Liturgia e Homilias no 7.º Domingo do Tempo Comum A 2023
Destaque

Continuamos, com Jesus, no alto da montanha. Passo a passo, Jesus convida-nos a ir sempre mais alto e mais além, no caminho do amor. Um caminho de não violência, num amor sem limites! É difícil resistir ao terramoto interior que as Suas palavras fazem estremecer dentro de nós, sobretudo depois de uma semana de tantas e tristes revelações, que nos abalaram! Mais do que querer dar a volta ao texto, deixemos que o texto nos dê a volta a nós. E reconheçamos diante do Senhor que, a única saída limpa para a Igreja passa pelo caminho da santidade.

Homilia no VII Domingo Comum A 2023

1.“Sede santos, porque Eu, o vosso Deus, sou Santo” (Lv 19,2). “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).O Templo de Deus é Santo e esse Templo sois vós” (1 Cor 3,17). O Papa Francisco diz-nos que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja” (GE 9). Eis a grande bitola da vida cristã, sem meias medidas, sem condescendências, sem descontos, nem promoções. Jesus desafia-nos a superar a lógica dos mínimos da Lei e a acender no coração a luz dos máximos do Amor.

2. Confesso que todas estas palavras, tão belas, ainda nos ferem mais, depois de uma semana tenebrosa, como aquela que vivemos. Todavia, estes apelos de santidade são, ao mesmo tempo, uma luz sobre os escombros do terramoto interior que abalou o coração da Igreja em Portugal, que golpeou duramente os nossos corações crentes. A comunicação do relatório dos abusos sexuais de membros da Igreja em Portugal, ao longo de 70 anos, escancarou o pior da miséria da nossa condição humana, o fedor insuportável do pecado, a tal ponto que, ao escutar os relatos, só me ocorria dizer: “isto não lembra ao Diabo”. Mas o mistério do mal esteve e está aí, desenfaixado, exposto, com feridas que são verdadeiras crateras de uma miséria incomensurável, a céu aberto, com vidas completamente destroçadas. A nossa dor nem sequer tem comparação possível com a dor das vítimas, pelo mal feito, e – mais ainda – pelo mal encoberto, pelo mal à solta.

3.Perante tudo isto, alguns opinadores apontaram rapidamente à Igreja alguns caminhos de saída. Uns são caminhos de conversão, de humildade, de perdão, de reparação, de transformação, de arrepio, de fidelidade ao Evangelho, de intolerância total ao mal, de apego à santidade, estamos de acordo! Outros são atalhos para mundanizar ainda mais a Igreja, para normalizar a vida dos padres, para desvirtuar a vida consagrada, o que na prática é vender de vez a alma ao diabo. A única saída limpa da Igreja é a busca incessante da santidade. Esta santidade de que falamos não é o perfecionismo humano, nem a superioridade moral de uma casta sacerdotal ou de consagrados, em que pretensos anjos rapidamente se tornam bestas. Não. A santidade não é o ideal de uma vida heroica e estoica, reservada a alguns campeões da resistência e da renúncia. Não. Voltar à santidade é mergulhar e enraizar a nossa fragilidade na força da vida divina, da oração, da comunhão íntima com o Senhor. Sem Ele nada podemos fazer. Só na comunhão com Deus é que pode brotar, na ferida da nossa própria humanidade, este fruto da santidade. Neste caminho da santidade, a medida do que tenho a fazer não vem de mim, nem do outro, nem de nós: vem de Deus. Por isso, a regra da santidade é esta: “Faz aos outros o que Deus te faz a ti; ou, faz pelos outros o que Deus faz por ti”. Como Deus age contigo, assim deves agir e reagir com os outros. Ser santo não é ser especial ou genial; não é ser um pouco melhor e, muito menos, julgar-se melhor do que os outros. Na verdade, Deus não quer homens e mulheres melhores! Deus quer que sejamos plenamente humanos, isto é, santos.

4. Irmãos e irmãs: estamos às portas da Quaresma. Independentemente dos programas diocesanos, paroquiais ou pessoais, o nosso testemunho de santidade nos próximos tempos vai passar muito por isto: reagir com humilde mansidão e compreensão do coração às críticas, justas e injustas, certas e desmedidas, bem e mal-educadas. O nosso caminho de santidade vai passar, não por exibir os méritos da Igreja (que certamente os tem), não por defender, com unhas e dentes a instituição, não por desistir da Igreja que amamos, mas por chorar a dor dos feridos, por suportar esta vergonha, por pedir perdão, por olhar e agir com misericórdia. É importante que centremos a nossa fé em Cristo, Crucificado e Ressuscitado, que nos agarremos bem a Ele. Que a profunda tristeza que nos invade não chegue a corroer os nossos corações, mas nos mova e converta à santidade. Que as lágrimas da nossa penitência lavem o rosto tão sujo desta Igreja que somos, para que rebrilhe nela, de novo, o esplendor e a beleza da santidade de Deus.

 

 

 

 

 

 

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