Homilia no VI Domingo Comum C 2025
1. Maldito o homem que põe na carne humana a sua esperança! Bendito o homem que põe a sua esperança no Senhor. Di-lo Jeremias e di-lo o Salmista, que abrem, diante dos nossos olhos, estes dois caminhos de desgraça e de esperança. No primeiro caminho, o da perdição, estão os donos deste mundo, tão cheios de si e cheios de tudo, que já não esperam mais nada. Dante descreveu, na Divina Comédia, um letreiro à porta de entrada do inferno: “Aqui acaba toda a esperança”. Mas, no segundo caminho, o da salvação, estão todos os peregrinos de esperança, que têm já a germinar, no seu coração ardente e insatisfeito, a felicidade prometida no Reino de Deus. Ora, no Evangelho, Jesus contrapõe estes dois caminhos. Escutámos quatro felicitações e quatro ameaças!
2. Nestes dois caminhos, surge a pergunta fundamental: em que pomos… ou em quem pomos a nossa esperança? Qual é… ou quem é o fundamento sólido, que sustenta e dá base a nossa vida? Onde… ou em quem assentar o pilar da nossa confiança? Se somos peregrinos de esperança, qual é a meta? É uma expetativa a curto ou médio prazo, situada em algum coisa e lugar, ou é uma esperança de longo alcance, que só se cumprirá no céu? É uma esperança ilusória, apoiada nas forças humanas ou uma esperança firme, ancorada nas promessas de Cristo (CIC 1817)? É uma esperança, apenas para «aguentar» as agruras e amarguras da vida presente, ou é uma esperança de futuro, de ressurreição, de vida nova, de vida plena, “de vida eterna, como felicidade” (CIC 1817)? É uma esperança que procura a satisfação imediata nos mercados e mercadorias deste mundo ou é uma esperança capaz de sofrer e de dar tudo, porque espera uma riqueza melhor e imperecível (Hb 10,34)? Em quem pomos a nossa esperança, a nossa confiança? No cofre forte da riqueza material, que mais dia ou menos dia desaparece, ou no tesouro incorruptível do amor, que jamais acabará?
3. Irmãos e irmãs: a esperança, que é divisa deste Jubileu, não pode reduzir-se à expetativa individualista de uma vida melhor, de mais saúde e bem-estar, para mim ou para os meus. Da esperança, de que somos peregrinos, faz parte o desejo e o compromisso de trabalharmos juntos por um mundo melhor, em favor dos desesperados e dos deserdados deste mundo. A esperança que marca este Jubileu não se mede pelos indicadores mais ou menos otimistas das previsões políticas, económicas ou sociais, mas alimentar-se-á de sinais concretos, de pequenos gestos de amor, que não deixem ninguém para trás e sem futuro!
4. A esperança, que marca este jubileu, faz-nos cidadãos do Reino de Deus já neste mundo e, ao mesmo tempo, faz-nos peregrinos de uma Pátria melhor. As bem-aventuranças, que escutámos, “elevam a nossa esperança para o céu, como nova Terra prometida” (CIC 1820). O céu não nos limita a felicidade que sonhamos e que, desde já, somos chamados a viver. Mas dilata o nosso coração, para a grande esperança da vida eterna: não esperamos as recompensas de Deus, mas esperamos a Deus como nossa recompensa.
5.Permitam-me, pois, que conclua esta reflexão com uma oração, inspirada nestas quatro bem-aventuras e nas quatro imprecações do Evangelho de hoje:
“Dá-nos, Senhor, uma vida feliz, mas livra-nos de uma mesa cheia, do risco de um coração enfartado, sem fome de uma vida maior. Dá-nos, Senhor, uma vida feliz, mas livra-nos da indiferença, de um coração rígido e seco, sem lágrimas de compaixão. Dá-nos, Senhor, uma vida feliz, mas livra-nos de uma vida sem lutas, de um coração vazio e vendido à paz podre das conveniências. Dá-nos, Senhor, uma vida feliz, mas livra-nos de já não esperar nada. Seja antes o nosso coração a arca do tesouro imperecível. Ámen”.