HOMILIA NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO 2023
1. Há dias, numa homilia coloquial, perguntei aos catequizandos: “qual será o primeiro dom, o primeiro tesouro que Deus nos concedeu”? Logo responderam: “A vida”. Mas uma criança, muito timidamente, respondeu outra coisa: “a mãe”. Para ela, o primeiro dom de Deus é o de sua mãe. Na altura, deixei passar ao lado a resposta. Mas, à medida que a celebração prosseguia, eu sentia que aquela criança me fez ver algo que eu ainda não tinha refletido suficientemente. Antes mesmo do dom da vida, está o dom daqueles que no-la transmitem: o pai e a mãe. O facto é que a criança referiu somente a mãe. Embora pai e mãe, sejam ambos progenitores da criança, a maternidade da mulher constitui, sem dúvida, a parte mais empenhativa. É sobre a mulher que recai diretamente o «peso» desta gestação comum, que lhe absorve literalmente as energias do corpo e da alma (cf. São João Paulo II, Mulieris Dignitatem, n.º 18).
2. Se é verdade que o pai não é simplesmente o dador de uma semente, também é claro que a função da mãe não se reduz à de uma barriga de aluguer. O desenvolvimento do ser humano não se processa no seio materno dentro de uma bolha, num mundo à parte, isolado ou independente do corpo e da alma de uma mulher. Não. A criança, que se gera no seio da mulher, recebe da mãe os seus pensamentos, emoções, sentimentos, estímulos, sensações, vivências. A gravidez comporta, por isso, uma comunhão especial, um contágio de corpo e alma, de carne e de sangue, de espírito e de coração, com o mistério da vida, que amadurece no seio da mulher. Esta íntima união entre a mãe o filho, durante a gestação não é, portanto, apenas biológica; é psíquica, anímica, espiritual. Trata-se de um modo único de contacto com o novo ser humano, ainda em gestação. Tinha razão então aquela criança: uma vez que somos gerados no seu seio, a mãe é o nosso primeiro tesouro, é a nossa primeira morada, é a nossa primeira casa, é o nosso primeiro mundo, é o nosso primeiro habitat, é o nosso primeiro ecossistema. O ventre de uma mãe é o nosso primeiro ambiente vital! Se uma mãe quer um filho feliz, deve cuidar da sua alegria.
3. Irmãos e irmãs: pensemos nisto tudo, com os olhos postos em Maria, chamada por Deus, para ser a Mãe do Seu Filho. Se existe uma tão íntima união entre uma mãe e um filho, durante a gestação, e ainda depois dela, então Jesus, o Santo de Deus e verdadeiro Homem, só podia ser gerado, no seio de uma Mãe, Santa e Imaculada, desde a sua conceção. Na verdade, ao Filho de Deus, Cordeiro inocente, que tira o pecado do mundo, convinha uma Mãe, totalmente entregue a Deus, inteiramente pura, cheia de graça. Por isso, desde toda a eternidade, antes ainda da criação do mundo, Deus sonhou e preparou Maria, de forma radical, para ser a mais santa e a mais digna morada de Seu Filho. Naquele faça-se de Maria, a Virgem Mãe fez uma entrega total de Si, do Seu corpo, da Sua alma, do Seu espírito, ao serviço de Deus. Em Maria não há qualquer não ou senão, qualquer sombra de pecado, qualquer raiz do mal, que pudesse transmitir-se ao Filho de Deus, por meio desta especial comunhão entre a Mãe o Filho, na gestação e depois dela.
4. Interroga-se Edith Stein: O Filho de Deus,“que quis ser em tudo homem, exceto no pecado, não deveria receber do amor de Sua Mãe [não só] a carne e o sangue, mas também o alimento da alma? Mais ainda, isto não deveria constituir o sentido mais profundo da Imaculada Conceição? A Mãe que, no mais puro do seu corpo e da sua alma, queria assemelhar-se ao Filho, devia ser absolutamente pura”. E foi-o, na sua união a Cristo, desde a sua conceção e para sempre.
5. Hoje apresentam-se algumas grávidas, para receber a bênção. Agravidez é verdadeiramente um estado de graça. Estar grávida é estar de esperanças. E, por isso, a mulher grávida é uma das mais belas imagens do Advento, expressão visível do desafio para esta 1.ª semana: sede alegres na esperança: uma alegria contida, uma expetativa recolhida, preparando o berço, um lugar no seu coração. Como Maria, toda a mãe deveria ser mãe, com toda a sua alma, para fazer penetrar toda a riqueza da sua alma, na [vida] de seu Filho” (Ibidem). Queridas mães, à imagem de Maria, gerai, para a vida e para a fé, os vossos filhos, para que cresçam como filhos de Deus, à imagem de Jesus, o Menino de Sua Mãe!
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2023
Missa com Catequese | Igreja da Sagrada Família
1.Lembram-se do desafio desta 1.ª semana do Advento? Alegres na esperança! Hoje este desafio, pode resumir-se numa imagem muito concreta: a de uma mulher grávida, que espera alegre e ansiosamente por dar à luz. Alegria e esperança caminham de mãos dadas, numa grávida. A sua alegria é ainda contida, porque ela ainda espera o filho, que está a formar-se, que está em gestação, no silêncio do seu ventre materno. A mãe prepara o lugar, prepara o berço, prepara a vida, para deixar que o filho lhe venha “desarrumar” as suas coisas e ocupe o seu lugar. Esperar com alegria é estar disponível para deixar que alguém chegue, nos surpreenda e nos mude a vida por completo.
2.Uma mulher grávida, como sabeis, não é uma “barriga de aluguer”. O seu ventre não é uma “bolha”, onde um novo ser humano se esconde ou se separa da mãe. Não. Nós sabemos que há uma grande união, uma ligação, uma grande interação, entre a mãe e o filho, que está a gerar. A mãe partilha com o filho os seus pensamentos, sentimentos, vivências, Ela contagia-o com tudo o que tem, com tudo o que vive, com a sua carne e o seu sangue, com o seu corpo e a sua alma. Por isso, se a mãe quer um filho feliz, deve também cuidar da sua alegria.
3.Foi assim também entre Maria e Jesus. O Evangelho traz-nos a notícia de uma mulher a quem Deus convida para ser mãe do Seu Filho: é Maria. Em Maria não há qualquer “não” ou “senão”, qualquer sombra de pecado, qualquer raiz do mal, que pudesse transmitir-se ao Filho de Deus, por meio desta especial comunhão entre a mãe o filho, no ventre materno. Deus sonhou e preparou Maria, para ser a mais santa e a mais digna morada de Seu Filho.
4.Naquele faça-se de Maria, a Virgem Mãe fez uma entrega total de Si, do Seu corpo, da Sua alma, do Seu espírito, ao serviço de Deus. Jesus, o Santo de Deus, recebeu de Maria, só o contágio da santidade, do amor de Deus, E por isso, Maria alegra-se em Deus, nosso Salvador.
5.Neste caminho para o Natal, somos convidados a imitar este “faça-se” de Maria. Como? Escutemos uma mãe (Teresa Power, Famílias de Caná, 2.12.2023):
5.1. Somos surpreendidos com um pé partido, uma doença do filho, um problema na educação das crianças. Tu precisas desta minha cruz, Jesus, para recriar o mundo? Faça-se!
5.2. Chegamos a casa ao final do dia, tudo por arrumar, a louça do pequeno-almoço ainda por lavar, as camas desfeitas. Vamos a isto? Faça-se!
5.3. As crianças estão traquinas, há narizes para limpar, lágrimas para enxugar, brigas para resolver, e os TPC são especialmente dolorosos hoje. Respiramos fundo para encher os pulmões de paciência: Faça-se!
5.4. Parecem-nos gestos insignificantes? Ou pelo contrário, parecem-nos superiores às nossas forças. Nada é demasiado grande ou demasiado pequeno para Ele. Faça-se!
6. Maria não se limitou a fazer o que tinha de ser feito, mas usou de toda a sua criatividade para inventar o Bem. Olhai: não basta portar-se bem, não fazer asneiras. É preciso fazer o bem: brincar com o menino que tem problemas, acolher o estrangeiro que chegou há pouco, perder o intervalo a explicar a matéria ao colega mais fraco. Onde houver o bem a fazer, faça-se. Façamos. Onde se faz o bem, brotam sorrisos.
7. Que Maria, nos ajude a fazer como ela fez, transformando o nosso “sim” diário – o que tem de ser e o que decidimos fazer - numa obra de arte para o Senhor. Faça-se!
Notas:
1) A Homilia na Missa com Catequese (Igreja da Sagrada Família) segue, em boa parte, uma Mensagem, no início de Advento, de TERESA POWER, das Famílias de Caná.
2) A Homilia na Missa com os adultos segue o pensamento de Edith Stein. Cf. F. JAVIER SANCHO FERMÍN, A Bíblia lida por uma mulher, Ed. Carmelo, 2.ª edição. Marco de Canaveses 2022, pp. 143.