Homilia no XI Domingo Comum B 2024
Que belas são estas duas parábolas, neste final de um ano de catequese, quase a concluirmos um ano pastoral. Jesus fixa a nossa atenção na sementee destaca duas características essenciais do seu crescimento: é misterioso e é imprevisível.
1.Na primeira parábola, é evidente uma característica da semente:ela possui uma força vital própria. A semente tem um dinamismo interno, um poder transformador, que faz com que germine, cresça e frutifique, sem o semeador saber ou perceber como. Este crescimento misterioso dá-se, precisamente, enquanto o homem dorme e se levanta. Trata-se, pois, de um crescimento misterioso, que depende mais da vitalidade da semente, do que da habilidade do semeador. Podemos associar o crescimento misterioso desta semente à Palavra de Deus lançada na terra dos corações, pelos professores, pelos catequistas, pelo pároco, pelos pais, avós e padrinhos. Todos devemos saber que um é o que semeia, outro é o que planta, outro é o que rega, mas é Deus que faz crescer(1 Cor 3,6-7). Nós devemos fazer o que é preciso, com paciência e humildade. Mas o crescimento da semente nos corações é fruto de um poder divino, que não está nas nossas mãos! Quem educa, em humanidade e na fé, tem de ter esta humildade e esta confiança, de que os filhos ou educandos não são mero produto do seu trabalho. O seu crescimento é fruto da ação de Deus. Por isso, Jesus diz-nos a nós, os mais crescidos, aos pais, educadores e catequistas: Age como se tudo dependesse de ti, mas consciente de que, na realidade, tudo depende de Deus. Tenhamos a coragem da confiança e a humildade do abandono em Deus.
2.Na segunda parábola, destaca-se uma outra característica da semente: o seu desenvolvimento imprevisível e fantástico.Sendo ela um grão tão pequenino, lançado e escondido na terra, acaba por morrer e transformar-se na maior de todas as plantas da horta! Jesus quer dizer-nos que Deus nos surpreende, que Ele ultrapassa as nossas medidas e expetativas. Ele faz sempre coisas grandes a partir dos mais pequeninos, dos mais humildes, das crianças, dos pobres, do que parece não prestar para nada. Onde esta ação de Deus se faz sentir e onde o Seu amor nos alcança, cada gesto pequenino, cada ocasião para fazer o bem, é uma oportunidade de transformar o mundo, de fazer crescer o Reino, mesmo se Deus parece e permanece escondido, invisível a nossos olhos.
3.Irmãos e irmãs: poderíamos associar este crescimento da semente enquanto o semeador dorme, ao tempo de férias que aí vem: tempo de pousio, de pausa, de repouso, na catequese e em muitas atividades pastorais. Não é um tempo inútil, não é um tempo em vão, um tempo perdido. O repouso é necessário para a saúde do corpo e da mente e por isso faz tanta falta dormir. Não só porque dormir é meio sustento, não só porque o travesseiro é um bom conselheiro. Não só porque quem não descansa, não avança, mas também porque dormir é uma forma de repousarmos, de depormos as nossas armas, de nos rendemos às mãos de Deus. O repouso é essencial para a nossa saúde espiritual, para podermos ouvir a voz de Deus e compreender aquilo que nos pede. Encontremos, então, tempo para dormir, sonhar e repousar no Senhor, isto é, tempo para lhe entregarmos e devolvermos aqueles que nos confiou, tempo para sonhar o que Deus quer de nós e dos outros. Confiemos a Deus e à Palavra da Sua graça os frutos da sementeira deste ano pastoral!
4.E, por último – desculpai a insistência – não percamos o ritmo dominical da Eucaristia. Não haja pausas na Eucaristia, mas mais pausas para a Eucaristia. A semente que fez germinar o trigo maduro na espiga fez-Se e faz-Se um bocado de Pão, na Eucaristia e, por isso mesmo, é preciso um coração grande, humilde e disponível para O acolher e reconhecer. A gente não sabe como, mas este Pão da Eucaristia tem o poder vital de nos fazer ressurgir, com nova alegria, nova energia, sangue novo!
Se dormir é meio sustento, repousar no Senhor, em cada Eucaristia, é sustento inteiro.