Oito dias depois, Jesus atravessou as portas do medo e da morte, colocou-Se no meio dos discípulos, e encheu-os de alegria. E foi para eles porto de misericórdia e de paz. Neste domingo da Oitava da Páscoa ou da Divina Misericórdia, alegra-te com o Teu amigo que triunfou do pecado, do mal e da morte. Escuta, em vários tons, o anúncio jubiloso da Páscoa.
Cristo vive. E quer-te vivo. Contempla Jesus feliz, transbordante de júbilo. Ele é o Eterno Vivente. Em Cristo, morto e ressuscitado, abriu-se para ti o porto da misericórdia e da paz. Ele é a âncora da tua esperança. O teu porto seguro. A vida em abundância. Por isso, unido a todos os redimidos, aclama o Senhor, repetindo o refrão do cântico de entrada, ao som do toque festivo e pascal das campainhas, que te despertam hoje para a feliz notícia do dia: Não está no sepulcro! Ressuscitou!
Esta é a noite do ano! A noite de todos os acontecimentos, a noite das grandes intervenções de Deus na nossa história. Estamos em vigília, em expectação noturna, para dar início à celebração do terceiro dia do Tríduo Pascal, o dia da Ressurreição. Na mais solene das vigílias, vamos proclamar a Ressurreição de Jesus, o acontecimento por excelência das grandes maravilhas de Deus operadas em nosso favor, a realização plena, em Jesus, do prometido sinal de Jonas: “Assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho três dias e três noites, assim o Filho do homem estará no ventre da terra, três dias e três noites” (Mt 12,40; cf. Lc 11,29-32). Quatro grandes liturgias darão corpo à nossa celebração: a Liturgia da Luz, a Liturgia da Palavra, a Liturgia Batismal, e, como coroamento, a Liturgia Eucarística! Porque é de noite, começamos por acender a Luz. A Luz é a primeira obra da Criação. O Presidente desta celebração irá proceder à bênção do fogo, com o qual acenderá o grande círio pascal. A partir desse círio iremos acender as nossas velas. E só depois entraremos pela porta da alegria.
Jesus rompe a espiral da violência, mostrando que a Cruz é para levar às costas e não para brandir como uma espada: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11), como quem te exorta: Aprende de Mim, que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29).Olha que “mais vale padecer por fazer o bem do que por fazer o mal” (1 Pe 3,17). Se queremos alcançar em alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, o porto da paz, convertamo-nos hoje mesmo do nosso mau caminho e de toda a violência que há ainda nas nossas mãos (cf. Jn 3,8).
De cais em cais, atracámos, por três dias, junto ao porto da misericórdia e da paz, que se abre, desde já e para todos nós, em Cristo entregue, morto e ressuscitado por nós. Aqui chegados, desta longa viagem de 40 dias, é o próprio Senhor, o Homem do leme, que nos recebe: Ele lava-nos os pés; Ele chama-nos amigos; Ele põe-nos à Sua mesa; Ele confia-nos a memória viva de todos os Seus gestos de amor.
Desde o início da Quaresma que nos propusemos viver estes 40 dias como um tempo favorável para reencontrar a rota da vida. A figura do profeta Jonas, na sua atribulada viagem, inspirou-nos a viver estes 40 dias como caminho de saída de nós mesmos, para chegarmos a bom porto, ao porto da misericórdia e da paz, que é Cristo morto e ressuscitado. Em todo o caso, é o Senhor que guia o leme da nossa vida e é Ele também a meta da nossa viagem no mundo. Ao longo do caminho, mas sobretudo nesta Semana Santa, fixaremos o nosso olhar na Cruz, porque Jesus, na Cruz, é a bússola da vida que nos orienta para o porto seguro da misericórdia e da paz.
Ainda não está à vista o porto da misericórdia e da paz; estamos ainda longe da meta e precisamos de redobrar o nosso esforço para a alcançar. Mas bendito seja o Senhor, que nos alcançou e abraça com a ternura da sua misericórdia, que supera totalmente a nossa miséria e o nosso pecado! Ele fará brotar rios de água viva na aridez da nossa vida. Lavados pelas lágrimas da penitência, cantemos as maravilhas que o seu amor realiza em nós.
Este é o domingo feliz em que somos chamados a viver a alegria do grande encontro com o amor misericordioso do Pai que nos oferece reconciliação e comunhão. Tomemos consciência de que o nosso êxodo, a nossa navegação quaresmal, só é possível porque Deus, com o Seu amor, nos acompanha com a Sua solicitude. A sua ternura paterna não violenta a nossa liberdade, antes a respeita. Mas não descansa enquanto não reconquistar o nosso afeto e nos recriar na dignidade de filhos muito amados, na alegria da Sua Mesa santa.