HOMILIA NA FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR 2021
1. Ali, naquele grande Templo, dá-se o encontro e a aliança de várias gerações, onde não faltam a esperança alegre de uma criança, a felicidade irradiante dos pais e a sabedoria luminosa dos anciãos! “A cena mostra-nos este entrelaçamento de três gerações: Simeão segura nos braços o menino Jesus, em Quem reconhece o Messias, e Ana é representada, no gesto de louvar a Deus e anunciar a salvação a quem esperava a redenção de Israel. Estes dois anciãos representam aqui a fé, como memória” (Papa Francisco, Discurso, 26.10.2013), que se transmite de geração em geração! Neste sentido, o dom dos anciãos, na Igreja, é o de serem testemunhas da tradição da fé, da sabedoria e do temor do Senhor.
2. Dizia-nos no passado domingo o Papa Francisco: “O Espírito Santo ainda hoje suscita pensamentos e palavras de sabedoria nos idosos: a sua voz é preciosa porque canta os louvores de Deus e conserva as raízes dos povos. Eles recordam-nos que a velhice é um dom e que os avós são a ligação entre as gerações, para transmitir aos jovens a experiência da vida e da fé. Os avós são muitas vezes esquecidos e nós esquecemos esta riqueza de preservar as raízes e de as transmitir. Por esta razão, - disse anteontem o Papa Francisco- decidi instituir o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que terá lugar na Igreja inteira todos os anos no quarto domingo de julho, na proximidade da festa dos Santos Joaquim e Ana, os «avós» de Jesus. É importante que os avós se encontrem com os netos e que os netos se encontrem com os avós, porque - como diz o profeta Joel - os avós diante dos netos sonharão, terão ilusões [grandes desejos], e os jovens, haurindo força dos avós, seguirão em frente, profetizarão. E precisamente a 2 de fevereiro é a festa do encontro dos avós com os netos” (Angelus, 31.1.2021).Recorde-se que um dos percursos propostos pelo Ano Família Amoris laetitia é desenvolver uma pastoral dos idosos (cf. AL 191-193) que vise superar a cultura do descarte e a indiferença e a promover propostas transversais em relação às diferentes idades da vida, tornando também os idosos protagonistas da pastoral comunitária.
3. Esta é, portanto, uma festa, para o reconhecimento dos anciãos! Uma festa, que nos desafia a pensar, como são tratados hoje os nossos avós e bisavós. Muitas vezes vivem como que “«exilados» ou escondidos, dentro das próprias famílias! Quantas vezes são tratados como presenças incómodas” (Papa Francisco, Angelus, 29 de dezembro 2013), proibidos de falar. Pratica-se hoje, com os anciãos uma espécie de “eutanásia cultural”, em que lhes é negada a oportunidade de falar, de agir, de intervir na própria família (cf. Papa Francisco, Discurso, 25.07.2913). E eu pergunto-vos: “Vós ouvis os avós? Abris o vosso coração àquela memória, que os avós vos dão? Os avós são a sabedora da família, são a sabedoria de um povo. E um povo que não ouve os avós é um povo que morre! Ouçamos os avós!” (Papa Francisco, Discurso, 26.10.2013).
4. Exorto-vos, sobretudo aos mais novos, a acolherdes a palavra sábia dos idosos, a cuidardes deles com amor e generosidade. Um idoso em casa, é uma biblioteca viva! “A Igreja – e podia dizer-se o nosso mundo – é uma canoa, na qual os idosos ajudam a manter a rota, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força, imaginando o que os espera mais além” (Christus vivit, 201). Por isso, diz um provérbio egípcio: «Se não houver um idoso na tua casa, compra-o, porque ser-te-á de proveito».Por isso, recomenda a sabedoria antiga de Israel: «Frequenta a companhia dos anciãos, e, se encontrares algum sábio faz-te amigo dele» (Ecl 6, 34). O Senhor nos dê a graça de um verdadeiro encontro, de uma nova aliança entre gerações!