Homilia no XII Domingo Comum C 2019
Chegou o verão, com todas as suas promessas de diversão, a alegria dos arraiais dos santos populares, a loucura dos festivais, mas ainda há exames para fazer, avaliações por realizar. E Jesus também não nos promete boa vida nem reforma antecipada. Chama-nos à Sua presença, para uma prova de aferição quanto ao nosso grau de conhecimento e de amizade à Sua pessoa. Mas, porque este domingo é também «véspera de São João», não vos quero estragar a festa. Apenas retomar o Evangelho para recapitular o lema programático deste Ano Missionário: “Todos, tudo e sempre em missão”. Três palavras simples:
Todos… Curiosamente, o mesmo Jesus que chamou apenas os discípulos para estarem com Ele, na intimidade da oração, dirige-Se finalmente a todos! O Seu ensinamento, o dizer de Jesus, não é para as elites, para um grupo de iluminados. É para todos. A escola do seguimento de Jesus está aberta a todos, ricos e pobres, bons e maus, especialistas e ignorantes. Todos são chamados a escutá-l’O e a segui-l’O. Todos discípulos, porque Ele quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade e a saborear a amizade com Ele. Todos. Por isso, não há numerus clausus que limitem a entrada. Portanto, se Ele Se dirige a todos, também Se dirige a ti e, por meio de ti, a todos os outros. É preciso convidar e envolver a todos, sem excluir ninguém, quer como sujeitos, quer como destinatários da missão! Todos discípulos missionários!
Tudo… Nada menos que tudo! O discípulo não é um voluntário a prazo: é-o na sua totalidade, na inteireza do seu ser! Não se segue Jesus só com a cabeça e as mãos atadas, ou com as mãos abertas e as pernas cruzadas. É a pessoa toda que põe a vida toda em jogo, ao seguir Jesus. Não se pode mais ser discípulo de Jesus a meio gás, a meio-termo, ou da boca para fora! Por isso, seguir Jesus implica renunciar a si mesmo, sair de si próprio, entregar a vida inteira. Não se pode seguir Jesus com as “sobras”, porque Ele Se entregou a Si mesmo por nós (cf. Ef 5,2)e por mim (cf. Gl 2,20). Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Dar o supérfluo deixa intacta a vida! Só o dom total de nós mesmos pode transformar a nossa vida. Jesus parece dizer-te: “Se não podes ser perfeito sê inteiro, no que dizes, no que fazes, no teu amor por Mim”. A esta luz, “a missão não é uma parte da minha vida ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser se não me quero destruir” (EG 273). Dêmos tudo por tudo. Porque “o Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados” (GE 1).
E sempre em missão! Outra nota típica de Lucas é que a vida cristã é coisa quotidiana. Seguir Jesus e anunciá-l’O não é só para alguns dias de festa. Não se pode ter pausas nem fazer intervalos, na vida cristã e na missão, nem sequer no tempo do verão. Neste horizonte, a missão não é apenas para “uma colónia de férias”, um tempo especial de voluntariado; é para todos os dias. Na missão, que é a própria vida, não há lugar para intervalos, para contratos a prazo, porque esta é sempre e somente um “trabalho de amor” (1 Ts 1,3),sem termo e sem condições! A opção por seguir Jesus e irradiar a luz da Sua presença não se faz apenas num belo dia do Batismo, da Primeira Comunhão, da Profissão de Fé, do Crisma, da Ordenação ou do Matrimónio. É preciso dizer “sim” em cada dia, retomar e refazer este “sim” em todos os dias da nossa vida, sejam eles cinzentos ou luminosos, quer chova, quer faça sol. Custe o que custar. Sou sempre uma missão!
Irmãos e irmãs, tudo isto poderia começar por algo de vital para a missão: não nos esquecermos de celebrar o domingo como o dia do Senhor e o senhor dos dias. Que sinal expressivo da amizade e da fidelidade a Jesus é este de viver em pleno o Seu dia grande, para O seguir no resto dos dias da nossa vida! Precisamente da Missa somos enviados todos, tudo e sempre em Missão!