Liturgia e Homilias no 4.º domingo do Tempo Comum A 2023
Destaque

Irmãos e irmãs: desde este domingo e até ao início da Quaresma, iremos escutar, a partir do Evangelho segundo São Mateus, o chamado «Sermão da Montanha». Hoje vamos ouvir a parte mais bela e feliz deste Discurso. Jesus apresenta-nos as Bem-aventuranças! Jesus felicita-nos, pelo facto de sermos seus discípulos e porque assim o reinado do amor de Deus, pode encher de alegria o nosso coração! Ele quer-nos felizes. Que essa felicidade possa ser experimentada desde já, e aqui, no encontro com Ele, para acolhermos e testemunharmos a todos a alegria do Evangelho e a alegria de evangelizar.

Homilia no IV Domingo Comum A 2022

 

1. As bem-aventuranças são o autorretrato de Jesus, o Homem novo, o ser humano no seu melhor, na plenitude da sua realização. Todavia, as bem-aventuranças correm o risco de se tornarem uma perigosa ladainha, uma espécie de «salve-rainha», que faria muito sucesso, em outros tempos, em que nos sentíamos atolados num vale de lágrimas. Tempos tão duros, em que o remédio para os males e amarguras deste mundo eram apenas um pouco de consolação e de esperança, numa recompensa reservada lá no céu. Mas nos nossos tempos de hoje, em que o ideal das pessoas não é mais o do dever cumprido, nem tampouco o de chegar à idade adulta, mas é estar em forma, ser saudável, parecer e manter-se jovem até aos 85 anos, que interesse podem ter estas bem-aventuranças? Nestes tempos em que o mercado e a economia nos convencem, todos os dias, de que “fora da juventude não há salvação”, que palavra significativa pode trazer as bem-aventuranças? Numa época em que se exalta o prazer, a liberdade e o poder, que pode dizer e oferecer o cristianismo das bem-aventuranças?

2. Eu diria, simplesmente, que a Igreja deve oferecer, proporcionar e tornar-se verdadeiramente o lugar do encontro com Cristo, que é a fonte da verdadeira alegria. Esta é a missão da Igreja: levar Jesus a todos e todos a Jesus, para que alcancem a alegria completa! Na verdade, “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1).

3. Precisamos de promover um cristianismo da alegria, daquela alegria que nasce sempre que se encontra Cristo Ressuscitado. Em vez do prazer pelo prazer, é preciso ajudar cada pessoa a descobrir a alegria de dar alegria. Em vez daquela adulterada liberdade, que nos livra dos outros, importa cultivar a liberdade que nos livra de nós mesmos e nos torna mais livres para os outros. Em vez do culto selfie da imagem e do poder, como afirmação de si mesmo, saibamos propor a mansidão, que dá espaço livre, voz e vez aos outros. Em vez da procura desenfreada do domínio dos outros, é importante exercitar-se no domínio de si mesmo, para servir o bem comum. Este cristianismo só se alcança na experiência feliz do encontro com Cristo. Não se pode falar de Jesus sem alegria, Quando falta alegria, o Evangelho não passa.

4.Cultivemos um cristianismo de alegria, nas nossas celebrações, com os seus belos cânticos e expressões, nos rostos transfigurados das nossas vidas, nas festas espontâneas e organizadas na comunidade, para levar ao mundo a Boa Notícia, a alegria do Evangelho. Esta alegria, que brota sempre do encontro pessoal com Cristo, é a melhor vacina contra o individualismo radical, que hoje aflige e crucifica o mundo.Pensai nisto: um Deus sem alegria e sem festa levaria qualquer um a pensar que, para viver alegre e em festa, se deve viver sem Deus. Não transformemos o monoteísmo, a nossa fé no Deus único, num monotoneísmo, isto é, numa fé monótona, cansada, esgotada em fórmulas gastas e repetidas, numa prática religiosa em que as missas de 7.º dia, à semana, ganham às do domingo, o 1.º dia da semana!

5.Minimizados os riscos da pandemia, com os jovens na dianteira, valorizemos cada vez mais a comunidade paroquial como lugar da festa, porque saber festejar é próprio de uma Igreja em saída (EG 24). A festa promove o encontro, a partilha, a generosidade, a permuta de dons. A festa dá uma dimensão nova ao nosso tempo quotidiano tantas vezes triste e sem graça. Talvez pudéssemos fazer uma simples pergunta final, para examinar a nossa vida cristã, à luz das bem-aventuranças: Sou feliz ou mais feliz ainda… por ser cristão?           

 

   

 

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