HOMILIA NA FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR 2017
1.Esta é uma festa cheia de luz. A luz que brilha nos olhos de Maria e de José, ao apresentarem, cheios de alegria e gratidão, o Seu Filho no Templo, para O oferecerem e consagrarem ao Senhor. Na verdade, um filho é sempre uma dádiva, que se agradece e retribui. Esta é uma festa cheia de luz. A luz que brilha nos olhos dos anciãos, Simeão e Ana, que veem a salvação e acolhem nos seus braços a esperança da humanidade, no rosto de uma criança. Esta é uma festa cheia de luz. Mas a luz que brilha em todos e para todos é o próprio Jesus, que ilumina e enche de glória o Templo e os corações de todos os que ali se reúnem, para esta festa do «encontro»: o encontro luminoso de Deus com o Seu Povo, o encontro gracioso de gerações.
2.Neste dia, benzemos e acendemos as velas, afirmando Jesus, como Luz do Mundo, que ilumina as nossas obscuridades e enche de esperança a nossa vida. Acendemos as nossas velas, como outrora outros as acenderam por nós, no círio pascal, recordando assim o próprio batismo, em que nos tornamos «filhos da luz». Jesus – ouvi-lo-emos no evangelho do próximo domingo – diz mesmo ao seu pequenino grupo dos seus discípulos: «vós sois a luz do mundo».
3.E, como podemos levar esta Luz ao mundo? Não seremos demasiado poucos e demasiado pequenos para iluminar «o mundo»? No Sínodo sobre a família foi sugerida uma imagem muito bela, retomada depois pelo Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica sobre a alegria do amor em família. Diz assim: “a Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e extraviado, dando-lhes de novo confiança e esperança, como a luz do farol de um porto ou a luz de uma tocha acesa no meio do povo, para iluminar aqueles que perderam a rota ou estão no meio da tempestade” (AL 291). Portanto, esta luz pode chegar às pessoas de duas maneiras: como a luz alta do farol de um porto, a iluminar os que se perderam no meio das tempestades da vida; ou como a luz humilde e frágil de uma candeia ou de um archote, que se leva para o meio das pessoas, que perderam a rota; esta luz acompanha os pequenos passos daqueles que precisam que essa luz pequenina se projete bem perto, no mais concreto da sua vida.
4.Este é o desafio: para nos tornarmos a «luz desse farol», não o poderemos fazer sozinhos. Precisamos de passar esta luz a uns e a outros, de sermos Igreja, que, ao jeito da Lua, reflete a luz recebida do Sol que é Cristo. Só, na comunhão da nossa fé, em Igreja, esta luz se projetará mais alto e chegará mais longe; por outro lado, para nos tornarmos essa «candelária», que leva a pequenina luz, que alumia mais de perto, precisamos de nos aproximar de cada pessoa, de cada problema, de cada situação, de cada dificuldade, para aí mesmo, no mais concreto, ajudarmos a que se “faça luz”, iluminando, aquecendo, esclarecendo, consolando.
5.Num caso e noutro, não podemos nunca querer guardar esta luz, em lugar fechado, senão ela apagar-se-á por falta de oxigénio. Se permanecer encerrada e oculta, esta luz não poderá iluminar ninguém! Saiamos, então, por toda a parte (cf. EG 49). Saiamos, iluminados pela alegria do encontro com Cristo e levemos o testemunho desta alegria, “para que nenhuma periferia fique privada da Sua luz” (cf. EG 288)!