Breve Homilia na bênção dos Ramos C 2019
-
Em pleno ano de missão, Jesus renova este mandato a dois dos Seus discípulos: “Ide à povoação que está em frente” (Lc 19,29-30.32). E eles partem, dispostos a prestar contas da sua fé, disponíveis para responder às perguntas incómodas, que outros lhes possam fazer sobre Jesus e a sua amizade com Ele. Os discípulos são assim chamados a dar aos outros as razões da sua fé, da sua esperança e do seu amor a Jesus. Depois já não serão dois, mas será toda a multidão dos discípulos, que louva o Senhor, com alegria e em alta voz, e que O aclama publicamente como seu Mestre e seu Rei. O discípulo não pode calar o amor por Jesus! Tem de O anunciar, com alegria. Porquê?
-
Porque “se estes se calarem, gritarão as pedras” (Lc 19,40): há sempre o risco de silenciarmos o que devíamos anunciar. “À semelhança de Jonas, sempre permanece latente em nós a tentação de fugir para um lugar seguro” (GE 134). Tal como Jonas, que se esconde no porão do navio para fugir à missão, quantas vezes a preguiça, o comodismo, a cobardia, a vergonha, a cumplicidade, o medo, a conveniência, o conformismo, nos podem levar a calar o que devíamos falar ou a falar demasiado de mansinho o que devíamos gritar, para abalar, mexer e incomodar.
-
Jesus vai à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém, «a cidade da paz», a mesma cidade que mata os profetas (Lc 13,34)e sobre a qual Jesus chorou, porque não soube reconhecer a via da paz (Lc 19,41-42).
Na Missa com Catequese podem ler-se apenas os pontos 4 a 6 da Homilia.
-
Fixemo-nos nesta indicação simples: o caminho para a chegar ao porto da paz é o caminho da não violência, da mansidão, do perdão. Por isso, Jesus não entra na cidade com cavalos de guerra, mas num jumentinho, como Rei manso e humilde de coração (Zc 9,9).
-
Que os nossos ramos de oliveira agitados sinalizem, como o ramo no bico da pomba de Noé (Gn 8,11), que a barca da nossa viagem só chegará ao porto da paz se cada um, tal como a povoação de Nínive, se “converter do seu mau caminho e da violência, que há nas suas mãos” (Jn 3,8).
- À imagem de Jesus, aprendamos a defender a fé e as nossas convicções (1 Pe 3,16), aprendamos a suportar os defeitos dos outros e as possíveis agressões com humilde mansidão (GE 74). Também isto é atracar no cais da misericórdia e condição indispensável para alcançar o porto da paz.
Homilia no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor C 2019
- Escutámos esta longa narrativa da Paixão, não como quem assiste a um filme de ação ou de ficção. Não. O que se espera do discípulo que escuta esta história de dor e de amor, é que volte para casa, batendo no peito, reconhecendo-se um pecador, que foi salvo por grande preço, foi salvo por amor, foi salvo pelo Sangue de Cristo. Nesta história não há inocentes. O único Justo, três vezes inocente, é Jesus (Lc 23,13.15.22).
- Desta reação, desta conversão ao amor, dá-nos conta São Lucas quando nos diz que, no caminho da Cruz, seguia Jesus “uma grande multidão do povo e mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele” (Lc 23,27)”. E a terminar, conclui com esta observação comovente: “Toda a multidão que tinha assistido àquele espetáculo, ao ver o que se passava, regressava batendo no peito” (Lc 23,48). A contemplação da Cruz deve, por isso, conduzir-nos à conversão. E a conversão é o nosso passaporte para embarcar no cais da misericórdia e do perdão, que Jesus nos oferece no coração do Pai. Na Cruz não pagamos, como Jonas, o preço da passagem (cf. Jn 1,3), para alcançarmos o porto da misericórdia. “O seu perdão e a sua salvação não são uma coisa que comprámos ou que tenhamos de adquirir com as nossas obras ou com os nossos esforços. Ele perdoa-nos e liberta-nos de graça. A sua entrega na Cruz é uma coisa tão grande que nós não podemos nem a devemos pagar, só temos de recebê-la com uma gratidão imensa e com a alegria de termos sido tão amados antes ainda de o podermos imaginar: «Ele amou-nos primeiro»” (Christus vivit, n.º 121).
- Querido irmão, querida irmã: nesta Semana Santa não fiques, como Jonas, a leste da cidade, à sombra de um rícino (Jn 4,5), a ver os navios passar! Entra no cais da misericórdia, permanece firme à sombra da árvore da Cruz. “Olha os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar uma e outra vez” (Christus vivit, n.º 123). Regressa hoje a tua casa, “batendo no peito” (Lc 23,48). Converte-te do teu mau caminho e da violência que há ainda nas tuas mãos (cf. Jn 3,9), se queres alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, o porto da misericórdia e a cidade da paz