Homilia na Festa do Batismo do Senhor A 2020
1.Primeiro estranha-se e depois entranha-se! João estranha que Jesus lhe peça o Batismo no Jordão, onde acorriam os pobres pecadores, como sinal de arrependimento dos pecados. O Batismo no Jordão era apenas um rito exterior, um sinal provisório de esperança e de preparação para acolher o Reino de Deus, que estava prestes a manifestar-se. Por isso, João estranha a sujeição de Jesus a este banho em águas tingidas pelo nosso pecado. Que está Jesus ali a fazer, neste rito de purificação, se Ele próprio é o Messias, que nos vem purificar? Por que vai Jesus ter com João, para ser batizado, se Ele é o Filho de Deus, que veio para nos salvar? Estranha forma esta de o Messias Se manifestar ao mundo: entra como Servo humilde na fila dos pecadores, mergulha no rio das nossas misérias, mostra compaixão solidária com a humanidade e uma misericórdia entranhável com os pecadores. Todavia, este não é ainda o verdadeiro Batismo de Jesus! É apenas o início e o sinal da Sua descida ao nosso mundo mais imundo, para daí nos salvar. O Batismo definitivo de Jesus está apenas a começar e será consumado na Cruz. Por agora, este Batismo no Jordão é apenas sinal indicativo de todo um programa de vida, da parte de Jesus, de uma missão grandiosa, que está apenas a começar!
2.Mas se João estranha, Jesus entranha! O Batismo é, para Jesus, uma experiência entranhável de amor, que transforma a Sua vida. Naquele mergulho, Jesus sente-Se agraciado pelo amor do Pai, fortalecido pelo Espírito Santo. Amado pelo Pai, impelido pela força do Espírito, daí em diante toda a vida de Jesus é missão: Ele é enviado a irradiar e a contagiar o amor insondável e a misericórdia entranhável de Deus, que está n’Ele e com Ele e atua por meio d’Ele. A partir do Batismo, Jesus sai em missão, sem pompa nem circunstância, sem grito nem alarido, sem julgar nem condenar; apenas passando pelo meio de nós e fazendo o bem, fazendo-Se ouvir desde dentro, aproximando-Se das pessoas, amando-as simplesmente.
3.A cena grandiosa do Batismo de Jesus acontece, de algum modo, no nosso Batismo e em cada reinício da vida cristã. Aquela Voz do Pai, a única que soa e ressoa dentro da nossa alma, repete também a cada um de nós, desde o Batismo, esta declaração de Amor em três palavras: “filho meu, amor meu, alegria minha”: “Tu és meu filho! Filho que gerei como Pai, deixando em ti o meu ADN divino. Tu és o meu amado. Tu és amado antes de nasceres, antes de o saberes, antes de tudo, apesar de tudo, acima de tudo, sem condições nem interrupções.Em ti pus toda a minha complacência! Tu dás-me prazer; estar contigo enche-me de alegria”.
4.Que grande experiência de graça! O nosso Batismo é apenas um início, que é preciso reconhecer e agradecer, recordar e celebrar, avivar e ativar, transformando o dom de sempre em missão permanente.Ao longo deste ano, procuremos fazer memória viva e agradecida do nosso Batismo, como filhos muito amados e enviados em missão. Sugiro-vos dez práticas simples e muito concretas:
1) Tocar na água batismal ou deixar-se aspergir por ela.
2) Conhecer a data do meu Batismo e celebrar o respetivo aniversário.
3) Renovar a profissão de fé batismal, especialmente na Vigília Pascal.
4) Rezar todos os dias ao Pai como filho(a) de Deus.
5) Celebrar o sacramento da Confissão, para a renovação da graça batismal.
6) Participar na Eucaristia, para alimentar, domingo a domingo, a vida cristã.
7) Celebrar o Crisma, para confirmar o dom em missão.
8) Comprometer-se ativamente com a vida e missão da comunidade cristã, nos seus serviços, desafios e necessidades.
9) Renunciar corajosamente ao mal e optar por fazer o bem.
10) Dar testemunho coerente, alegre e contagiante da fé.
5. Porque somos batizados, também somos enviados a servir e a fazer o bem, por amor de Deus, por amor a todos, sem dar nas vistas, sem olhar a quem!
