Vem mesmo a preceito a Palavra de Deus, neste clima eleitoral. Vem dar-nos a confiança de que, em todos os homens e mulheres de boa vontade, o Espírito Santo fala e atua, mesmo naqueles que nos parecem do outro lado, de outro partido, de outro clube, de outra religião. Em todos os que se deixam mover por Ele, o Espírito Santo atua e realiza a obra de transformação do mundo. O Espírito Santo não tem partido, mas toma partido pelo bem, pela beleza, pela verdade, pela justiça, pela paz. Para além das nossas escolhas políticas, prevaleça a certeza de que, antes e acima de todos, não existimos nós e os outros, porque somos todos irmãos e irmãos de todos.
Enquanto na rua, com a campanha eleitoral ao rubro, os candidatos se reclamam de ser os maiores e os melhores para servir as suas populações, no Evangelho deste domingo, Jesus põe-nos uma criança no meio, como mestre de uma sabedoria que vem do alto e nos ensina a servir e a escolher o último lugar. Deixemos então que a Palavra de Deus, como uma sonda que vai direta ao coração, nos ajude a encontrar a raiz de todos males, conflitos e divisões. Jesus continua a abrir-nos um caminho novo, de humildade, de serviço, de esperança e de confiança.
No caminho da nossa vida e da nossa fé, Jesus faz-nos perguntas que vão diretas ao nosso coração, às quais não podemos responder sozinhos! Precisamos de escutar juntos a Palavra de Deus, para que seja o próprio Deus a revelar-nos o Seu rosto. Precisamos de nos escutar uns aos outros, para partilharmos o conhecimento íntimo e vital de Jesus de cada um. E só assim chegaremos juntos a uma fé comum, à fé da Igreja. Examinemos as nossas obras e poderemos, de algum modo, medir a temperatura da nossa fé em Cristo e da nossa amizade com Ele.
Somos assembleia acolhida e reunida, em nome de Cristo. Aqui viemos, guiados e acompanhados, para o encontro pessoal com Cristo. Aqui estamos, para abrir os nossos ouvidos à Palavra de Deus e para proclamar, de viva voz, os louvores do Senhor.O Evangelho deste domingo desafia-nos a esta abertura dos ouvidos e da boca, da alma e do coração, a Cristo, para que Ele rompa os nossos bloqueios e divisões e nos torne comunidade de pessoas acolhedoras, inclusivas e participativas, onde há lugar para todos, com a sua vida frágil e fatigante.
Com o povo a banhos neste final de agosto, deixemos que seja a Palavra de Deus a lavar-nos a alma e a limpar-nos do contágio do mundo. Deixemos que seja Deus a purificar o coração, no encontro com o Seu amor. Pois é do coração que procedem todos os vícios que tornam o homem impuro. Depois de cinco domingos centrados no longo Discurso do Pão da Vida, retirado do 4.º Evangelho, retomamos, agora e neste domingo, a leitura do Evangelho segundo São Marcos, que nos guiará até ao final deste ciclo litúrgico. É a própria Palavra de Deus que insiste hoje no seu valor. Ouvir atentamente a Palavra, guardar interiormente a Palavra e levar à prática essa mesma Palavra de Deus, é o fio condutor dos textos que vamos ouvir. Escutemos então a Palavra de Deus. Acolhamo-la de coração puro!
Jesus dá um murro na mesa, que sabe a um murro no estômago dos discípulos, que não conseguem digerir as palavras duras no final do Discurso do Pão da Vida: “E vós, também quereis ir-vos embora?”, diz-lhes Jesus. Muitos séculos antes, também o povo de Israel fora confrontado com uma opção: “A que Deus quereis servir”? Porque não se pode andar de bem com Deus e com o Diabo. São opções de vida, que também se refletem nas relações entre marido e esposa. Tudo se conjuga em apelos que pedem resposta. Nós, se aqui estamos e aqui viemos, é porque queremos dizer com e como Pedro: A quem havemos nós de ir... se só Tu tens palavras de Vida Eterna?
À imagem de Maria, levantámo-nos, saímos de casa, da nossa zona de conforto, e pusemo-nos a caminho, para celebrarmos juntos o encontro com o Senhor. Hoje, unimos à celebração dominical da Páscoa do Senhor, a Assunção de Nossa Senhora, a Páscoa de Maria. Sim. A Assunção de Nossa Senhora é a Páscoa de Maria, é a festa da sua plena participação na vitória pascal do seu Filho Jesus Cristo. Maria, sempre unida ao seu Filho, na vida e até à morte, uma vez concluído o percurso da sua vida terrena, é associada à glória da ressurreição do seu Filho. Com Maria, celebremos a alegria do encontro com Cristo, aprendamos a caminhar, rumo a um nós cada vez maior, sempre com os pés na terra e os olhos no céu.
Levantamo-nos, saímos de casa, das nossas coisas e da nossa vida, e caminhamos ao encontro desta mesa, na nossa Casa comum, para nos fortalecermos com o Pão dos peregrinos, para podermos voltar ao caminho, todos juntos, rumo a um nós cada vez maior. Atraídos pelo Pai, viemos com alegria ao encontro do Senhor. Jesus é então o nosso Pão e o nosso Caminho, é o nosso Guia e Companheiro. Partilhamos esta intimidade itinerante com todos os peregrinos, migrantes e refugiados, que estão no centro da oração e da atenção da Igreja nesta semana, que lhes é especialmente dedicada.