Liturgia e Homilias no VIII Domingo Comum C 2025
Destaque

Olhar e falar. Duas dimensões da nossa vida que estão hoje sob o juízo da Palavra de Deus. No centro, é claro, está o coração. Um coração que vê. Um coração que fala ao coração. O coração de Deus ecoa na Palavra e ressoa em nossos corações. Quando nos fala, é o coração de Deus que transborda! Ponhamo-nos à escuta, deixando vibrar nas cordas do coração o timbre desta Palavra, para que ela possa frutificar na nossa vida. No silêncio do coração, acolhamos a Palavra do Amor e o fruto do seu amor, na entrega de Jesus ao Pai por nós.

HOMILIA NO VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM C 2025

O olhar e o falar passam hoje pelo polígrafo da Palavra de Deus. Vamos, por isso, Ao médico divino para uma limpeza das cataratas e para uma sessão de terapia da fala!

1. Em primeiro lugar, voltemos o nosso olhar… para o nosso olhar. O risco que corremos é de nos perdermos a olhar para um pequeno cisco no olho do irmão, sem nos darmos conta da trave que está à frente dos nossos olhos (Lc 6,39-42). O Senhor convida-nos a limpar o nosso olhar.  Em primeiro lugar, pede-nos que olhemos para dentro de nós mesmos, para reconhecer as nossas misérias. Pois se não conseguirmos ver os nossos próprios defeitos, estaremos sempre prontos a aumentar os dos outros. Ao contrário, se reconhecermos os nossos erros e as nossas misérias, abrir-se-á para nós a porta da misericórdia. E depois de ter olhado para dentro de nós, Jesus convida-nos a olhar para os outros como Ele faz: olhar para os outros como Ele faz. Ele que não vê primeiro o mal, a pior parte, mas vê o bem, vê a melhor parte de nós! E convida-nos a fazer o mesmo: a não procurar o mal nos outros, mas o bem. Peçamos a Deus que nos limpe as cataratas que desfiguram o rosto dos outros e nos dê um olhar limpo, um olhar de bem-querer, um coração que vê.

2. Depois do olhar, Jesus convida-nos a refletir sobre o nosso falar. A boca «fala da abundância do coração» (Lc 6,45). A boca é uma espécie de caixa de ressonância do coração: se o coração é manso e humilde e está cheio de coisas boas, as palavras são raras, doces e belas; se o coração está vazio, as palavras são ocas, ruidosas e a mais; se o coração está minado ou contaminado por maus sentimentos, as palavras são flechas de veneno, que sujam, ferem e matam. Pelo que não é nada virtuoso ter o coração perto da boca – como se diz na gíria popular – mas será mais necessário ter a boca perto do coração. Quando a boca está perto do coração, a pessoa não diz tudo o que pensa nem diz mal, mas pensa bem tudo o que diz e diz bem, bendiz.  Quando a boca está perto do coração, a pessoa não diz tudo o que lhe apetece e o que lhe vem à cabeça, mas vê o modo como fala e mede também a capacidade do seu interlocutor para suportar tudo o que tem para lhe dizer. Quando a boca está perto do coração, a pessoa sabe quando deve falar e quando deve calar: só por amor calar, só por amor falar. É o amor que dá à palavra o seu tempo certo e o seu modo justo. A palavra, feita de crítica e de contestação, só é verdadeira se nasce do amor de Deus em mim, pelos outros. Por isso, a verdade diz-se sempre na caridade (cf. Ef 4,15). Não se pode corrigir uma pessoa sem amor, como não se pode fazer uma cirurgia sem anestesia. O amor, com que se fala, é como uma anestesia que ajuda o outro a receber o tratamento e a aceitar uma correção fraterna. Quando a boca está perto do coração, também há humildade e discrição no falar. O que eu tiver a dizer ao outro, não o direi por ter toda a razão do mundo nem o direi como palavra de salvação; o que eu tiver de mais difícil a dizer ao outro, não o direi pelo prazer de maldizer ou pelo gosto de falar de cima da burra, até porque tenho defeitos bem maiores, mas serei discreto, direi em voz submissa, porque ambos precisamos de retomar juntos o caminho do Evangelho.

3. Nestes dias, os nossos olhos estão postos no Papa Francisco, hospitalizado. E o seu olhar de misericórdia e de ternura fala-nos, antes mesmo de todas as suas palavras, sempre duras com os fortes e sempre meigas com os fracos. Do Papa Francisco disse um dia o falecido Adriano Moreira, que “mesmo quando está a falar, percebe-se que Ele está a escutar”.  E é verdade. Da qualidade da escuta depende a força da Palavra. Reparemos que uma criança só é capaz de começar a falar a partir daquilo que foi capaz de escutar.

Estamos às portas da Quaresma. Para fechar os olhos e ver melhor. Para ouvir mais e falar menos. Aproveitemos para curar o nosso olhar com o colírio da esperança, que ama o que não se vê e o que ainda não se vê! Que o silêncio austero da Quaresma seja para nós uma terapia da fala. Só aprende a falar, quem aprende a escutar!

 

 

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