Homilia no IV Domingo da Páscoa B 2024
Gostaria de dedicar esta Homilia a refletirmos juntos sobre o que seja isto de vocação e em que sentido é que devemos rezar pelas vocações.
1. Antes de mais, vocação significa chamamento, apelo, interpelação, convocação. Cada pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, é para o que nasce. Deus tem, para cada um de nós, um sonho, um desígnio, um projeto, uma missão, um sentido, uma meta feliz. Cada um, com as suas capacidades e limites, com as suas caraterísticas próprias, é único, irrepetível e insubstituível. Ninguém é fruto de um erro ou de um acaso. Ninguém vive a vida por mim. Por isso, falar de vocação quer dizer que cada pessoa é chamada a responder e a corresponder ao que Deus lhe dá e ao que Deus lhe pede, no seu pequeno mundo, na sua família, na sociedade, na sua comunidade cristã. A todos, Deus pede que a vida por Ele oferecida se torne, pela nossa parte, vida dada pelos outros. Disse Jesus e fê-lo: Tenho o poder de dar a vida e de a retomar!
2. Por isso, a pergunta fundamental da vocação, não é “Quem sou Eu?”. Sou uma criatura humana, sou filho de Deus, sou de Cristo! Sou chamado a viver segundo esta dignidade infinita, a desenvolver a minha humanidade, segundo a medida alta da santidade. A minha vida está projetada para esta plenitude de felicidade eterna. Isto é claro. Então, qual é a pergunta vocacional fundamental? É esta: Para quem sou eu? Qual é a resposta? Tu és para Deus; mas Ele quis que fosses também para os outros, e colocou em ti muitas qualidades, dons e carismas que não são para ti, mas para os outros. Por isso, mais importante do que saberes “o que fazer na tua vida”, que profissão realizares, é saberes “o que fazer da tua vida”, a quem a vais entregar (cf. CV 286). Eis porque é dramático, por exemplo, perceber que isto do matrimónio como vocação e missão, seja um tema-tabu nas conversas e nos interesses e preocupações dos nossos jovens. Se há uma crise das vocações, ela começa aqui, quando não se sonha a alegria do amor em família, quando já não se percebe que descobrir «para quem sou Eu» e apostar a vida no dom de si mesmo, é muito mais decisivo para a minha felicidade do que saber «quem vou ser eu», que curso ou que profissão vou realizar?! Jesus di-lo claramente: O Pai ama-me, porque dou a vida pelas minhas ovelhas!
3. “Para quem sou Eu?”. A resposta requer um discernimento, que não pode fazer-se sem a oração, sem escutar e reconhecer a voz de Deus, como a ovelha reconhece a voz do Pastor. Por isso, rezar pelas vocações significa rezar a própria vocação, colocar-se à escuta de Deus, que fala ao coração. Não rezo, para que outros sejam o que eu não quero ser; rezo para que eu seja o que Deus quer de mim!
4. Este exercício de discernimento, porém, não é solitário. Diz o Papa: “a Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas, dons, qualidades, capacidades; e somos chamados a escutarmo-nos uns aos outros e a caminhar juntos para os descobrirmos, para discernirmos aquilo a que nos chama o Espírito Santo, para o bem de todos”. Isto acontece tantas vezes, ao longo de uma conversa, de uma caminhada, de uma vida partilhada, quando aprendemos a escutar a voz de Deus na voz dos outros!
5. Irmãos e irmãs: sejamos audazes e capazes de propor a vida como vocação e missão, aos nossos filhos, alunos, pacientes, empregados ou clientes, amigos ou companheiros de trabalho. Talvez tu possas dizer a uma criança, a um adolescente, a um jovem, a um adulto, a um idoso: “pelo que escuto e pelo que vejo em ti, pelo desejo que te move, pelo teu percurso … não será que Deus te quer como… marido ou esposa, como pai ou mãe, como leigo(a) comprometido(a), como voluntário(a) comprometido(o) com esta ou aquela causa do Seu Reino, como diácono ou padre, como missionário(a) ou consagrado(a),”?! E se alguém tiver o atrevimento de te fazer a mesma proposta, então dá-lhe a tua mão, caminha com ele, escuta, acolhe e reza pela tua vocação e pela dele. E, se não for pedir de mais, reza também pela minha!