Movidos pela Estrela que brilha no amor” damos mais um passo no caminho para Belém. Depois de Maria, que acolheu com prontidão e alegria a inesperada vinda do Senhor, João Batista, no deserto, desafia-nos a preparar o caminho do Senhor. 

Assim como a estrela da manhã precede o nascer do sol, assim também Maria, desde a sua Conceição imaculada, precedeu a vinda do Salvador, o nascer do Sol da justiça” (São João Paulo II, Redemptoris Mater, n.º 3).

Faremos deste tempo uma caminhada, um movimento de saída rumo ao Presépio de Belém, onde, na simplicidade de uma casa da periferia, entre uma mãe e um pai, cheios de fé e de amor, brilha a Estrela Maior, Jesus Cristo, o verdadeiro Sol Nascente

Homilia no 1.º Domingo do Advento – Ano B 2017

 

1.O dono da casa partiu de viagem e deu-nos plenos poderes, atribuindo a cada um a sua tarefa! Entre a primeira e a última vinda do Senhor, ficamos nós, “sempre alerta”, atentos e vigilantes, ativos e comprometidos, até ao Seu regresso, no final dos tempos. Não nos podemos descuidar, nem distrair, nem anestesiar ou adormecer, no cuidado permanente desta Casa, que é a casa de cada um, ou a casa da nossa Igreja, ou mesmo o mundo, nossa casa comum. Não nos comportemos como “os donos disto tudo”. Ele permanece comoo Senhor da Casa.

 

2.O que nos cabe é fazermos da nossa casa, da nossa comunidade, do nosso mundo, uma “verdadeira casa de família”, tal como a sonhou o nosso Bispo, antes de partir para a sua última viagem!Ele queria fazer crescer a Igreja do Porto como “Casa de Família”. E, na peugada do Papa Francisco, desafiou-nos a oferecer ao mundo “o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”. São seis características que brilham, de modo único, no Presépio de Belém, e que nos inspiram ao longo destas seis semanas, passo a passo, de modo que deixem a sua marca, quais pegadas impressas nesta caminhada. Nesta primeira semana, caminhemos guiados pela Estrela que brilha numa Casa, numa família, numa Igreja, quando é… fiel.

3. Fidelidade é, pois, a primeira característica de uma Casa bem guardada. Cabe-nos, pois, cuidar dela, todos os dias, com amor, sem cair na tentação de “deixar andar” ou “não querer saber”. Pelo contrário, somos chamados a ser fiéis e a sê-lo hoje de modo criativo e persistente, sem desanimar, sem descair, permanecendo firmes nos nossos propósitos, nos nossos deveres quotidianos e nos compromissos assumidos, na fidelidade à palavra dada. “A fidelidade no tempo é o nome do amor” (Bento XVI, Discurso, Fátima, 12.05.2010). Por isso, esta fidelidade exige grande atenção aos sinais de risco, de deterioração, de embotamento dos sentidos, que o passar do tempo pode fazer surgir.

4. A fidelidade, por exemplo, na vida dos casais, exige enorme perseverança e criatividade, atenções diárias e surpresas marcantes, para resistir à erosão do tempo. “Não é possível a nenhum dos esposos prometer que terão os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podem ter um projeto comum estável, comprometer-se a amarem-se e a viverem unidos, até que a morte os separe, e viver sempre uma rica intimidade” (AL 163), mesmo quando a atração física não é a mesma, mas o olhar do amor é capaz de ver a beleza do outro. Quem ama e quer permanecer fiel precisa de ter sempre “um porteiro de vigia”, à porta do seu coração, para impedir infiltrações perigosas que vêm para destruir, e deixar entrar apenas aquilo que vem por bem, para edificar e consolidar. Para isso, precisa o casal, ao acordar e ao deitar, de renovar todos os dias o seu «sim» e de se confiar à ajuda do Senhor, rezando: «Dai-nos, Senhor, o amor nosso de cada dia».

5. Mas esta vigilância, que serve de guarda à fidelidade, deve também estender-se à atenção da família em relação aos filhos mais novos (cf. AL 260-261). Não como um policiamento, uma fiscalização, uma obsessão! Não. Mas é preciso saber onde estão os filhos! Por onde andam? Por onde navegam os seus pensamentos e convicções? Por quem se agita o seu coração? Como se divertem? O que é que os move?... Obviamente, não é possível aos pais ter o controlo de todas as situações, mas é seu dever criar um clima de afeto, de diálogo, de proximidade, que eduque os filhos na autonomia responsável de uma liberdade bem orientada; é necessário alertá-los para saberem enfrentar os perigos da noite, as situações de risco, de agressões, de abuso ou de consumo de droga. Não deixeis de vigiar e de velar pelos vossos filhos, de os acompanhar de perto e ao longe!

Irmãos e irmãs: a noite é o tempo em que é preciso ter os olhos bem abertos e não se deixar vencer pelo sono! O que digo aos casais e aos pais, digo-o a mim, às crianças e aos jovens e aos demais, que querem fazer brilhar a fidelidade, no amor: vigiai! A fidelidade faz do relâmpago uma claridade e da faísca uma luz!

Este é o último domingo do ano litúrgico. E, no final de um ano litúrgico, os nossos olhos estão postos no fim, «quando Cristo entregar o Reino a Deus, seu Pai». Somos confrontados por esta escolha: viver para ter na Terra… ou dar para ganhar o Céu. 

 

Igreja Mãe e Igreja Esposa. Para isso, deverá começar por ser Igreja Mulher, de género e de génio feminino, à imagem da Mulher forte que o livro dos Provérbios nos retrata, com os traços de uma diligência atenta e pronta para o serviço e no seu amor concreto aos mais pobres. 

«Aí vem o Esposo; ide ao seu encontro»! Se há oito dias meditávamos na Igreja como Mãe, hoje somos desafiados a contemplá-la como Esposa de Cristo. 

«Aí vem o Esposo; ide ao seu encontro»! Se há oito dias meditávamos na Igreja como Mãe, hoje somos desafiados a contemplá-la como Esposa de Cristo. 

Movidos pelo amor de Deus, somos chamados a edificar uma Igreja de rosto materno, “como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar” e os educa pela força do seu exemplo de uma vida dada até ao fim. Reunidos pela Igreja-Mãe, revivemos a nossa consciência e a nossa experiência de filhos de Deus, à volta da mesa da Eucaristia. 

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