Pés ao caminho. Juntos pelo Natal. Este é o lema da nossa dinâmica pastoral, para um Natal em modo sinodal. Para esta última semana do Advento, às portas do Natal, o desafio é este: Acelera o passo! Gasta a sola dos sapatos. Deixemo-nos mover pelo exemplo de Maria: depois do seu “sim”, que dá origem à estação e à gestação do Natal,Maria percorre 120 km de Nazaré à Judeia, atravessando montanhas,ao encontro da sua prima Isabel. É um caminho de gestação e de esperança, pois leva no seu seio o Menino Deus, que Se faz Homem. É um caminho íngreme, desconhecido, mas que Ela percorre com audácia e coragem criativa, pois também nas asperezas do caminho crescem flores brancas de esperança. Com o seu exemplo, a Virgem Maria incita-nos a sairmos de casa, da nossa zona de conforto, para levarmos às periferias do nosso mundo, aos mais sós e distantes, a presença do Senhor.

Pés ao caminho. Juntos pelo Natal Este é o lema da nossa dinâmica pastoral, para um Natal em modo sinodal. Para esta semana, o desafio é este: “Tira a pedra no sapato. Continua o caminho”. E nós, depois de aprendermos de Maria a escuta humilde, somos desafiados por João Batista a falar com coragem, com assombro, com honestidade e liberdade. Acendamos agora a 3.ª vela da coroa do Advento, para que o testemunho de João Batista ilumine como “uma lâmpada ardente e luminosa” (Jo 5,35), que nos projeta para a Luz e nos desafia a tirar as pedras do sapato e a desimpedir o caminho para o encontro com o Senhor.

Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2021

 

A Palavra de Deus põe em contraste, quase como num filme a preto e branco, a pureza e a beleza de Maria, a cheia de graça, e a nudez envergonhada do primeiro par humano a tentar esconder a sujidade do pecado. O sim humilde da escuta obediente de Maria, toda ouvidos à Palavra que vibra nas mais íntimas fibras do seu coração, contrasta com o não arrogante e desobediente do par humano, que faz orelhas moucas às palavras loucas de Deus. Este contraste entre a santidade de Maria e o pecado das origens estimula-nos a este desafio, no âmbito da nossa dinâmica pastoral: limpar os sapatos, para sair da lama do pecado, o que pressupõe limpar os ouvidos, para escutar com humildade. Permitam-me expor estas duas imagens que se completam: limpar os sapatos e limpar os ouvidos.

1. Limpa os teus sapatos!A minha mãe dizia que nada estaria limpo em nós se os nossos sapatos estivessem sujos. Isto trouxe-me à mente uma visão de Santa Hildegarda. Descreve esta mística alemã: «No ano de 1170, estive durante longo tempo doente na cama. Então, física e mentalmente acordada, vi uma mulher de uma beleza tal que a mente humana não é capaz de compreender. A sua figura erguia-se da terra até ao céu. O seu rosto brilhava com um esplendor sublime. O seu olhar estava voltado para o céu. Trajava um vestido luminoso e fulgurante de seda branca e um manto guarnecido de pedras preciosas. Nos pés, calçava sapatos de ónix. Mas o seu rosto estava salpicado de pó, o seu vestido estava rasgado do lado direito. Também o manto perdera a sua beleza singular e os seus sapatos estavam sujos por cima. Com voz alta e pesarosa, a mulher gritou para o céu: “Escuta, ó céu: o meu rosto está manchado! Aflige-te, ó terra: o meu vestido está rasgado! Treme, ó abismo: os meus sapatos estão sujos”. Era uma visão da impureza da Igreja, que, em vez de se apresentar ao mundo como Esposa de Cristo, santa, pura e imaculada, à imagem de Maria, tinha os sapatos sujos, porque muitos, a começar pelos ministros da Igreja, – dizia a Mulher –“sujam os meus sapatos, porquenão caminham por estradas direitas, nem dão bom exemplo”. Irmãos e irmãs, esta visão parece dizer-nos: não se limpam os sapatos nem se lavam os pés lavando as mãos, como Pilatos, da nossa responsabilidade, acusando a mulher ou culpando os outros de todas as desgraças. Não há outra maneira de limpar os sapatos do que sujar as mãos na luta por uma Igreja mais santa. E por onde começar a limpeza da Igreja? Pelos outros? Não. Começo a limpeza da Igreja por mim, limpando os sapatos dos meus passos mal andados!

2. Limpa os teus ouvidos! É importante saber escutar, de ouvid0s limpos, sem a cera e a pressa das respostas tipo pronto a vestir. Em tempo de Sínodo, para falar com coragem é preciso aprender a escutar com humildade. E para escutar com humildade é preciso libertar a mente e o coração de preconceitos, de ideias feitas e contrafeitas sobre aqueles a quem escutámos, que funcionam como ruídos na comunicação. Para escutar com humildade, não se pode emprenhar pelos ouvidos; é preciso ter os ouvidos limpos, prontos a acolher, mesmo sem compreender o que os outros nos dizem, como um modo através do qual o Espírito Santo nos pode falar. Uma Igreja sinodal é uma Igreja onde todos se escutam: cada um à escuta dos outros e todos à escuta do Espírito Santo. Maria, no seu silêncio fecundo, ensina-nos a escutar Deus, até ouvir com Ele o grito do seu povo e a escutar o povo, até ressoar nele a vontade de Deus. Não insonorizemos o coração, não nos blindemos nas nossas certezas. Escutemo-nos, mais e melhor.

3. Neste itinerário sinodal, interroga-te sinceramente: Como estás quanto à escuta? Como funciona o ouvido do teu coração? Em família e na Igreja, a quem dás mais ouvidos? Deixas que as pessoas se exprimam até ao fim? A quem não tens prestado a atenção devida? Dás ouvidos à Igreja? Sentes que a Igreja te dá ouvidos?

Neste Advento de 2021, aproxima-te de alguém, inclina o ouvido do teu coração, ao jeito de Maria, e diz ao teu irmão mais ignorado, à tua irmã menos atendida: Eis-me aqui. Sou todo(a) ouvidos para ti!

Pés ao caminho. Juntos pelo Natal.Este é o lema da nossa dinâmica pastoral, para um Natal em modo sinodal. E o caminho faz-se caminhando. Pelo que, hoje, o desafio é este: Usa os teus sapatos. Desbrava caminhos! A Liturgia deste II Domingo do Advento recorda-nos a figura de João Batista, que prepara o caminho do Senhor. Prepara-o, não sentado no conforto do Templo ou do Palácio, mas sujando os pés e as sandálias no pó do deserto. É ali, no deserto da solidão, onde não há quase nada, que João Batista se faz voz da Palavra, que hoje quer chegar também ao teu, ao meu, ao nosso coração.

Pés ao caminho. Juntos pelo Natal”. Este será o lema da nossa dinâmica pastoral, desde o início do Advento até à Festa do Batismo do Senhor. Para dar início a este caminhar juntos, em família, em comunidade cristã, de mãos dadas, com todos os irmãos e irmãs deste mundo, o desafio primeiro que se nos coloca é este: levantarmo-nos do chão, erguermos a cabeça para o alto, deixarmos as pantufas e o conforto do sofá e calçarmos um par de sapatos!  Queremos dar a esta bela caminhada um estilo sinodal, para aprendermos a percorrer juntos o caminho que Deus nos chama a fazer, em família, em Igreja, no nosso mundo. Porque caminhamos sempre juntos e à luz do Senhor, que vem até nós atravessando as espessas nuvens do nosso tempo, acendemos agora a 1.ª vela da Coroa do Advento.

Concluímos hoje o ano litúrgico, com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A liturgia deste domingo convida-nos a contemplar o rosto humano e divino de Jesus, aclamado como o Filho do homem. Ele é o Rei do Universo, mas reina a partir da Cruz, naquele amor com que nos atrai para o Pai. Com Cristo, Rei e Senhor, aprendemos que o poder de Deus não se manifesta no uso da violência armada, mas no amor com que nos acolhe, nos perdoa e abraça a todos. Com Ele aprendemos que reinar é servir. É este o Seu modo de reinar: Ele não reina dominando-nos, mas atraindo-nos no Seu amor.

Pobres, sempre os tereis entre vós” (Mc 14,7). Do óbolo da pobre viúva, exaltada por Jesus no Evangelho do domingo passado, à celebração do 5.º Dia Mundial dos Pobres, neste penúltimo domingo do ano litúrgico, permanece bem atual o convite de Jesus a não perder de vista a oportunidade de fazer o bem. Não há melhor forma de garantir o futuro do que viver bem o presente. A Palavra de Deus, neste domingo, é mais um sinal de alerta vermelho, de redobrada atenção, não porque o fim do mundo esteja próximo, mas porque é urgente lutar por um mundo novo. Deixemo-nos interpelar por esta espécie de “Plano de Recuperação e Resiliência”, que a Palavra de Deus nos oferece para esta mudança de época.

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