Liturgia e Homilia no XXVI Domingo Comum C 2016
Destaque

Um pobre chamado Lázaro e um rico que nem nome tem. Ambos chegaram ao fim da vida degradados: um pela miséria, outro pela riqueza. Mas nem Lázaro se salvou por não ter nada, nem o rico se condenou por ter muito. O problema é quando o que sobra em riquezas falta em compaixão. 

Homilia no XXVI Domingo Comum C 2016

1. Aqui não há misericórdia! A parábola evidencia precisamente o contrário, neste Ano Jubilar, em que somos convidados a redescobrir e a praticar, com alegria, as obras de misericórdia (MV 15), a começar pelo mais básico: «dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos» (Mt 25,35-36.42-44). Ora Lázaro tem fome, mas nem sequer aos restos da mesa do rico tem direito! Lázaro é um sem-abrigo, que jaz junto do portão de um homem, que se vestia de púrpura e linho fino. Lázaro é um doente, coberto de chagas, que morre, por falta de assistência. Afinal, e ali, tão perto da vista e tão longe do coração, está um homem rico, que leva uma vida de rei. Indiferente ao pobre Lázaro, faz vista grossa e ouvidos de mercador. É rico, sim, mas é um homem sem nome, um homem bruto, indiferente, incapaz de se compadecer ou de se afligir com a ruina do irmão. São duas vidas paralelas, dois mundos opostos, separados por um abismo de indiferença!

2. Todavia, aos olhos de Deus, muito mais importante do que o homem rico, é o pobre Lázaro. O seu nome é referido aqui cinco vezes. E significa «Deus ajuda». No pobre, é Deus que clama por mim! Ignorar o pobre significa desprezar a Deus! Se eu não escancarar a porta do meu coração ao pobre, aquela porta permanecerá fechada, inclusive para Deus. E isto é terrível. A misericórdia de Deus, por nós, será à medida da nossa misericórdia pelo próximo. E não haverá uma segunda oportunidade, para escapar a este «inferno», de uma vida sem amor. É agora, em vida, que é preciso dar a volta à situação. A oportunidade não virá depois da morte. Depois, a situação será definitiva, irreparável e irreversível. O «inferno», descrito pela parábola, é precisamente isto: «o sofrimento por não mais se poder amar».

3. Talvez esta parábola não nos assuste assim tanto, porque não nos revemos na figura do homem rico. Somos gente pobre ou remediada! Mas pensemos: mesmo não sendo ricos, quantas vezes fingimos não ver, quem está tão perto de nós?! Quantas vezes deixámos de ouvir o grito de sofrimento, de quem mora ao lado, por baixo ou por cima do nosso andar?! Quantas vezes dissemos que não há pobres e… se os há… serão eles os culpados da sua miséria?! Fazemos de conta que o problema é lá no «terceiro mundo» ou, se for cá, à minha porta, será, com certeza, uma situação para a Segurança Social ou a Conferência Vicentina resolverem!

4. Esquecemo-nos de que a miséria dos outros virar-se-á, rapidamente contra nós, não só no mundo que há de vir, mas desde já, neste mundo, onde as guerras e os conflitos, regra geral, têm como causa principal esta indiferença dos poderosos e dos ricos, face às situações de pobreza, como nos recordou, na passada terça-feira, o Papa Francisco, em Assis.Ali, o Papa desafiou todos os crentes, das diversas religiões, a dizer «não» “à tranquilidade de quem se esquiva às dificuldades e vira a cara para o lado; não ao cinismo, de quem lava as mãos dos problemas alheios; não à abordagem virtual de quem julga tudo e todos, no teclado de um computador, sem abrir os olhos às necessidades dos irmãos, nem sujar as mãos em prol de quem passa necessidade. A nossa estrada é mergulhar nas situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem” (Papa Francisco, Discurso, Assis, 20.09.2016).

5.  Irmãos: A parábola alerta-nos de maneira clara: o que houver a fazer, não pode ser deixado, nem por nós, nem pelos outros, para depois de morrer: é em vida, irmãos, em vida!

 

(Pode seguir-se a leitura do texto seguinte pelo homileta ou por um leitor)

 

EM VIDA, IRMÃOS, EM VIDA!

1. Se queres fazer feliz alguém,

Alguém a quem queiras muito...
Diz-lhe, hoje o teu querer.
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida...

2. Se desejas dar uma flor,
Não esperes que ela murche.
Manda-lha, hoje, com amor...
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida…

3. Se desejas dizer "gosto de ti"
À gente da tua casa, que te é querida,
Ao amigo, perto ou longe,
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida...

4. Não esperes pela sepultura
Das pessoas para as amar
E dar-lhes e sentir a tua ternura…
Fá-lo em Vida, Irmão, em Vida...

5. Tu serás muito mais feliz

Se aprenderes a fazer felizes

A todos os que conheces…

Em Vida, Irmão, em Vida...

 

6. Nunca visites panteões

Nem enchas tumbas de flores

Enche de amor os corações

Em Vida, Irmão, em Vida...

 

Manuel Sánchez Monge,Parábolas Como Setas

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Homilia na Missa do XXVI Domingo Comum C 2016

Abertura do novo ano de Catequese 2016-2017

Eu gostava de ser breve, neste primeiro dia de Catequese. A partir da beleza destas leituras, que escutámos, eu diria apenas três palavras:

1.  A primeira palavra é para todos: é preciso saber ouvir e saber ver, para poder ajudar quem está ao nosso lado!

Não podemos fazer vista grossa ou ouvidos de mercador, a quem está perto de nós e precisa da nossa atenção, da nossa ajuda, do nosso apoio, da nossa mão, da nossa companhia! Todos somos responsáveis pela vida dos outros, pelo seu presente e pelo seu futuro. Todos somos chamados a ser “cuidadores” atentos dos outros, a começar pelos que estão em nossa casa, ou à nossa porta. Quem não escuta o seu irmão, que precisa de ajuda, fecha os ouvidos à voz de Deus; e quem fecha os olhos ao seu irmão, que sofre, vira a cara ao próprio rosto de Deus. Tudo o que tivermos a fazer pelo outro, é agora! Não é amanhã, nem depois de morrer! É em vida, irmãos, em vida!

2.   A segunda palavra é especialmente destinada aos meninos e meninas, que hoje retomam a Catequese e regressam à Eucaristia: é preciso dar ouvidos à Palavra de Deus!

Não é o “milagre” de um morto em pé, que nos vai “acordar” ou “despertar” ou “fazer mudar de vida”. “Têm Moisés e os Profetas, que os oiçam”, é a resposta do pai Abraão ao homem rico. A palavra “catequese” significa exatamente isto: «prestar ouvidos», «escutar com atenção». Toda a Catequese representa este esforço por aprender a dar ouvidos à voz de Deus. «Moisés e os Profetas» são agora o vosso pároco, os catequistas, os pais, os avós, a quem deveis dar ouvidos, quando eles vos anunciam, com mansidão, a Palavra de Deus! É a Palavra de Deus que nos converte a todos. É a Palavra de Deus, que abre os nossos olhos (Lc 24,45), para o repartir do pão com o irmão. É a Palavra de Deus, que rompe a nossa surdez aos gritos de quem sofre e pede compaixão!

3. A terceira palavra é dirigida por São Paulo a mim, vosso pároco, aos vossos catequistas, mas também aos pais, avós e a outros educadores da fé: é preciso pôr em prática, o que transmitimos aos outros.

Diz São Paulo: “Pratica a justiça e a piedade” porque não podemos servir bem o próximo, sem a força divina da oração; “Pratica a fé e a caridade”, porque uma fé sem obras está completamente morta; “Pratica a perseverança e a mansidão”, porque sem paciência e bondade não é possível amar e servir, até ao fim; não é possível vencer o bom combate da fé.

Desejo que neste novo ano, saibamos cuidar da fé e da vida uns dos outros, com misericórdia, com ternura e compaixão. Obrigado a todos os que nos confiaram os seus filhos! E obrigado a todos os que aceitaram esta missão de cuidar da fé dos mais pequeninos. Procuremos viver esta missão, como Maria, de modo humilde, simples, e sempre com uma enorme alegria!

Com Maria, na nossa Igreja, na nossa Catequese e na beleza da Eucaristia,renovai-vos nas fontes da alegria!

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