Liturgia e Homilia no II Domingo de Páscoa C 2016

“Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom; é eterna a Sua Misericórdia” (Sl 117/118,1-2).

1.Jesus veio, pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!». E mostrou-lhes as mãos e o peito” (Jo 20,19-20), mostrou-lhes as Suas chagas. Reconheceram, assim, que não se tratava de uma visão, mas era mesmo Ele, o Senhor, e encheram-se de alegria. Oito dias depois, Jesus veio de novo ao Cenáculo e mostrou as chagas a Tomé, a fim de que as tocasse, como ele pretendia, para poder acreditar e tornar-se, também ele, testemunha da Ressurreição.

2.Hoje, neste domingo que São João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, o Senhor mostra-nos também a nós, através do Evangelho, as Suas chagas. São chagas de misericórdia. É verdade! As chagas de Jesus são chagas de misericórdia. «Fomos curados pelas Suas chagas» (Is 53,5). Jesus convida-nos a contemplar estas chagas, convida-nos a tocá-las – como fez com Tomé – a fim de curar a nossa falta de fé e o nosso pecado. Convida-nos sobretudo a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do Seu amor misericordioso. Através delas, como que por uma brecha luminosa, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a Sua Paixão, a Sua vida terrena – cheia de compaixão pelos pequeninos e pelos doentes – a Sua encarnação no ventre de Maria (…), a Sua Paixão, morte e ressurreição. São Bernardo diz que, «através das feridas do corpo, manifesta-se a recôndita caridade do coração [de Cristo], torna-se evidente o grande mistério do amor, mostram-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus» (Disc. 61, 3-5: Opera omnia 2, 150-151).

3.Por isso, seja diante dos meus pecados, seja diante das grandes tragédias do mundo, «a consciência sentir-se-á turvada, mas não será abalada, porque me lembrarei das feridas do Senhor. De facto, “foi trespassado por causa dos nossos crimes” (Is 53,5). Que haverá de tão mortal, que não possa ser absolvido pela morte de Cristo?» (Disc. 61, 3-5: Opera omnia 2, 150-151).

4.Este «Domingo da Divina Misericórdia» vem reforçar a consciência da graça deste jubileu, de um ano inteiro, para celebrarmos a misericórdia de Deus. É o tempo favorável para tratar as feridas, para oferecer a todos o caminho do perdão e da reconciliação. Nesta 2.ª semana da Páscoa, somos chamados a perdoar as injúrias. É a 5.ª obra de misericórdia espiritual, que queremos viver, a partir do testemunho de Jesus ressuscitado. Aparecendo aos discípulos, Jesus Ressuscitado não faz nenhum ajuste de contas com eles. Mas convida-os a tocar as feridas, a assumir a realidade do pecado que fere o Seu coração. Mas é precisamente aí, pondo o dedo na ferida, assumindo a culpa, que os discípulos experimentam a abundância da misericórdia, que Jesus derrama sobre eles, com o dom do Espírito Santo. E, com esse dom maior, vêm a paz e o perdão dos pecados.

5. Irmãos e irmãs: perdoar não significa ignorar a ferida, enfaixá-la sem a tratar. Não. O perdão implica, para quem o recebe, não esquecer o pecado, a fim de não voltar a repeti-lo, mas, apesar do seu pecado, nunca desesperar da misericórdia divina, a fim de não desertar do caminho da vida. Por outro lado, o perdão implica, para quem o oferece, deixar de se fazer vítima do pecado do outro e fazer da ofensa recebida uma bela ocasião para oferecer misericórdia e assim fazer triunfar a luz do amor e da paz.

Com o olhar voltado para as chagas de Jesus Ressuscitado, podemos deixar que a misericórdia de Deus transforme a nossa vida e nos ajude a transformar a vida dos outros. Em tudo e sempre, irmãos e irmãs, comigo e com toda a Igreja, “dai graças ao Senhor, porque Ele é bom; é eterna a Sua Misericórdia” (Sl 117/118,1-2).

Nota: Texto da Homilia sintetizado a partir de: PAPA FRANCISCO, Meditação na Celebração das primeiras vésperas do Domingo da Divina Misericórdia, sábado, 11 de abril de 2015 e IDEM, Homilia no II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia, 12.04.2015.

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