Homilia no IV Domingo da Quaresma C 2019
1. Dois irmãos muito parecidos entre si e nada parecidos com o Pai! Em que é que os dois se parecem afinal? Um e outro não conhecem o Pai. O mais novo vê o Pai como um entrave à sua autonomia, pede-lhe a herança, como se já estivesse morto. Foge para longe da casa do Pai. E quando decide regressar – abençoadas bolotas – quer apenas ser tratado como um trabalhador, a quem o patrão paga o salário devido; não espera receber de graça o amor do Pai. O outro, o mais velho, perde-se dentro da própria casa, vendo o Pai como um patrão, de quem espera apenas a recompensa pelo serviço, pelo desempenho e pela obediência. Custa aos dois aceitar a condição de filhos e deixar-se converter pelo amor do Pai.
2. O Pai é, na parábola, o verdadeiro cais do encontro. Não conheço mais bela radiografia do coração de Deus do que esta do Pai, que nos vê ao longe e nos recebe num abraço interminável de amor, num excesso de misericórdia, que cobre tudo sem cobrar nada. Este Pai não tem mãos a medir, nem para medir. Este excesso de amor espelha a misericórdia do Pai. O Pai oferece o perdão, isto é, o dom perfeito, e faz a festa porque vê o regresso do filho mais novo como um reencontro, uma nova páscoa, o parto de uma nova criatura (cf. 2 Cor 5,17): “estava perdido e foi encontrado, estava morto e voltou à vida” (cf. Lc 15,27.32). Depois, este Pai sai ao encontro do filho mais velho, para que este supere a lógica do dever, do “deve e haver”; para que se assuma como filho e aceite o irmão. Para o Pai, um e outro são filhos; não são assalariados; um e outros são amados, não em função dos seus méritos, mas sim pela grandeza infinita do amor paterno. Este Pai – afinal o Pai que está nos Céus – anseia a plena revelação dos Seus filhos como filhos de Deus (cf. Rm 8,19).
3. Voltamos assim, e quase sem querer, à história de Jonas, que inspira esta caminhada, de cais em cais, até cair de vez nos braços e abraços do Pai, como nosso verdadeiro cais de encontro e porto de abrigo.
3.1. Revejo na figura do filho mais novo aquele Jonas que, à primeira chamada, foge para Társis, para bem longe de Deus, até vir a cair em si, no meio da tempestade, e perceber que a sua fuga é causa de dor de todos aqueles que tem à sua volta.
3.2. Mas a figura de Jonas é «a cara chapada» do filho mais velho. Também Jonas, ressentido e mal-humorado, sente profundo desagrado e fica irritado por Deus ser misericordioso e clemente, paciente e cheio de bondade; sente pena de um rícino que nasce numa noite e numa noite morre, mas não compreende que Deus que Se compadeça de Nínive, onde há mais de 120 mil pessoas que não distinguem a mão direita da mão esquerda (cf. Jn 4,10-11). A este Jonas – como ao filho mais velho, teimoso e rígido, que não compreende a misericórdia do Pai – Deus poderia ter dito: «Desenrasca-te com a tua rigidez e fica para aí com a tua teimosia». Mas não. Humilda-se, sai ao seu encontro, vai ter com Jonas para o instar, para o converter ao Seu amor. Porque é o Deus que não teme perder estatuto para ganhar os Seus filhos.
4. Irmãos e irmãs: li há dias um livro com o sugestivo título: “Jonas convertido”. Aqui na parábola, como no Livro de Jonas, não sabemos se o filho mais velho ou o profeta recalcitrante, entraram no cais do encontro e da festa. A decisão é nossa, é minha, é tua. Queremos ser filhos de um deus menor, que só conhece a justiça? Ou queremos viver como filhos de um Deus a quem podemos chamar “nosso Pai”? Queremos viver como filhos de Deus ou não passamos de enteados do Altíssimo?
5. Aproveitemos, sem resistir nem hesitar, esta segunda tábua de salvação, este largo abraço da misericórdia divina, que o Sacramento da Reconciliação nos oferece, no tempo da Quaresma, para entrarmos no cais do encontro e participarmos no banquete festivo da Páscoa, que já se adivinha no horizonte. Não tenhamos medo de atracar decididamente nos braços do Pai como nosso cais de encontro, para alcançar em Cristo, morto e ressuscitado, “o porto da misericórdia e da paz” (Prefácio da Quaresma VI).
Homilia no IV Domingo da Quaresma C 2019 | Festa do Pai-Nosso | 2.º Ano
1. Aqui temos dois irmãos muito parecidos entre si e nada parecidos com o Pai! Em que é que os dois se parecem afinal? Um e outro não conhecem o Pai. O mais novo foge para longe da casa do Pai. E quando decide regressar quer apenas ser tratado como um trabalhador; não espera receber de graça o amor do Pai. O outro, o mais velho, perde-se dentro da própria casa, vê o Pai como um patrão, de quem espera apenas a recompensa pelo serviço, pelo desempenho e pela obediência. Custa aos dois aceitar a sua bela condição de filhos e viver como irmãos.
2. O Pai é o verdadeiro cais do encontro. O Pai oferece o perdão e faz a festa porque vê o regresso do filho mais novo como um novo nascimento. Este Pai sai ao encontro do filho mais velho, para que aceite o irmão. Para o Pai, um e outro são filhos; não são assalariados; um e outros são amados, não porque merecem, mas porque é grande o seu coração de Pai; é como que um infinito mar de amor.
3. Com esta parábola, Jesus mostra-nos o que queria dizer quando rezava a Deus e Lhe chamava “Abbá”, que quer dizer “paizinho”, “papá”, e dizia-o com a mesma ternura com que cada um de vós dirá “papá” ou “mamã”. Na verdade, o Pai daquela parábola tem modos de agir que recordam muito o coração de uma mãe, porque são sobretudo as mães que perdoam os filhos, que os defendem, que continuam a amar mesmo quando eles já não mereceriam mais nada. Isto quer dizer uma coisa muito bela: Deus procura-te mesmo que tu não O procures. Deus ama-te ainda que tu O tenhas esquecido. Deus é não só um Pai, mas é como uma mãe, que nunca deixa de amar a sua criatura. Por isso, podemos sempre voltar a Ele, como filhos, como quem regressa ao cais do encontro e dizer-Lhe uma só palavra: “Abbá”, “Papá”, “Paizinho”. Tu dizes-lhe: “Pai” e Ele responder-te-á: “Filho, tudo o que é meu é teu” (Lc 15,31). Esta será sempre a Sua resposta! Nunca vos esqueçais, todos os dias, em todas as horas, de dizer e de rezar como Jesus: “Abbá, ó Pai”, para vos tornardes verdadeiramente filhos de Deus.