Homilia na Solenidade do Nascimento de São João Batista 2018
1. Celebrar a criação do mundo
Da bola ao balão, do Mundial de Futebol ao São João, com o mês de junho chegou a alegria e a folia do verão. E São João bem se goza dos benefícios do tempo quente, com festa rija, na noite mais curta do ano. De resto, o mês de junhotem uma carga tradicional de tempo festivo, já antes do cristianismo. Na Idade Média, julgava-se que os fogos acesos na noite mais curta do ano tinham efeitos curativos e preventivos, tanto para os humanos, como para os animais. Havia a crença popular de que as águas e certas ervas recolhidas na noite de São João tinham poderes extraordinários. Mas, para um cristão, celebrar a chegada do verão exprime sobretudo uma atitude de gratidão pela variedade das estações que permite a regeneração da Criação. «Vós criastes os elementos do mundo, estabelecendo o curso dos tempos e as estações do ano» (Prefácio Comum V), assim reza a Liturgia. Não é preciso, de facto, recorrer a velhas superstições, para, como João, perceber a novidade do tempo de Jesus Cristo. E celebrar o ciclo das estações, como sinal da «admirável Providência» com que «Deus ordena a evolução dos tempos» (Prefácio Comum IX). A Solenidade do Nascimento de São João, no princípio do verão, é, por isso, estímulo a celebrar o dom da Criação e a gozar, agradecido, dos seus frutos maduros. Pois «Deus viu que tudo era bom» (Gn 1,10.12.18.21.25).
2. Celebrar a criação do ser humano
Mas esta Solenidade, mesmo que naturalmente projetando-nos na contemplação gozosa da criação do mundo, está centrada no mistério do nascimento de uma criatura humana, neste caso, de João Batista. E todo o clima de alegria, que gira à volta do santo popular, vem exatamente daí: do dom da vida, da alegria de nascer e de vir a este mundo. «Quando Isabel teve um filho, os seus vizinhos e parentes partilhavam da sua alegria» (Lc 1,58). Esta é, de facto, a maior maravilha da Criação: o nascimento de um menino. «Eu vos dou graças por me haverdes feito tão maravilhosamente: admiráveis são as vossas obras», exclama o salmista, extasiado ao contemplar a grandeza do Homem, a quem se destina toda a Criação. E a quem a Criação do mundo é confiada, como dom e missão. Por isso, entre todas as obras de Deus, a mais sublime, porque criada à Sua imagem e semelhança, é a do ser humano. Então «Deus viu que era muito bom» (Gn 1,31). É bom ter nascido. É bom saber que somos amados antes ainda de nascer.Não somos filhos do acaso. Somos fruto de um pensamento amoroso de Deus!
3. Celebrar a Festa da Vida
Alegremo-nos, pois, com o nascimento de João Batista (Lc 1,14).E aprendamos, com ele, «a saltar de alegria» (Lc 1,41)pelo dom da vida. Aprendamos "a saborear simplesmente as múltiplas alegrias humanas que o Criador já coloca no nosso caminho: a alegria exaltante da existência e da vida; a alegria do amor casto e santificado; a alegria pacificadora da natureza e do silêncio; a alegria, às vezes austera, do trabalho cuidadoso; a alegria e satisfação do dever cumprido; a alegria transparente da pureza, do serviço, da participação; a alegria exigente do sacrifício" (Paulo VI, Gaudete in Domino, 1). Celebremos, neste nascimento, a Festa da Vida! E viva a alegria dos santos, que partilho convosco, em jeito de quadra são-joanina:
Gira a bola e sobe o balão.
O verão trouxe alegria e sol.
E vem lembrar-nos o São João:
“Há vida, p’ra além do futebol”!
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Homilia na Festa da Vida – 8.º Ano 2018
1.«Quem virá a ser este menino» (Lc 1,66)?
Diante do mistério da Vida e perante o nascimento dum novo ser humano, a nossa reação primeira é de espanto, de maravilhamento, de encantamento, de agradecimento. Reconhecemos aí a presença invisível de Deus que, desde o seio materno, nos ama e nos chama pelo nome! A esse respeito, o Salmo 138 (139) é um autêntico hino à vida!“Prodigiosa ciência que não posso compreender. Tão sublime que a não posso alcançar. Vós formastes as entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe. Eu Vos dou graças por me terdes feito tão maravilhosamente”.Não somos filhos do acaso. Somos fruto de um pensamento amoroso de Deus!
2.«Quem virá a ser este menino» (Lc 1,66)?
Mas, simultaneamente, põe-se a pergunta: que vai ser desta vida? Qual o seu percurso? Qual o seu futuro? Qual o seu sentido e finalidade? Os pais devem saber que não transmitem plenamente a vida aos filhos, se, com a vida, não transmitem um sentido para ela. Porque a vida é dom e graça, apelo e vocação, chamamento e resposta, dom que se faz dom. Queridos adolescentes: “Esta fase da vida em que vos encontrais impõe-vos algumas opções decisivas: a especialização nos estudos, a orientação no trabalho, o próprio compromisso que se tem de assumir na sociedade e na Igreja. É importante tomar consciência que, de entre as muitas questões que emergem no vosso espírito, as mais decisivas não dizem respeito a «que coisa». A pergunta fundamental é «quem»: ir para «quem», «quem» seguir, a «quem» entregar a própria vida” (São João Paulo II, Homilia na Jornada Mundial da Juventude 2000).De certo modo, o que conta não é o que vou fazer na minha vida, que profissão vou ter, mas o que vou fazerda minha vida. A vida é dom que se recebe e só se merece quando se torna um dom que se oferece.
3.«Quem virá a ser este menino» (Lc 1,66)?
Dirijo-me agora a vós,queridos pais: não deixeis sozinhos os vossos filhos diante das grandes escolhas da vida! Sem obsessão pelo controlo absoluto, vigiai atentamente e alertai-os para as situações de risco, ao mesmo tempo que os ajudais a crescer numa autonomia que os abre aos outros e numa liberdade que os responsabiliza. Não vos interesse tanto localizar fisicamente os vossos filhos, com a pergunta invasiva “Onde estás?”, mas importa sobretudo que saibais onde está realmente a sua alma, por onde anda a sua cabeça, por onde “pára” o seu coração. E sobretudo neste dia, peço-vos com insistência: guiai os vossos filhos na direção da autêntica alegria. Educai-os "para saborearem simplesmente as múltiplas alegrias humanas que o Criador já coloca no seu caminho: a alegria exaltante da existência e da vida; a alegria do amor casto; a alegria pacificadora da natureza e do silêncio; a alegria, às vezes austera, do trabalho cuidadoso; a alegria e satisfação do dever cumprido; a alegria transparente da pureza, do serviço, da participação; a alegria exigente do sacrifício" (Beato Paulo VI, Gaudete in Domino, n.º 1).
4.«Quem virá a ser este menino» (Lc 1,66)?
Queridosadolescentes: “O facto de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado hoje a refletir sobre esta realidade: «Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo» (EG, n.º 273)” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2018).Ou dito de modo mais simples: “Não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão” (Papa Francisco, GE 27).Na verdade,viver com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio.Sereis realmente felizes se fizeres da vida um dom recebido para se tornar um dom oferecido!
Então a vossa vida tornar-se-á uma Festa que vale a pena viver, celebrar e agradecer com imensa alegria!