Liturgia e Homilias no V Domingo de Páscoa B 2018
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Degrau a degrau, semana a semana, subimos a escada da Cruz, unidos a Cristo, a caminho da glória. E quanto mais alto chegamos no amor, mais ele nos faz descer ao concreto de cada pessoa.

Homilia no V Domingo da Páscoa B 2018

Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade”(1 Jo 3,18)!

No conhecido romance Quo Vadis, um pagão pergunta ao apóstolo Pedro que acabara de chegar a Roma: «Atenas deu-nos a sabedoria; Roma deu-nos o poder; o que é que nos oferece o cristianismo»? E Pedro responde:«O amor»!

 

1.São João, na sua primeira Carta, usa mas não abusa desta palavra «amor». Há, na sabedoria deste ancião, a certeza vivida de que o «Amor» define o essencial da fé cristã. E por isso chega a enunciar, de forma simples e resumida, esta fórmula da existência cristã: «Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem» (1 Jo 4,16). O Apóstolo é incansável no esforço de devolver à palavra “amor” o seu esplendor original, desmascarando algumas caricaturas do amor.

2.Aprimeira caricatura do amor é aquilo que se poderia designar por amor platónico. Face a meia dúzia de iluminados que mediam a perfeição das pessoas pelo seu grau de conhecimento, e não pelo seu grau de caridade, São João é perentório: «Não amemos com palavras e com a língua». Como quem diz: “Não façamos do amor um discurso ou uma discussão, uma teoria ou uma declaração, sem tocar a carne sofredora de Cristo nos outros”! De facto, não se chega ao amor por um maior esforço ou luz da razão. O amor platónico não tem carne, nem coração. Não tem mãos, nem pés no chão! Eis aqui uma denúncia clara daquela caricatura de amor, que vemos por aí, feito de declarações sentimentais, de discursos inflamados, de corpos oferecidos e desnudados. Qualquer manifestação de amor, que implique apenas a alma… e despreze o corpo e a carne sofredora de Cristo nos irmãos é certamente uma pura ilusão (cf. Gaudete et exsultate, n.º 37)! Mas também qualquer expressão de amor, que dê o corpo, sem dar a alma, é uma autêntica profanação.Rejeitemos sempre, e em todo caso, uma verdade sem amor ou um amor sem verdade!

3.«Amemos com obras e em verdade”, insiste o apóstolo João. «Amemos com obras», quer dizer, com gestos, com atitudes concretas. Podemos perceber bem o alcance destas palavras a partir do versículo anterior: Sealguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele” (1 Jo 4,7)?  Não há, pois, experiência do amor de Deus, sem que este amor se torne ao mesmo tempo “descoberta do outro, cuidado do outro e pelo outro” (DCE 8). Quando é assim, a pessoa “já não se busca a si própria; procura, ao invés, o bem do amado” (DCE 8). Neste sentido, São Paulo, no seu belo Hino à Caridade, alia ao amor paciente o amor prestável (cf. 1 Cor 13,4), próprio da pessoa que mostra a sua bondade, em todas as suas ações.

4.Prestável” é, pois, o atributo que colocamos esta semana na escada da Cruz, ao ao subir mais um degrau no caminho ascendente do amor, ao qual se chega descendo ao concreto da necessidade de cada pessoa. Porque o verdadeiro amor – esclarece o Papa Francisco – “beneficia e promove os outros. O amor não é apenas um sentimento, mas deve ser entendido no sentido que o verbo «amar» tem em hebraico: «fazer o bem». Como dizia Santo Inácio de Loiola, «o amor deve ser colocado mais nas obras do que nas palavras». Assim poderá mostrar toda a sua fecundidade, permitindo-nos experimentar a felicidade de dar, a nobreza e grandeza de doar-se superabundantemente, sem calcular nem reclamar pagamento, mas apenas pelo prazer de dar e servir»” (AL 93 e 94).

5.Irmãos e irmãs: durante esta semana, procuremos, em família e em comunidade, colocarmo-nos ao serviço concreto dos irmãos, a começar pelas pessoas da nossa casa, sem esquecer os mais pobres e frágeis. Lembremo-nos simplesmente disto: o amor é prestável. E se não for prestável, não prestará mesmo para nada!

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