Homilia no II Domingo da Páscoa C 2019
“Cristo, morto e ressuscitado, Porto da Misericórdia e da Paz”! Com este lema, chegámos à Páscoa de 2019, que agora celebramos, ao longo de cinquentas dias. Neste domingo, dentro da Oitava da Páscoa, que São João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, a Liturgia da Palavra permite-nos recapitular, em jeito de síntese, a meta desta nossa caminhada. Façamo-lo em três breves palavras:
1. A 1.ª Palavra é esta:Cristo, morto e ressuscitado, é o Eterno Vivente! Escutávamo-lo na 2.ª leitura, na voz do Ressuscitado: “Eu sou o Primeiro e o Último, Aquele-que-vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1,18). Esta é a mais bela e surpreendente notícia que o mais jovem apóstolo tem hoje para ti: “Cristo vive e quer-te vivo” (Christus vivit, n.º1). Devemos voltar a recordá-lo, com muita frequência, como o anúncio fundamental, pois “corremos o risco de tomar Jesus Cristo, apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como alguém que nos salvou há dois mil anos. Isso não nos serviria de nada, deixar-nos-ia iguais, não nos libertaria. Aquele que nos enche com a sua graça, aquele que nos liberta, aquele que nos transforma, aquele que nos cura e nos consola é alguém que vive” (Ibidem, n.º 124). Ele não é um retornado, uma réplica ou uma relíquia do passado! Ele é o eterno Vivente. Ele está vivo e vive para sempre. Ele está contigo e nunca Se vai embora. Mas não esqueças: Ele permanece como o Crucificado. Ele identifica-Se com todos os feridos e com todas as feridas da humanidade; não Se descarta dos que estão na provação, no sofrimento e no luto. Por isso, é que nós continuamos a anunciar um “Cristo, morto e ressuscitado”! Vede como o fizemos na Visita Pascal: nós anunciámos Cristo Vivo e Ressuscitado, mas dando a beijar a imagem do Cristo Crucificado!Celebremos então a Páscoa, como gente viva e ressuscitada, que continua a seguir o Crucificado, e não se deixa abater nem lamentar, antes se deixa animar e renovar continuamente por Ele!
2. A 2.ª Palavra é esta:Cristo é o nosso Porto da Misericórdia! São Tomé tinha razão:um Deus glorioso e distante, que na Sua glória e na Sua vitória, não tivesse as marcas da nossa dor e do nosso sofrimento, de nada nos valeria! Também nós somos desafiados, como Tomé, a tocar e a contemplar estas chagas do Ressuscitado, porque são as chagas da Sua misericórdia, pelas quais fomos curados(cf. 1 Pe 2,24). As chagas de Cristo, morto e ressuscitado, são como que fendas abertas pelas quais podemos entrar e atracar no Seu coração, que é o verdadeiro porto da misericórdia, o único lugar seguro em que estamos definitivamente a salvo. Celebremos então a Páscoa, difundindo sem medida o perfume da Sua misericórdia, tocando a carne sofredora de Cristo nos mais pobres e sós!
3. A 3.ª palavra é esta:Cristo é o nosso Porto da Paz!Anota o Evangelho, e por duas vezes, que “Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco»” (Jo 20,19.26), ou talvez ainda melhor: “A paz está convosco”. Esta Paz é Ele mesmo, no meio dos Seus discípulos. Jesus vem, uma e outra vez, à sala da Última Ceia, não para um ajuste de contas com o passado, não para ignorar ou branquear as fraquezas, negações e traições dos discípulos, mas para lhes oferecer o perdão e assim a Paz.Com o dom do perdão, não se trata de encobrir ou enfaixar o pecado; mas de o ajudar a encarar e a assumir, pois aquilo que não é assumido não pode ser redimido! Com este dom do perdão, Jesus recria o coração dos Seus discípulos. E eles podem doravante assumir o seu pecado e recordar o seu passado, mas agora sob o olhar misericordioso do Senhor, que os liberta da culpa e lhes pacifica os corações, pois “só quem é amado pode ser salvo. Só quem é abraçado pode ser transformado” (Christus vivit, n.º 120).
Atracados, por fim, em Cristo, morto e ressuscitado, Porto da Paz, celebremos, reconciliados com tudo e com todos, esta Páscoa, anunciando o essencial da nossa fé: “Deus ama-te. Cristo salva-te. Cristo vive e quer-te vivo. Aleluia”.