HOMILIA NO VIII DOMINGO COMUM A 2017 [1]
1.Quanta paz e serenidade nos traz esta confiança na Providência divina! O profeta Isaías apresenta-a sob a imagem do amor materno, cheio de ternura: «Poderá a mulher esquecer a criança que amamenta e não ter compaixão do filho das suas entranhas? Mas ainda que ela se esqueça, Eu não te esquecerei» (49,15). Como isto é bonito! Deus não Se esquece de nós, de cada um de nós! De cada um de nós com nome e sobrenome. Ama-nos e não nos esquece. Deus, de modo pessoal e único, cuida não só deste mundo; das aves do céu e dos lírios do campo; cuida de nós; mais ainda, cuida de mim, cuida de ti! Não fui, por isso, deixado por Deus, sozinho, perdido, sem lugar, numa sociedade anónima, num universo, entregue à sua sorte! Não. Deus cuida de mim! Não é mais um Deus distante, para Quem contaria muito pouco a minha vida! Ele é um Deus bom, que me oferece ajuda! Se é sempre consolador saber que, na minha vida, há uma pessoa que me ama e cuida de mim, um pai, uma mãe, mas muito mais decisivo é que exista um Deus que me conhece, que me ama e Se ocupa de mim! Que lindo pensamento!
2.Mas, pensando agora mais friamente, na falta de meios da nossa previdência social, e em tantas pessoas que vivem em condições tão precárias, ou até na miséria, estas palavras de Jesus poderão parecer-nos abstratas ou até ilusórias. Todavia, bem vistas as coisas, são mais atuais do que nunca! Recordam-nos que não se pode servir a dois senhores: a Deus e à riqueza. Enquanto cada um procurar acumular para si, nunca haverá justiça. Se, pelo contrário, confiando na Providência de Deus, procurarmos juntos o seu Reino, então não faltará a ninguém o necessário para viver dignamente. Na verdade, um coração ocupado pela ganância de possuir é um coração vazio de Deus. Num coração possuído pelas riquezas, não há lugar para a fé. Isto mesmo nos diz o Papa, na recente Mensagem para a Quaresma: «O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. EG 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz». Se, pelo contrário, se deixa a Deus o lugar que Lhe compete, isto é, o primeiro lugar, então o seu amor leva-nos a partilhar também as riquezas, e a pô-las ao serviço de projetos de solidariedade e de progresso. E assim a Providência de Deus passa através do nosso serviço aos outros, do nosso partilhar com os outros. Se cada um de nós não acumular riquezas só para si mas as puser ao serviço dos outros, neste caso a Providência de Deus torna-se visível neste gesto de solidariedade.
3. Bem sabemos que hoje é mais fácil confiar no dinheiro, na previdência e nos seguros, do que na providência do amor de Deus. E, por isso, vivemos com alguma ansiedade em relação ao futuro. Mas, se pensarmos bem, a confiança na Providência de Deus reconduz-nos a uma justa escala de valores: «Porventura não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário?» (Mt 6,25). Para fazer de maneira que a ninguém falte o pão, a água, o vestuário, a casa, o trabalho, a saúde, é preciso que todos nos reconheçamos filhos do Pai que está nos Céus e, por conseguinte, irmãos entre nós, e que nos comportemos de modo consequente.
4. A Quaresma está à porta. É oportunidade de recolocar Deus no lugar das nossas preocupações e de voltarmos a um estilo simples e sóbrio de vida, com o olhar mais atento às necessidades dos irmãos! E assim mostraremos ao mundo esta fé confiante na providência divina: quando Deus tem o primeiro lugar nos nossos corações, também os outros estarão sempre à frente das nossas preocupações!
[1] A partir do comentário do Papa Francisco na oração do «Angelus» (02.03.2014) e da sua Mensagem para a Quaresma 2017.