HOMILIA NA FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR 2025 *
1. Peregrinos de esperança, Maria e José vão ao Templo, apresentar e oferecer o Filho, que lhes foi confiado e a todos nos foi dado. E no Templo de Jerusalém, são recebidos por dois anciãos, Simeão e Ana, que acolhem de braços abertos esta chama viva da Esperança, no rosto frágil de um Menino. São outras duas figuras da esperança: Simeão esperava a consolação de Israel e Ana aguardava a libertação de Jerusalém. Ambos esperaram por Jesus, o Salvador, durante toda a vida. Os corações de um e de outro mantiveram-se despertos, como uma tocha sempre acesa. Ao longo do caminho da vida, sentiram certamente dificuldades e desilusões, mas não cederam ao derrotismo: não «mandaram para a reforma» a esperança. E assim, ao contemplar o Menino, reconhecem que o tempo se completou, que a profecia se realizou. Aquele que procuravam e por Quem tanto suspiravam, o Messias, Luz das nações, chegou! Mantendo viva a expetativa do Senhor, tornam-se capazes de O acolher, na novidade e surpresa da sua vinda. Simeão e Ana dão este testemunho: a vida merece ser vivida com esperança, porque o Senhor é fiel a sua Promessa. O cântico de Simeão atesta: «É verdade! A esperança em Deus nunca dececiona (cf. Rm 5, 5); Ele não engana».
2.Irmãos e irmãs, esta expetativa de Deus é tão importante para nós. Todos os dias, o Senhor nos visita, vem ao nosso encontro, fala-nos e surpreende-nos. Por isso, precisamos de estar de vela, de vigia, em expetativa, para não cair no sono do espírito, adormecer o coração, anestesiar a alma, arquivar a esperança, nos cantos obscuros das desilusões e resignações. O Jubileu da Esperança desafia-nos, pois, a esperar com paciência, com perseverança e constância. Sim, a paciência é a parente mais próxima da esperança!Na era da internet, do «aqui e agora», a paciência deixou de ser de casa, foi posta em fuga pela pressa, causando-nos grave dano! Precisamos tanto de a acolher e exercitar.
3.Gostaria, por isso, de indicar três «lugares» onde se concretiza a paciência:
3.1. O primeiro é a nossa vida pessoal. Devemos ter paciência connosco próprios e esperar, confiantes, os tempos e as modalidades de Deus: Ele é fiel às suas promessas. Deus tem o seu timing. Ele sujeita-se à nossa lentidão. Lembrar-nos disto, permite-nos repensar os percursos, revigorar os nossos sonhos, sem ceder à tristeza interior, ao lamento e ao desânimo. Deus tarda, mas não falta!
3.2. O segundo lugar onde se concretiza a paciência é a vida familiar e comunitária. Às vezes surgem conflitos e não se pode exigir uma solução imediata: é preciso dar tempo ao tempo, procurar não perder a paz, esperar o momento melhor para uma clarificação na caridade e na verdade. Não se deixar confundir e afogar pelas tempestades. Nas nossas famílias e comunidades, requer-se esta paciência do amor, que tudo espera, isto é, torna-se capaz de carregar aos próprios ombros, a vida do irmão ou da irmã, com as suas fraquezas e defeitos!
3.3. Enfim, o terceiro lugar: a paciência com o mundo, cujo progresso humano e espiritual não tem a velocidade do progresso tecnológico! Deus trabalha, com toda a paciência, o terreno da história e o terreno do nosso coração. Nós, pelo contrário, cedemos à impaciência de quem julga tudo imediatamente: agora ou nunca. E assim perdemos a virtude pequenina e mais bela da esperança.
4.No nosso dia a dia, todos precisamos da paciência como vitamina essencial, para ir em frente: manter a calma, controlar os instintos, conter as más respostas, desarmar disputas e conflitos. Como afirma a Escritura, «é melhor a paciência do que a força de um herói» (Pr 16, 32). Peçamos ao Espírito Santo a graça da paciência, que é filha da esperança e, ao mesmo tempo, o seu suporte! Imploremos a paciência confiante de Simeão e de Ana, para que também os nossos olhos vejam a luz da Salvação, que levaremos, a todo o mundo, como chama viva da nossa esperança!
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Para a redação da homilia, seguimos alguns textos do Papa Francisco:
Homilia, 2.02.2021 (sobre a paciência de Simeão e Ana)
Homilia, 2.02.2024 (sobre a esperança de Simeão e Ana)
Audiência, 27.03.2024 (sobre a virtude da paciência)