebrar, ao longo de todo o ano 2025, o Grande Jubileu, sob o lema “Peregrinos de esperança”, o Papa Francisco escolheu como fonte de inspiração para este Domingo da Palavra, as palavras do Salmista: “Espero na tua Palavra” (Sl 118/119,74). É da nossa experiência humana, que todos esperam, todos temos diversas esperanças, mas o que nos é comunicado neste Jubileu é a “Esperança”, no singular, a Esperança em Pessoa. A nossa esperança não é uma ideia, uma expetativa; a nossa esperança tem rosto e tem nome: é Cristo. “Cristo é a nossa esperança” (1Tm 1,1). Ele mesmo Se apresenta hoje na sinagoga de Nazaré, como Aquele que realiza a Promessa e o ideal libertador do Jubileu. É Ele que inaugura e nos oferece, em definitivo e em plenitude, «o Ano da graça do Senhor», o Ano Jubilar. Neste Domingo da Palavra, renovemos a nossa esperança no Senhor, porque Ele é fiel à Palavra do Seu amor por nós (Hb 10,23), Ele realiza todas as promessas. Eis porque esta é uma esperança que não nos desilude (Rm 5,5). Bem o entendeu o apóstolo Pedro, quando afirmou: “À Tua palavra, Senhor, lançarei as redes” (Lc 5,5), o que significa: “confio em Ti”; “pus toda a minha esperança na Tua Palavra”(Sl 118/119,74).
Entramos no Tempo Comum. A Liturgia veste-se de verde, a cor litúrgica que associamos à esperança. Para nós, esta esperança renova-se em cada Domingo, o primeiro da semana, o dia da Ressurreição, «o oitavo dia», o dia novo, que ultrapassa o ritmo habitual, marcado pela cadência semanal. Celebramos o Domingo, na expetativa do Domingo, sem fim, “abrindo assim o ciclo do tempo comum à dimensão da eternidade, à vida que dura para sempre: está é a meta, para a qual tendemos na nossa peregrinação terrena (cf. Rm 6,22)” (cf. Spes non confundit, n.º 20); esta é a meta da qual nos tornamos “Peregrinos de esperança”. Desta esperança, dá-nos testemunho Maria, na cena das bodas de Caná, esperando de Jesus a resposta para aquilo que parecia não ter saída nem solução. Maria é sobre a mesa a vela acesa da nossa esperança.