Em pleno mês de agosto, o mês da mobilidade, das viagens e peregrinações, das férias e deslocações, iniciamos também a Semana Nacional das Migrações e dos Refugiados, tendo Abraão, nosso pai na fé, como figura histórica de referência, nesta busca errante de uma terra prometida. Ele é a imagem do crente peregrino e do crente que acolhe Deus, na pessoa do outro. Comecemos por reconhecer os nossos medos, fugas e indiferenças em relação aos últimos das nossas sociedades, a quem devíamos justamente dar o primeiro lugar.
A iniciar o mês deagosto, vêm a contragosto as advertências do sábio Coelet, do apóstolo Paulo e do único Mestre, que é Jesus Cristo. Talvez estivéssemos à espera, em tempo de férias, de uma Palavra mais suave, mais deslizante. Mas não. A Liturgia da Palavra não nos vende ilusões de verão e enche de sabedoria o nosso coração. Pela insensatez em que, tantas vezes, caímos, invoquemos a misericórdia do Senhor:
“Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). É a prece do discípulo, que não pode seguir Jesus, até ao fundo, se não entrar na relação profunda de Jesus com o Pai. A Oração do Pai-Nosso, que Jesus ensina, não é mais uma oração no catálogo da piedade. É uma Catequese sobre o modo de rezar dos discípulos, que hão de aprender a fazer da oração um tratado de amizade, com a confiança de filhos, que esperam o melhor do Pai.
Também Jesus, com fome e sede, peregrino, no caminho para Jerusalém, precisa do pão e da água, da sombra e da frescura, da tenda, para restaurar as forças e prosseguir o caminho para Jerusalém. Para isso, Jesus entra em casa de Marta e de Maria, como os três personagens na tenda de Abraão. É Cristo, hóspede e peregrino, que aguarda o nosso convite para entrar e ficar. A nós, como a Abraão e aos discípulos de Emaús, compete-nos estar atentos e dizer: «Não passeis adiante, sem parar... sem ficar connosco»... porque todos precisamos de«pão para restaurar as forças, antes de continuar o caminho».
Com o verão a aquecer e as férias à porta, o Evangelho faz-nos parar na beira da estrada. Não para ficarmos à sombra, mas para nos fazer estender a mão a quem mais precisa. A parábola do bom samaritano exalta a compaixão de um estrangeiro e denuncia a indiferença de dois homens, ligados ao culto do templo de Jerusalém. Na certeza de que o Senhor, o Bom Samaritano, usa de misericórdia para connosco, deixemo-nos misericordiar por Ele, para nos tornarmos misericordiosos como o Pai.
Peregrinos da Cidade Santa, exultamos de alegria ao entrar na Casa do Senhor. Aqui experimentamos a ternura de Deus, no coração da Igreja, nossa mãe. A Igreja, a nova Jerusalém, é verdadeiramente a «mãe» que nos acolhe, gera e dá à luz através do Batismo, que nos perfuma e embeleza com a unção do Espírito e nos alimenta e faz crescer com o Pão da Eucaristia. Esta Igreja é a mãe que nos conforta, consola e acompanha, com paciência e misericórdia, através da Palavra e dos sacramentos. E, como mãe, faz-nos sair de casa, em missão, pelo mundo. Deixemo-nos, pois, alcançar pela misericórdia do Senhor, que é fonte de paz.
Primeiro está o Senhor e por isso deixámos tudo para O seguir e responder ao Seu convite. Primeiro está o Senhor e por isso nada nos demoveu de sair de casa e vir ao Seu encontro. Levantámo-nos dos nossos afazeres e pusemo-nos a Caminho, sem nada opor ou antepor a Cristo. Ao iniciarmos esta celebração, assumimos a nossa condição de caminheiros da fé, de discípulos missionários, que seguem Jesus para onde quer que Ele vá e O anunciam com alegria, em cada dia.
Viemos aqui, atraídos por Jesus, para estar com Ele, para escutar a Sua Palavra, para O servir e seguir, com todo o nosso ser, em todos os dias da nossa vida. É a partir da alegria deste encontro com Ele, na oração, na escuta da Sua Palavra e no Pão da Eucaristia, que cresce a nossa amizade com Cristo, que se alimenta a nossa vida cristã e que se fortalece a nossa missão. Deixemo-nos, desde já, mover e comover por este olhar de Cristo, trespassado na Cruz, para que o Senhor nos lave o pecado e de toda a impureza do nosso coração.