Homilia na Sexta-Feira Santa 2019
- 1.ª forma
“Converta-se cada um da violência que há nas suas mãos!” (Jn 3,8)
1. Assim se exprimia o decreto do rei e dos príncipes de Nínive aos habitantes daquela cidade, depois da pregação de Jonas. Podemos entreler o mesmo apelo escrito e descrito naquele Jesus que agora contemplamos proscrito na Cruz. Vede como apesar da espada da violência que Lhe desfere o golpe mortal, Jesus ordenara ao apóstolo Pedro, que então O queria defender: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11).
2. O relato da Paixão, que comovidamente acabámos de ouvir, é uma história de violência, em que Jesus, o único Justo, toma sobre Si a culpa das multidões (cf. Is 53,5-6), pondo-Se no lugar de todas as vítimas, como se anteviu profeticamente na violência física e moral sofrida, humilde e pacientemente, por aquela belíssima figura do Servo do Senhor.
3. Na Cruz passa o filme desta violência padecida por Jesus na Sua Paixão. Uma Paixão que se perpetuará até ao fim dos tempos, uma vez que Jesus, tendo penetrado os céus, continua junto do Pai a interceder e a sofrer por nós; continua a padecer e a compadecer-Se de nós. Ele padece em todas as vítimas de todas as violências, em todos os excluídos, em todos quantos são postos do lado de fora do progresso ou do poder, ou são marginalizados como impuros por causa da sua terra de origem, da sua raça, da cor da sua pele, da sua religião ou cultura.
4. Como reage então Jesus, o Servo de Deus, à violência que há nas nossas mãos? “Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, Ele não abriu a boca” (Is 53,7). Frente a Pilatos, que se deixa dominar pela violência da chantagem, frente ao poder político, mais interessado no trono do que na verdade e na justiça, Jesus sofre na pele a violência de uma cruel condenação. E assim o próprio Jesus está a dizer-te: Se, em definitivo, o teu bem-estar ou a tua incolumidade são mais importantes do que a verdade e a justiça, então vigora o domínio do mais forte; então reinarão a violência e a mentira (cf. Bento XVI, Spe salvi, n.º 38). Por isso, em vez de oferecer à nossa violência mais violência, Jesus suporta-a, carregando sobre Si todos os nossos crimes (cf. Is 53,6). O Filho de Deus, mudo e calado, identifica-Se com todos os injustiçados e silenciados, com todos os violentados de todos os tempos. Ele prefere suportar a violência a infligi-la, transformando a violência sofrida num gesto de amor, a traição numa entrega, até ao cúmulo de dar a vida por aqueles que julgavam ter poder para Lha tirar.
5. Queridos irmãos e irmãs: Jesus rompe a espiral da violência, mostrando que a Cruz é para levar às costas e não para brandir como uma espada: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11), como quem nos exorta: Converte-te do teu mau caminho e da violência que há ainda nas tuas mãos (cf. Jn 3,8). Aprende de Mim, que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29). Olha que “mais vale padecerpor fazer o bem do que por fazer o mal” (1 Pe 3,17).
6.Irmãos e irmãs: se queremos alcançar em alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, o porto da paz, convertamo-nos hoje mesmo do nosso mau caminho e de toda a violência que há ainda nas nossas mãos (cf. Jn 3,8).
Homilia na Sexta-Feira Santa 2019
– 2.ª forma (mais breve)
“Converta-se cada um da violência que há nas suas mãos!” (Jn 3,8)
1. Assim se exprimia o decreto do rei e dos príncipes de Nínive aos habitantes daquela cidade, depois da pregação de Jonas. Podemos entreler o mesmo apelo escrito e descrito naquele Jesus que agora contemplamos proscrito na Cruz. Vede como apesar da espada da violência que Lhe desfere o golpe mortal, Jesus ordenara ao apóstolo Pedro, que então O queria defender: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11).
2. O relato da Paixão, que comovidamente acabámos de ouvir é uma história de violência em que Jesus, o únicoJusto, toma sobre Si a culpa das multidões (cf. Is 53,5-6), pondo-Se no lugar de todas as vítimas, como se anteviu profeticamente na violência física e moral sofrida, humilde e pacientemente, por aquela belíssima figura do Servo do Senhor.
3. Na Cruz passa o filme desta violência padecida por Jesus na Sua Paixão. Uma Paixão que se perpetuará até ao fim dos tempos, uma vez que Jesus, tendo penetrado os céus, continua junto do Pai a interceder e a sofrer por nós; continua a padecer e a compadecer-Se de nós. Ele padece em todas as vítimas de todas as violências, em todos os excluídos, em todos quantos são postos do lado de fora do progresso ou do poder, ou são marginalizados como impuros por causa da sua terra de origem, da sua raça, da cor da sua pele, da sua religião ou cultura.
4. Como reage então Jesus, o Servo de Deus, à violência que há nas nossas mãos? “Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, Ele não abriu a boca” (Is 53,7). Frente a Pilatos, que se deixa dominar pela violência da chantagem, frente ao poder político, mais interessado no trono do que na verdade e na justiça, Jesus sofre na pele a violência de uma cruel condenação. E assim o próprio Jesus está a dizer-te: Se, em definitivo, o teu bem-estar ou a tua incolumidade são mais importantes do que a verdade e a justiça, então vigora o domínio do mais forte; então reinarão a violência e a mentira (cf. Bento XVI, Spe salvi, n.º 38).Por isso, em vez de oferecer à nossa violência mais violência, Jesus suporta-a, carregando sobre Si todos os nossos crimes (cf. Is 53,6). O Filho de Deus, mudo e calado, identifica-Se com todos os injustiçados e silenciados, com todos os violentados de todos os tempos. Ele prefere suportar a violência a infligi-la, transformando a violência sofrida num gesto de amor, a traição numa entrega, até ao cúmulo de dar a vida por aqueles que julgavam ter poder para Lha tirar.
5. Em contraste com toda esta violência eis que algumas pessoas, junto à Cruz, falam, como Jesus, a linguagem da ternura e do amor: são sobretudo as mulheres, de entre as quais sobressaem a Mãe de Jesus e Maria Magdala, e o discípulo amado. Crescem nas asperezas do caminho, pequenas flores de esperança! No jardim, onde tudo começara e onde tudo acabará, frutifica já do grão caído à terra uma pequena comunidade de amor onde reinam os mansos de coração, que trilham o caminho da não violência, para alcançar o porto da paz.
6. Queridos irmãos e irmãs: Jesus rompe a espiral da violência, mostrando que a Cruz é para levar às costas e não para brandir como uma espada: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11), como quem te exorta: Aprende de Mim, que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29).Olha que “mais vale padecer por fazer o bem do que por fazer o mal” (1 Pe 3,17). Se queremos alcançar em alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, o porto da paz, convertamo-nos hoje mesmo do nosso mau caminho e de toda a violência que há ainda nas nossas mãos (cf. Jn 3,8).
Homilia na Sexta-Feira Santa 2019
– 3.ª forma (mais longa)
“Converta-se cada um da violência que há nas suas mãos!”(Jn 3,8)
1. Assim se exprimia o decreto do rei e dos príncipes de Nínive aos habitantes daquela cidade, depois da pregação de Jonas. Podemos entreler o mesmo apelo escrito e descrito naquele Jesus que agora contemplamos proscrito na Cruz. Vede como apesar da espada da violência que Lhe desfere o golpe mortal, Jesus ordenara ao apóstolo Pedro, que então O queria defender: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11).
2. O relato da Paixão, que comovidamente acabámos de ouvir é uma história de violência em que Jesus, o único Justo, toma sobre Si a culpa das multidões (cf. Is 53,5-6), pondo-Se no lugar de todas vítimas, como se anteviu profeticamente na violência física e moral sofrida, humilde e pacientemente, por aquela belíssima figura do Servo do Senhor.
3. Na Cruz passa o filme desta violência padecida por Jesus na Sua Paixão. Uma Paixão que se perpetuará até ao fim dos tempos, uma vez que Jesus, tendo penetrado os céus, continua junto do Pai a interceder e a sofrer por nós; continua a padecer e a compadecer-Se de nós. Ele padece em todas vítimas de todas as violências, em todos os excluídos, em todos quantos são postos do lado de fora do progresso ou do poder, ou são marginalizados como impuros por causa da sua terra de origem, da sua raça, da cor da sua pele, da sua religião ou cultura.
4.Como reage então Jesus, o Servo de Deus, à violência que há nas nossas mãos? “Como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante aqueles que a tosquiam, Ele não abriu a boca” (Is 53,7). Frente a Pilatos, que se deixa dominar pela violência da chantagem, frente ao poder político, mais interessado no trono do que na verdade e na justiça, Jesus sofre na pele a violência de uma cruel condenação. E assim o próprio Jesus está a dizer-te: Se, em definitivo, o teu bem-estar ou a tua incolumidade são mais importantes do que a verdade e a justiça, então vigora o domínio do mais forte; então reinarão a violência e a mentira (cf. Bento XVI, Spe salvi, n.º 38). Por isso, em vez de oferecer à nossa violência mais violência, Jesus suporta-a, carregando sobre Si todos os nossos crimes (cf. Is 53,6). O Filho de Deus, mudo e calado, identifica-Se com todos os injustiçados e silenciados, com todos os violentados de todos os tempos. Ele prefere suportar a violência a infligi-la, transformando a violência sofrida num gesto de amor, a traição numa entrega, até ao cúmulo de dar a vida por aqueles que julgavam ter poder para Lha tirar.
5.Queridos irmãos e irmãs: Jesus rompe a espiral da violência, mostrando que a Cruz é para levar às costas e não para brandir como uma espada: “Mete a tua espada na bainha” (Jo 18,11), como quem nos exorta: Converte-te do teu mau caminho e da violência que há ainda nas tuas mãos (cf.Jn 3,8).Aprende de Mim, que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29).Olha que “mais vale padecer por fazer o bem do que por fazer o mal” (1 Pe 3,17).
6.Irmãos e irmãs: se queremos alcançar em alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, o porto da paz, convertamo-nos e abandonemos o mau caminho da violência:
[Nota: podem omitir-se, na homilia, estas dez expressões de violência ou referir-se apenas uma ou alguma delas; nesse caso, sugiro as alíneas 2, 3 e 8]
1) da violência interior, que passa rapidamente do coração às nossas frias mãosquando uma certa irritação recôndita nos põe à defesa perante os outros, como se fossem inimigos molestos a evitar ou eliminar.
2) da violência doméstica, que há nas mãos cobardesdaqueles que julgam dar um sinal de força masculina, mas que só revelam uma cobarde degradação e que se exerce hoje sobre tantas mulheres na forma de violência verbal, física e sexual e que se alastra aos maus-tratos familiares, de modo que a família, em vez de ser um porto seguro, um porto de paz, se transforma no esconderijo de um campo de sangue.
3) da violência abominável que há nas mãos paternas ou ungidasdaqueles que cometem o inominável abuso sexual das crianças, dentro da família ou de alguma comunidade cristã.
4) da violência verbal e mortal que há nas mãos escondidasdaqueles que promovem a difamação e a calúnia como um verdadeiro ato terrorista.
5) da violência virtualque há nos dedos das mãosdos que usam os meios de comunicação digital, a web, as redes sociais, para difundir o cyberbullying, a pornografia e exploração de pessoas, transformando o ambiente digital num território de solidão, de manipulação, de exploração e de violência.
6) da violência fundamentalista que há nas mãos erguidasdos perseguidores de cristãos ou daqueles que invocam o santo nome de Deus em vão, para impor as suas convicções religiosas.
7) da violência ideológica, que há nas mãos cerradasde alguns, que querem impor aos outros a própria descrença, atentando contra a liberdade religiosa.
8) da violência poluente, que há nas mãos controladorasdos donos e senhores deste mundo, que destroem a Terra e transformam o jardim da criação em deserto de pó e cinza.
9) da violência indecente que há nas mãos de ferrodos queerguem muros em vez de pontes, indiferentes à migração forçada das famílias (cf. AL 46).
10) da violência impensável, que há nas mãos fratricidasdaqueles que vivem do negócio da guerra, do terrorismo ou do crime organizado, dos raptos e do tráfico de seres humanos…
7. Irmãos e irmãs: nenhum de nós tem as mãos limpas de violência. Para todos ressoa o apelo à cidade de Nínive, onde pregou Jonas: Converte-te da violência que há nas tuas mãos (cf. Jn 3,8). E, uma vez que, de cais em cais, percorremos este caminho através do mar, para chegarmos a bom porto, deixemos que ressoe aqui também a voz de um poeta (Eugénio de Andrade), para “opor a toda a lei a graça e à violência toda a palavra do Espírito” (Veni Creator):
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.