Liturgia e Homilias no XIII Domingo Comum B 2018
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As mulheres abrem-nos o Evangelho”, escreve o Padre Tolentino, o tal padre português que foi escolhido pelo Papa para cuidar dos arquivos do Vaticano. E o Evangelho deste domingo é, a esse título, absolutamente exemplar. Comecemos por reconhecer a nossa miséria e a nossa indigência, para que o Senhor nos cure com o toque da Sua ternura e misericórdia e nos enriqueça com a Sua pobreza, para que tenhamos vida e vida em abundância.

Homilia no XIII Domingo Comum B 2018

 

1. São Paulo não entra no rol dos santos populares e por isso não tem direito à moedinha na cascata! Mas olhem que o Apóstolo dos gentios não é pobre a pedir! Começa por captar a benevolência dos coríntios com um rasgado elogio, para depois os desafiar a sobressair em generosidade, na coleta organizada por ele a favor da Igreja de Jerusalém. Os coríntios, ricos em tudo, não podiam ficar atrás dos pobres macedónios, que se excederam na partilha dos bens. Deste modo, Paulo pretende que entre os cristãos haja igualdade “e não haja ninguém que sofra por falta do necessário” (DCE 25b).

2. Ora, o lugar privilegiado para o exercício desta partilha de bens, expressão da comunhão e da caridade, é a Eucaristia. A Eucaristia é, desde bem cedo, o lugar por excelência da prática da beneficência e da caridade social. Diz Paulo aos coríntios: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar” (1 Cor 16,2). Assim ficamos a saber que, «desde o princípio, com o pão e o vinho para a Eucaristia, os cristãos trazem as suas ofertas para a partilha com os necessitados. Este costume, sempre atual, da oferta e apresentação dos dons, inspira-se no exemplo de Cristo, que Se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza» (CIC, 1351). É esse precioso exemplo de Cristo que Paulo coloca como modelo inspirador da partilha. Noutro passo da carta aos coríntios, o apóstolo Paulo qualifica como «indigna» de uma comunidade cristã a participação na Ceia do Senhor, que se verifique num contexto de indiferença pelos pobres (cf. 1 Cor 11,17-22.27-34).

3. Apesar de ainda não se falar de um rito da apresentação dos dons (a que vulgarmente chamamos «ofertório») é essencial constatar que acoleta para os pobres na celebração dominical não é um intervalo, um “à parte”, mas sim um verdadeiro ato litúrgico, pelos quais os cristãos unem a sua oferta (a de si mesmos e a do que é seu) à oblação de Cristo ao Pai, por todos nós. São Justino (em meados do séc. II)refere como prática habitual, associada à Eucaristia, a partilha de bens: «Os que vivem em abundância e querem repartir, dão, cada um o que lhe apraz e parece bem. E o que se recolhe é deposto aos pés daquele que preside, e ele, por seu turno, presta assistência a todos os que sofrem necessidade» (Apologia I, 67, 6). Sabemos que até ao séc. IX, os fiéis levavam para a igreja os dons destinados aos pobres. Destes dons separavam-se o pão e o vinho, para a Eucaristia. Assim a oferta a Deus e aos pobres formavam um único ato de oferecimento, com o mesmo valor sacrificial.

4. É desta prática antiga que resulta o nosso atual “ofertório”. Com o desaparecimento da troca direta, a entrega em géneros foi substituída pela oferta em dinheiro. Mas infelizmente, com isso, perdemos também o sentido cristão desta partilha, no momento do ofertório, quantas vezes reduzido a um famigerado “peditório”, a uma espécie de rito expiatório da nossa má consciência com os pobres. Por isso, desde o Ano da Misericórdia, instituímos a recolha em géneros e em dinheiro, no 1.º domingo de cada mês, para acudir à indigência dos irmãos, de modo que o Povo de Deus compreenda a relação entre a Eucaristia e a caridade, entre o pão partido da Eucaristia e o pão repartido pelos pobres.

5. É, pois, tempo de acabarmos com o vergonhoso ou envergonhado “peditório”, e fazermos desta partilha dos bens e da apresentação dos dons um único e verdadeiro “ofertório”, uma inteira oblação de nós mesmos, uma oblação do que somos e temos, um sacrifício agradável a Deus, “para a glória do Seu nome, para nosso bem e de toda a santa Igreja”.

 

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