Homilia no XXV Domingo Comum C 2022
1.Que hei de fazer agora?É a pergunta inicial do administrador desonesto, ao ver ameaçado o seu futuro, com uma carta de despedimento em cima da mesa. Com lucidez, percebe a gravidade e a urgência daquela hora. E em vez de se lamentar de coisas passadas, tem a coragem de abraçar as dificuldades do presente, como um desafio para assegurar o seu futuro, mas agora por um caminho novo. Por isso, ele não adia o problema, não embrulhao presente. É um homem com a coragem de decidir, de agir e reagir, com inteligência e diligência, com criatividade e prontidão. Num golpe de génio, o mesmo homem que se perguntava “que hei de fazer agora” é aquele que diz“já sei o que hei de fazer”. E nós – tal como o senhor desta parábola – não louvamos o administrador por ser desonesto, mas tomara que tivéssemos a mesma astúcia, para respondermos com pressa e fidelidade criativa aos desafios do presente.
2.Que hei de fazer agora?Esta deve ser a pergunta de cada um, diante de um novo ano escolar, laboral e pastoral, num contexto social e económico particularmente exigente e numa Igreja sempre em processo sinodal. Este é, para nós, um tempo crítico, um tempo novo, em que a fidelidade ao Evangelho e à Tradição já não se compadece com a mera repetição das receitas da avó, da fé do morta dos vivos, do «fez-se sempre assim» (cf. EG 35). Precisamos, nesta hora, de cristãos ativos e criativos, fiéis ao presente que têm nos seus braços, capazes de dizer: “já sei o que vou fazer”. E então abraçar o presente.
3.O que significar abraçar o presente? Pensemos em três atitudes:
3.1. Abraça o presente como um presente de Deus!Vive o presente. Tem consciência de que chegou a tua hora. É a tua vez. Não passes culpas a outros, nem embrulhes em desculpas o presente que te caiu nos braços. Se queres evitar a falência espiritual da tua vida cristã e da tua comunidade, não recues para o passado, nem paralises pelos temores do futuro. O teu futuro é o teu presente. Por isso, eu te digo: Chegou a tua hora.Decide-te, levanta-te, com a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor e não podem deixar de os partilhar, com aquela boa pressade quem sabe colocar as necessidades do outro acima das próprias. Chegou a tua hora.Sai de ti mesmo, envolve-te, compromete-te. Percebe a urgência desta hora: ou é agora ou nunca!
3.2. Abraça o presente– desculpa dizê-lo assim– com unhas e dentes. Abraça o presente com garra e determinação, com inteligência e diligência, com prontidão e criatividade, com todos os teus bens, dons, talentos e recursos. Mostra a ti mesmo que o tempo vale mais que o dinheiroe, por isso, trabalha pro bono, trabalha de graça, serve com alegria, tendo em vista o verdadeiro bem, o bem maior, o bem comum.
3.3. Abraça o presente nas mais pequeninas coisas, para que te seja confiado o verdadeiro bem.Não serás fiel em muito, se não fores fiel em pouco. Neste sentido, abraça o presente, na atenção aos pequenos detalhes da tua vida diária (cf. GE 143-145), cuidando, em tudo e de tudo, com amor. Lembra-te: “É divino não se assustar com as coisas maiores e, ao mesmo tempo, cuidar das menores” (cf. GE, n.º 169, nota 124). Na Paróquia, por exemplo, os serviços mais simples, como o acolhimento, a limpeza, a decoração, a recolha das ofertas, [os teus cozinhados para venda no “Mercado das Sete Bocas”], o apoio ao Bar e a outros eventos, são tão necessários como os ministérios do catequista, do leitor, do acólito, do cantor, do salmista, do ministro extraordinário da comunhão…[enumerar outros grupos pastorais da comunidade].
Irmão, irmã: Chegou a tua hora. Abraça o presente. Juntos por um caminho novo!