O ano litúrgico caminha para o fim, em direção à plenitude da Vida, que só no Senhor poderemos encontrar. Enquanto esperamos «o dia do Senhor», o dia da Sua última vinda definitiva e do nosso encontro definitivo com Ele, cabe-nos vigiar, estar atentos, sóbrios, diligentes, fazendo render todos os talentos, que o Senhor nos confia. Não nos deixemos iludir quando disserem «paz e segurança», porque subitamente irrompe, de forma inesperada, a pandemia da COVID-19, que deixa a descoberto as nossas falsas seguranças. Neste domingo, 4.º Dia Mundial dos Pobres, o exemplo vem de uma mulher virtuosa (Pr 31,20)e o desafio é feito por um homem sábio, que nos dá o código da felicidade: “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7,32). Estendamos, desde já, a nossa mão a Deus, suplicando perdão pelas vezes em que não a estendemos aos irmãos. 

Jesus chamou os que queria e foram ter com Ele” (Mc 13,3)! Este é o lema da Semana de Oração pelos Seminários, que se conclui neste 32.º Domingo Comum. Esta prontidão da resposta, para ir ao encontro do Senhor, é o que espera Cristo, o Esposo, quando nos chama a estar com Ele, para entrar na intimidade do Seu amor por nós. A cada um Ele pede que não deixemos esmorecer o desejo, que não deixemos apagar-se a chama e o fogo desta chamada. Ao forte brado, que nos acorda do sono, “eis o Esposo; ide ao seu encontro” (Mt 25,1-13),levantemo-nos imediatamente com as candeias da fé, da esperança e do amor bem acesas. Que esta Eucaristia, que anuncia a Páscoa do Senhor até que Ele venha, nos ajude a reacender as candeias da fé e da esperança e a encher de alegria a almotolia do amor, para amar e servir o Senhor.

 

Ontem não pudemos ser fiéis à bela tradição popular de uma romagem ao cemitério, para uma oração comunitária, para o gesto terno de colocar flores e acender uma vela sobre os restos mortais de um familiar. São gestos simples, que antecipávamos para o dia feliz de Todos os Santos. Na flor está o sinal promissorda vida nova que florirá daquele corpo lançado à terra como o grão de trigo. Na vela entrevemos o esplendor da luz perpétua, a partir daquela vida que se consumiu até ao fim, para ser consumada e ateada no fogo daquele amor que não acaba. Mas, graças a Deus, podemos ainda rezar por eles. Isso pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua oração em nosso favor. Mas mais e acima de tudo isto, podemos celebrar juntos a Eucaristia, em comunhão com todos os nossos irmãos e irmãs. «A Igreja oferece pelos defuntos o sacrifício eucarístico da Páscoa de Cristo, a fim de que, pela mútua comunhão entre todos os membros do Corpo de Cristo, se alcance para uns o auxílio espiritual e para outros consolação e esperança»(IGMR 379).Que esta celebração “aumente em nós a esperança de que os nossos irmãos e irmãs, chamados a ser pedras vivas do templo eterno de Deus, ressuscitarão gloriosamente com Cristo” (cf. Ritual das Exéquias, n.º 97).

A alegria deste domingo, dia da Ressurreição, é coroada com a beleza da esperança que celebramos nesta Solenidade de Todos os Santos. A vida dos santos serve-nos de exemplo, no seguimento feliz de Jesus. Na comunhão com os santos formamos uma família. Junto de Deus, os santos intercedem por nós, para que possamos vencer o bom combate da fé e receber com eles a coroa da vida eterna.  Esta é, pois, uma celebração que nos diz respeito a todos e a cada um. Diz respeito a todos os batizados, que foram santificados e regenerados em Cristo! Diz respeito a cada um, escolhido pelo Senhor “para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor” (cf. Ef 1,4). O nosso coração eleva-se hoje para esta medida alta da vida cristã comum, quando se vê rodeado por uma nuvem de testemunhas, “que nos estimulam a correr para a meta” (GE 3). São os santos, de antigamente e de longe, mas também os santos de hoje e de “ao pé da porta, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (GE 7).Os santos foram o que nós somos e nós somos chamados a ser o que eles foram.

Jesus continua sob interrogatório e a surpreender-nos com as suas respostas. Da política ao catecismo, os fariseus experimentam Jesus, em todas as matérias. Agora, a pergunta a Jesus é sobre qual o principal mandamento, de entre os 613 preceitos que os judeus multiplicaram a partir dos 10 mandamentos! Jesus recorda-nos o amor a Deus e ao próximo, como duas faces da mesma moeda, pondo diante de nós o rosto de Deus e a face do irmão. Ambos provêm do mesmo Amor com que Deus primeiro nos amou. Amar a Deus e amar o próximo não é mais do que responder ou corresponder a esse primeiro amor. Por isso, movidos pelo amor de Deus, deixemo-nos converter ao Deus vivo e verdadeiro.

Celebramos hoje o Dia Mundial das Missões. Neste ano, marcado pela pandemia da covid-19, o caminho missionário, que diz respeito a todos os batizados, inspira-se na resposta pronta e generosa do profeta Isaías ao Senhor: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6,8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor, dirigida hoje a cada um: «Quem enviarei?» (Ibid.). Este chamamento provém do coração de Deus, a quem pertence a nossa vida, por inteiro. Na verdade, somos imagem de Deus (Gn 2,27)e trazemos inscrita e tatuada no coração esta divisa amorosa: «Eu pertenço ao Senhor» (Is 44,5). Somos d’Ele. E n’Ele somos dados aos irmãos. “A missão que Deus confia a cada um faz-nos passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si mesmo aos irmãos”.

Somos felizes, porque somos convidados para a mesa do Senhor. À mesa da família, em nossa casa, ou à mesa da Eucaristia, na nossa Casa comum, celebramos a alegria do amor em família, a alegria do amor de Deus por nós. Na Eucaristia, participamos no banquete nupcial, em que o próprio Filho Se oferece no Seu amor por nós. O nosso Deus é um Deus da alegria, do amor, da dança e da abundância, do banquete e da festa, da convivialidade e da comunhão. Celebremos, à mesa do Senhor. Revistamo-nos, desde já, do traje nupcial, da alegria do amor e da comunhão, para participarmos dignamente do banquete eucarístico.

Estamos a concluir, neste 1.º domingo de outubro, ainda com cheiro e sabor a colheitas e vindimas, os dias do chamado “Tempo da Criação”. Os cuidados primorosos da vinha, de que nos fala a Liturgia da Palavra deste domingo, recordam-nos o trabalho do amor com que Deus cuida de nós, na esperança dos melhores frutos. Esta vinha pode ser, para nós, a imagem da nossa Casa comum, da nossa família, da nossa Igreja e até da Criação inteira, que somos chamados a cuidar com a ternura de um jardineiro e a paciência de um vinhateiro. Passado o tempo das vindimas, deixemos Deus espremer a nossa vida, para vermos, com verdade, os frutos que Lhe oferecemos. Pois é «pelos frutos» (Mt 7,15)que os discípulos de Jesus são conhecidos.

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