Amarás o Senhor, teu Deus, com toda a tua alma, com todo o teu coração, com todas as tuas forças! Ouvíamos, há oito dias, esta belíssima fórmula de oração judaica, no diálogo entre Jesus e o escriba. Agora, ao vivo, no templo, Jesus confronta a soberba, a avidez e a hipocrisia dos escribas, que jogam as sobras, com a gratuidade, a confiança e a generosidade da viúva que dá tudo o que tem para viver. Na conclusão da Semana de Oração pelos Seminários, tenhamos presentes os seminaristas e os seus formadores. Ofereçamos ao Senhor a alegria das crianças, a ousadia dos adolescentes e o entusiasmo dos jovens, para que o Senhor, ao ver a riqueza do seu coração pobre, encontre neles a liberdade e a coragem de dar e arriscar tudo por amor a Deus e aos irmãos.

Memória, gratidão e esperança. Com estes sentimentos, que se atravessam no nosso coração, cruzamos esta ponte que nos une aos que partiram antes de nós, que une a Terra e o Céu, o tempo e a eternidade, o princípio vital e o fim último da nossa vida finalizada em Cristo. Reunimo-nos em oração, na certeza de que esta pode não só ajudar os que partiram antes de nós, mas também tornar mais eficaz a oração de cada um deles em nosso favor. Na Eucaristia, que juntos celebramos, encontramos o lugar por excelência desta memória viva da Páscoa do Senhor, da gratidão mais profunda do coração que se eleva para Deus em ação de graças. Que esta celebração (no cemitério)| Que esta Eucaristia (na Igreja)“aumente em nós a esperança de que os nossos irmãos e irmãs, chamados a ser pedras vivas do templo eterno de Deus, ressuscitarão gloriosamente com Cristo” (cf. Ritual das Exéquias, n.º 97).

Percorremos o caminho de nossa casa até chegar a esta Casa Comum, para cruzar a ponte entre a Terra e o Céu, entre a beleza do que já somos e o que ainda se há de manifestar em nós. A alegria do domingo, que ontem vivemos, prolonga-se agora neste dia solene e de festa em honra de Todos os Santos. À vitória pascal de Cristo, que celebramos em cada Eucaristia, associa-se o coro incontável dos eleitos, que aclamam em alta voz a alegria da salvação e nos ensinam a cantar um hino de louvor a Deus e ao Cordeiro.  Estes são dias para cruzar esta ponte, que nos une a todos, em Cristo, numa verdadeira comunhão dos santos. São os santos de antigamente e de longe, mas também os santos de hoje e de “ao pé da porta, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus” (GE 7).

A regra do distanciamento físico deve ser revogada para dar lugar à lei da proximidade, física e espiritual. Precisamos de aprender a conjugar o verbo amar com a escuta e a proximidade, o que implica amar de corpo e alma, com a luz da inteligência, com a ternura do coração, com a força dos braços, com o realismo dos gestos concretos. A Palavra de Deus, neste domingo, recorda-nos que “o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis e constituem um único mandamento” (Bento XVI, DCE 18). Participar nesta Eucaristia é, ao mesmo tempo, uma expressão do amor a Deus, único Senhor, mas que reverte necessariamente a favor de um amor mais puro e mais concreto ao próximo. Porque onde há amor nascem gestos.

Não podemos calar o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Não podemos deixar de testemunhar, com a palavra e a vida, os frutos do nosso encontro libertador com Jesus Cristo, que dá à nossa vida uma grande alegria, um novo horizonte e um rumo decisivo! Mas também não podemos calar o grito dos sem voz e a voz dos que gritam a partir das margens da vida e da sociedade, e pelo quais Deus nos está a chamar e a falar.  Neste Dia Mundial das Missões e em tempo de aprendizagem do caminho sinodal, deixemo-nos iluminar pelo cego, que recuperou a vista, e nos dá uma visão nova, uma visão na visão dos outros, com os quais aprendemos a olhar o mundo com novos olhos e a seguir juntos por um caminho novo.

Levanta-te. Juntos por um caminho novo! Este é o lema que nos é proposto para este novo ano pastoral, na nossa Diocese do Porto. Levanta-te... é o primeiro imperativo, porque a tentação do discípulo é acomodar-se, é sentar-se, se possível, em alguma cadeira do poder, à esquerda ou à direita de quem manda. Ora, seguir Jesus não é encontrar um estado de vida; é percorrer com Ele o Caminho do amor. Juntosporque o Senhor não nos salva sozinhos; juntos porque o Senhor nos quer “todos família, todos irmãos”. Por um caminho novo…aberto à Igreja, com o Sínodo sobre a sinodalidade. Na Sé do Porto, tem lugar, na tarde deste domingo, a celebração de abertura do caminho sinodal, a nível de cada diocese. Em cada Vigararia da nossa Diocese, tem lugar a celebração deste 20.º Dia Diocesano da Família, que a pandemia adiou para hoje. Que os casais e as famílias nos inspirem e ajudem a edificar uma Igreja, em que todos os fiéis (leigos, ministros ordenados ou religiosos) aprendam a caminhar juntos, rumo ao Pai, com Jesus no meio, sob a luz e guia do Espírito Santo.

Juntos por um caminho novo é o propósito e a aspiração mais profunda de quem se abeira de Jesus, porque sente que, apesar de tudo, ainda lhe falta alguma coisa para ser inteiro, para ser feliz.No seguimento de Jesus, corremos e acorremos até Ele, porque só Ele nos oferece um Caminho com saída para a vida verdadeira.Mas Jesus desafia-nos a deixarmos para trás tudo o que nos impede de seguir em frente. Há sempre uma coisa, há sempre qualquer coisa que não nos faz falta e que faz falta largar para seguir Jesus. Deixemo-nos então tocar pelo olhar de Jesus. Que a Sua Palavra atravesse, como uma espade de dois gumes, as divisões da nossa alma e opere a esclerose, a dureza e o fechamento do nosso coração. Invoquemos a Sua misericórdia.

Não separe o homem o que Deus uniu!”  E o Evangelho não separa homem e mulher, unidos em matrimónio, mas também não separa as crianças dos pais, porque não é bom que o homem esteja só; não é bom que a mulher esteja só; não é bom que o casal esteja só, não é bom que a família esteja só, na sua vocação e missão. O Senhor quer-nos, unidos e reunidos, lá em casa, como pequena Igreja e nesta Casa, como grande família. Ele quer-nos fazer avançar a todos juntos, de par em par, por um caminho novo. Em pleno ano dedicado especialmente à Família (Ano Família Amoris laetitia)é bom redescobrir a beleza da vocação e a missão própria do casal cristão e da família cristã!

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