Liturgia e Homilias no XIV Domingo Comum C 2022
Destaque

Peregrinos da Cidade Santa, exultamos de alegria ao entrar na Casa do Senhor. Aqui experimentamos a ternura de Deus, no coração da Igreja, nossa mãe. A Igreja, a nova Jerusalém, é verdadeiramente a «mãe» que nos acolhe, gera e dá à luz através do Batismo, que nos perfuma e embeleza com a unção do Espírito e nos alimenta e faz crescer com o Pão da Eucaristia. Esta Igreja é Mãe que nos conforta, consola e acompanha, com paciência e misericórdia, através da Palavra e dos sacramentos. E, como Mãe, faz-nos sair de casa, projetados em missão, pelo mundo, para levar a todos a Paz de Cristo. Deixemo-nos, pois, enviar pelo Senhor, que nos confia o trabalho tão feliz da colheita dos frutos do seu Reino, que está já presente no meio de nós.  E deixemos que a Sua misericórdia se torne para nós fonte de alegria e de Paz.

Homilia no XIV Domingo Comum C 2022

1. Nos últimos tempos, não resisto a fixar e a sublinhar a palavra Paz, sempre que ela aparece nos textos bíblicos, proclamados na Liturgia. E hoje é tão bela aquela promessa da Paz para Jerusalém, a Paz que há de correr como um rio (cf. Is 66,10-14)! E ressoa-nos, como bela melodia, aquela saudação que Jesus recomenda aos discípulos: «Paz a esta casa» (Lc 10,5). Como desejaríamos nós sermos estes ‘filhos da paz’ (Lc 10,6), esta gente de Paz, sobre quem repousa e se difunde a Paz de Cristo.

2. Esta Paz não se reduz a uma simples ausência de problemas ou de conflitos. A Paz, que traduz o termo hebraico shalom, na sua raiz, significa integridade, totalidade, e por isso a Paz, na linguagem bíblica, é a síntese ou a plenitude de todos os bens, é a felicidade de quem, mesmo no meio de lobos e dificuldades, vive em Paz, porque se confia às mãos de Deus, como um filho ao colo de sua mãe. Essa é a Paz, por que justamente anseia o nosso coração, tanto mais quanto todos os dias as imagens da Guerra na Ucrânia nos ferem, ora de raiva, ora de tristeza e de angústia. Antes de tudo, e na origem de qualquer paz individual ou social, está esta confiança firme de que todos somos acreditados, esperados e amados por Deus, apesar dos nossos erros e contradições. Todos podemos viver em amizade e reconciliados com Ele. Por isso, escreve São Paulo sobre o que é realmente mais decisivo: «Estamos em Paz com Deus» (Rm 5,1). Receber a Paz de Deus, guardá-la fielmente no coração, mantê-la no meio dos conflitos e contagiá-la aos outros exige um esforço apaixonado, não fácil, de unificar e enraizar toda a nossa vida em Deus, o Deus da Paz, o Pai de todos, que a todos nos faz irmãos.

3. Por isso, esta Paz, dom de Deus, também é fruto de um trabalho artesanal, “que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza” (GE 89). De pouco nos vale desejar a Paz lá longe, se não a semeamos em nossa casa, com as pessoas da nossa família e das nossas relações mais próximas. O desafio é procurarmos juntamente com todos (2 Tm 2,22)aquilo que leva à Paz (Rm 14,19). Tantas vezes, pelo contrário, queremos uma paz à custa da eliminação do inimigo, uma paz que leve para longe os que não nos interessam, por serem diferentes de nós ou de temperamento mais difícil. Sem nos darmos conta, os desejos de vingança sobre o inimigo – o desejo da morte de Putim, só para dar um exemplo – tais desejos matam o cordeiro manso que devíamos deixar crescer dentro de nós e alimentam o lobo feroz que também se faz hóspede em nós. Quantas vezes semeamos a desordem e o conflito, porque ouvimos alguma coisa de alguém e vamos logo contar a outra pessoa, com uma versão distorcida e ampliada. «A difamação e a calúnia são comparáveis a um ato terrorista: atira-se a bomba, destrói-se e o terrorista segue o seu caminho feliz e tranquilo (GE 87 e nota 73). “O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e a destruir, não constrói a paz” (GE 87).

4. Irmãos e irmãs: estamos no primeiro domingo de julho e, por certo, todos pensamos já nas férias, como um passaporte para a Paz. Cuidado, porém, com a tentação de procuramos aquela paz comprada, que não passa de uma anestesia para calar a nossa dor de alma, ou de uma bolha que nos imuniza aos ruídos da guerra, ou de um paraíso artificial, onde nos pomos a milhas de um mundo virtual sem problemas nem conflitos. Quantas vezes, nestes dias, não nos assaltará a tentação de nos ‘desligarmos’, das terríveis notícias da guerra, como quem diz: «deixem-me em paz». E então a paz deixa de ser um «estar bem e de bem», para se tornar simplesmente um bem-estar individual e egoísta, um refúgio confortável, uma paz de poucos para poucos, uma paz efémera para uma minoria feliz.  Esta não é Paz que o Senhor nos dá e nos pede.

5. É nossa missão semearmos, construirmos e contagiarmos a Paz. A começar pela relação conjugal, entre marido e esposa, enviados «dois a dois», os quais nunca se deitarão sem fazer as pazes! A começar pela nossa casa, pela nossa família, onde não faltem as carícias, confortos e consolações e as palavras que constroem a Paz: por favor, desculpa e obrigado. Seja a nossa comunidade um oásis de Paz, feita por gente de Paz. “Paz e misericórdia para quantos seguirem esta norma” (Gl 6,16)!

 

 

 

 

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