Homilia no 5.º Domingo Comum A 2023
Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo!
1. Vós sois o sal da Terra. Esta nossa Terra, de tantas feridas abertas, precisa do sal, do bálsamo do amor, que arde e cura! Esta nossa Terra, de gente cansada, precisa do sabor e da alegria do Evangelho, que dê outro gosto e outra alegria à vida. Esta Terra, a nossa Casa Comum, explorada por tantos interesses mesquinhos, precisa do sal que a preserve da corrupção que escraviza. Mas, para isso, nós próprios, os discípulos de Jesus, precisamos de ter sal em nós mesmos! Mais sal e talvez menos açúcar. A atitude festiva, a ternura, a fantasia, a criatividade e o gozo de partilhar a vida encontram-se praticamente em estado de coma! Parece vivermos hoje uma espécie de anemia da vida interior, uma fé cansada e sem graça, que nos impede de viver a vida, de maneira mais intensa, criativa, gozosa e fecunda! Não se tornou, de facto, muito insossa a nossa fé? Onde está o sal dos cristãos? Onde estão os cristãos capazes de contagiar os outros com o seu entusiasmo? Precisamos de descobrir que a fé é «sal», porque nos dá uma outra sabedoria, um tempero novo, uma outra alegria, que torna a vida mais bela, gostosa e apetecível. Em vez de um cristianismo, mais açucarado ou descafeinado, ponhamos mais uma pitada de sal na nossa vida cristã, uma força de juventude, para que este sal novo nos livre de nos tornarmos cristãos mortiços, amorfos, com cara de vinagre, de funeral ou de 7.º dia. Sejamos, antes, essa pequena porção de cristãos que, misturados no meio da nossa terra como o sal na comida, são capazes de fazer toda a diferença!
2. Vós sois a Luz do mundo. O nosso mundo, envolto nas trevas da tristeza, da guerra, da indiferença, precisa de ver a Luz de Cristo, refletida no rosto e na vida dos cristãos. Não retenhamos, nem escondamos a luz da fé, na sombra dos nossos espaços individuais. Façamo-la resplandecer no mundo, dando-a aos outros, mediante a prática das boas obras. Se não iluminarmos ninguém, também nos apagaremos a nós. “Uma fé que não se apega, apaga-se” (Pe. António Vieira)! Pelo contrário, quanto mais ilumina… mais a luz da fé se reforça e irradia. Precisamos de cristãos iluminados e luminosos, radiantes e irradiantes, quais vitrais refletores da Luz que recebem de Cristo. Deus nos livre de cristãos apagados, sem luz, sem o brilho da fé nos olhos e a luz do amor em duas mãos cheias de boas obras!
3. Sal e luz. Sim. Mas Jesus diz mais: sal da Terra… e não sal para si mesmo; Luz do mundo e não luz para consumo próprio. Sal e luz, escondidos, de nada servem. Mas deles depende a qualidade da nossa Terra, a vida do nosso mundo. Par isso, devem os cristãos sair da sua zona de conforto, sair de si mesmos, misturar-se nos ambientes, sem se confundir com o mundanismo que corrompe. Saiamos, pois, por toda a parte, para dar sabor e curar a vida triste e ferida de tantas pessoas. Saiamos, iluminados pelo Evangelho, para que nenhuma periferia fique privada desta luz! Mais vale acender uma luz do que maldizer a escuridão!
4. Irmãos e irmãs: na sua intenção de oração para este mês, o Papa Francisco recorda-nos a missão das Paróquias, que não devem fechar-se sobre si mesmas, antes deveriam ter à porta um letreiro a dizer: Entrada livre. As paróquias devem “voltar a ser escolas de serviço e de generosidade, com as suas portas sempre abertas aos excluídos e aos incluídos, a todos”, diríamos nós, portas abertas às crianças que choram e fazem ruído na celebração, sem o olhar de censura dos outros; portas abertas às pessoas com deficiência, sem o entrave dos que conhecem os cantos da casa; portas abertas aos que não vêm sempre e aos que vêm de vez em quando, sem topar à entrada com uma cara de poucos amigos. “As paróquias não são um clube para poucos. Por favor, sejamos ousados”, criativos, felizes, bem-dispostos. Haja sal, haja luz nesta Casa, na nossa vida. Haja a saborosa alegria do Evangelho. Haja a luminosa presença de Jesus: a partir daqui para a Terra inteira, a partir de ti para todo o Mundo!