Abraça o presente de Natal. É Cristo vivo. Com este desafio, chegámos depressa e com a pressa de Maria e dos Pastores a esta celebração anual do Natal do Senhor. Não para fazer de conta que o Menino Jesus nasce, por magia, neste dia 25 de dezembro. Não sequer é nosso propósito, fazer uma festa de anos ao Menino, a troco de um conto de meninos que, por sinal, parece ter envelhecido e ganhou barbas brancas na figura do Pai Natal. Não. Não é esse o nosso Natal. Nós celebramos o Natal de Jesus, em cada ano, porque tal acontecimento inaudito, pelo qual Deus veio até nós e assumiu a nossa humanidade, não pertence ao passado. Tem lugar no hoje e no aqui da nossa vida. Não é mais um aniversário que se repete. É um acontecimento que se renova em cada pessoa, que vem a este mundo, criada à imagem e semelhança de Deus, e por isso, capaz de amar e digna de ser amada, de ser abraçada pelo Seu amor.

A oito dias da celebração do nascimento de Jesus, multiplicam-se os votos e desejos de boas festas, preparam-se e partilham-se tantos presentes. E renascem, à volta da chamada «magia do Natal», os sonhos de um tempo novo, de uma vida nova, de uma humanidade mais fraterna, de um mundo de paz. A Liturgia deste Domingo faz-nos entrar, não na falsa magia do Natal sentimental, mas no sonho de Deus, que, por sinal, precisa de nós e do abraço do nosso sim, para entrar neste mundo. Vai ser intérprete dos nossos sonhos, José, o esposo da Virgem Maria, que passa a vida a sonhar, para conhecer e realizar os sonhos de Deus, a Sua vontade.   

Alegrai-vos, sempre no Senhor. Exultai de alegria. O Senhor está perto. Tão perto e tão próximo, tão discreto e tão humilde, tão simples e tão nosso, que até podemos nem dar pela Sua presença e pela sua ação salvadora no meio de nós. João Batista está escandalizado, sente-se defraudado com a pequenez e a humildade do Messias, que não exibe a força da imagem ou do poder, para nos convencer ou converter. Precisamos, por isso, como ele, de redescobrir o presente de Deus, nos dons de cada dia, nos sinais mais humildes: há os que passam a ver a vida com outros olhos, há os que se erguem e levantam do chão, há os pobres felizes a quem é anunciada a Boa Nova. O Messias está aí. O Presente vem a caminho. Vale a pena arriscar.

Abraça o presente de Natal: é Cristo vivo. Com este apelo, abraçámos, no 1.º domingo do advento, o presente como uma surpresa e fomos desafiados a um presente original. Com este mesmo apelo, fomos chamados, no início desta 2.ª semana do Advento a abraçar o presente como um Rebento, cuidando das nossas raízes. Hoje é Maria, a Virgem, a Toda Santa, concebida sem pecado o original, que nos ensina a abraçar o presente original do Natal, que é Cristo vivo, mesmo quando este abraço nos traz algum embaraço.

João Batista é agora a voz que clama no deserto: «preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas». E isto – pelos vistos – não vai com falinhas mansas ou palavras de circunstância. Ele aponta para o machado já posto à raiz das árvores e, por isso, dirá ele, ‘toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo’. Ora, nós sabemos que aquilo que a árvore tem de flor e de fruto vive do que tem escondido nas suas raízes. Por isso, neste Domingo, queremos aprender a cuidar das raízes, atentos à palavra de Isaías: “sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes” (Is 11,1-10).

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