Neste dia (Nesta noite) de Natal, colocamos, em letras douradas, na Estrela da Fraternidade, a palavra IDENTIDADE. Num ano em que alguns chegaram a ter a presunção de «salvar o Natal», nós queremos dizer que a música do Natal é outra: é a de um Deus que nos salva a nós, enviando ao mundo o Seu Filho Único, cheio de graça e de verdade. E que nos diz aquele Menino, nascido para nós, da Virgem Maria? Qual é a mensagem universal do Natal? Diz-nos que Deus é um Pai bom e, em Cristo, nós somos todos filhos de Deus, todos irmãos. Deste nascimento do Verbo, que Se fez Carne e veio habitar entre nós, brota a nossa filiação divina, a nossa dignidade de pessoas, a nossa fraternidade humana. Para afirmar e cultivar esta fraternidade, outros beberão de outras fontes. Para nós, este manancial de dignidade e de fraternidade humanas está no Natal de Jesus Cristo. Que esta melodia da Boa Nova do Nascimento do Salvador ressoe por toda a parte e a Estrela nos guie ao seu encontro.

Todos irmãos. Todos de casa! É com os de casa, é como irmãos, e mais do que com os irmãos, que somos desafiados a viver este Natal que se aproxima. Natal em casa, Natal por casa, Natal com os de casa. A nós, que preparámos a nossa casa e construímos o Presépio, para em nossa casa deixar nascer o Menino, Deus faz-nos agora saber, pela boca do profeta, como outrora a David: “O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa” (2 Sm 7,11). Não se trata de uma edificação, de uma moradia. Trata-se de sermos nós próprios a própria casa que Deus constrói como sua morada. Trata-se de sermos, ao jeito de Maria, a casa que O acolhe e recolhe, com amor.

Todos irmãos. Todos de casa! Pode ser que não venham a estar todos os irmãos em casa, neste Natal que se aproxima. Pode ser que estejam muitos em casa e não sejam ainda de casa. Pode ser que a proximidade física não signifique comunhão pessoal. E pode ser que o distanciamento físico promova uma proximidade real, que contagie de amor e torne real e viral o nosso Natal. João Batista está aí, a lembrar-nos que a proximidade não se mede aos palmos e que é preciso endireitar o caminho do Senhor, seguindo a Estrela que para lá nos guia. João Batista não quer ser a Estrela comercial deste Natal. Não tem vocação para vedeta, nem sequer se acha um profeta. Não se tem na conta de salvador da pátria, nem tem a pretensão salvar o Natal de 2020. Este enviado de Deus não vem para ficar e reclamar o seu lugar na história. Vem para preparar e dar lugar ao verdadeiro Messias e Senhor: Jesus Cristo.

Todos irmãos. Todos de casa. Sob este lema, vivemos o Advento, na expetativa da vinda do Senhor. Neste terceiro dia da segunda semana do domingo do Advento, celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição, pondo os olhos em Maria, a quem Deus escolheu para ser a digna morada de Seu Filho. Que quer dizer «Imaculada Conceição»? Quer dizer que não houve momento nenhum da existência de Maria, em que ela não fosse cheia de graça, inteiramente santa, sem mancha de pecado. Ela foi sempre fiel ao amor de Deus; Ela disse-Lhe sempre «sim». Por isso, Ela é a nossa Estrela da Santidade.

Todos de casa. Todos irmãos. O nosso Advento não vai no vento do confinamento. O uso da máscara é o nosso instrumento de vigilância; o distanciamento físico é oportunidade de um olhar mais atento; o recolhimento obrigatório é exercício de deserto. A solidão abre-nos a uma palavra e a um gesto de consolação. O Deus da paciência fala-nos hoje ao coração. Neste 2.º domingo do Advento, colocamos, na Estrela da Fraternidade, a palavra AMABILIDADE. Em períodos de crise, de situações catastróficas, em momentos difíceis, quando aflora o espírito do «salve-se quem puder», somos desafiados a cultivar a amabilidade; há pessoas que o conseguem, tornando-se estrelas no meio da escuridão e da solidão.

Todos irmãos. Todos de casa. Todos irmãos é o propósito que nos guia, desde este primeiro Domingo do Advento até à conclusão do tempo do Natal, com a Festa do Batismo do Senhor. Ao longo destas 10 celebrações, iremos aprofundar a consciência e a experiência, a graça e a exigência, desta fraternidade humana e cristã. Esta fraternidade tem a sua raiz no amor do Pai, que enviou ao mundo o Seu Filho e assim nos fez irmãos. Todos de casaé o ideal que sonhamos para cada pessoa, que habita a nossa Casa Comum, seja a Casa da família, seja a casa da Igreja, seja o mundo em que vivemos. A família, a Igreja e o mundo ganham “quando cada pessoa, cada grupo, se sente verdadeiramente de casa” (FT 230).

Este é o último domingo do ano litúrgico. Um ano atravessado pelo espesso nevoeiro de uma pandemia que ainda persiste. Entre mortos e feridos não é legítimo passar ao largo, para não ver o irmão ferido e tratar as suas feridas. No fim da vida, o balanço será feito pela balança do amor que tivermos uns pelos outros. A parábola do juízo final, que vamos escutar, dá-nos já as perguntas do exame final, o protocolo de entrada no Reino, com a certeza de que o amor aos pobres é o nosso passaporte para o Céu. Deixemo-nos, desde já, mover pelo amor de Deus, para que a Sua misericórdia nos converta em irmãos, próximos e cuidadores uns dos outros.

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