Liturgia e Homilias no XIV Domingo Comum A 2023
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Uma pausa no verão: põe de molho o teu coração. Dito de outro modo, Jesus deixa-nos o convite: “Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”! Viemos até Ele, em resposta ao Seu convite! Sob o peso da nossa fragilidade, mas também na leveza da graça, que nos salva. Na alegria deste encontro com o Senhor, à volta da Sua mesa, confiemo-nos, desde já, à Sua misericórdia, para encontrarmos n’Ele a mansidão do coração, o refúgio sereno e a paz verdadeira.

Homilia no XIV Domingo Comum A 2023

1.“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Eis o desafio à terceira bem-aventurança: a da mansidão (Mt 5,4). Temos dela a mais bela imagem, na entrada de Jesus em Jerusalém, profetizada por Zacarias: «Aí vem o teu Rei, ao teu encontro, [vitorioso, justo e]manso e montado num jumentinho» (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9) e não armado ou montado num cavalo de guerra. Esta é, de todas as oito bem-aventuranças, talvez a menos valorizada, mas seguramente uma das mais urgentes, neste mundo, que, “desde o início, é um lugar de inimizade, onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, os seus costumes e até a sua forma de falar ou vestir” (GE 71). Esta bem-aventurança contrapõe-se “ao reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de elevar-se acima dos outros” (GE 71). Uma das coisas que mais salta à vista, neste tempo pós-pandemia, é que as pessoas se tornaram mais agressivas na linguagem, com du(r)as pedras na mão; mais brutas no trato e com uma pedra no sapato. Sentimos as pessoas mais tensas, mais agitadas e impacientes, mais arrogantes e violentas. Talvez pelo excesso de trabalho e de produção, pelo esgotamento, pela pressão constante em darmos mais, tornamo-nos hoje pessoas irascíveis, zangadas, aborrecidas, quezilentas, mal-humoradas. Mas se vivermos assim, acabaremos ainda mais cansados e exaustos. Pelo contrário, se aprendermos de Cristo a mansidão, encontraremos descanso para as nossas almas (Mt 11,29)!

2. O mundo de hoje precisa de pessoas adultas e mansas. A mansidão carateriza a vida de uma pessoa madura, neste tríplice sentido: 

2.1.em 1.º lugar, o manso é mais forte do que a sua própria força, e por isso autorregula-se, controla-se a si mesmo, domina-se a si próprio, mesmo quando é provocado; o manso renuncia, pela força interior, a toda a forma de violência.

2.2.em 2.º lugar, o manso é mais poderoso do que o seu poder e, por isso, renuncia à prepotência, domina o seu instinto de posse dos outros; recua de si mesmo para dar espaço aos outros; o manso não se impõe, nem sequer na fé (1 Pe 3,16), mas propõe e propõe-se, deixando o outro ser quem é;

2.3.em 3.º lugar: o manso é mais livre que a sua liberdade, sabe dispor de si e da sua vida e não pretende abusar da vida ou gozar da liberdade dos outros. O manso goza de uma liberdade mais livre que a sua livre vontade. Tal mansidão, em conclusão, não é sinónimo de debilidade ou de fraqueza de caráter, não é próprio de um espírito insensato, estúpido e frágil, mas sinal da maturidade humana, de uma pessoa que se torna humilde, doce, afável, calorosa, gentil.

3.“Reagir com humilde mansidão” (cf. GE 71)é hoje um dos mais urgentes testemunhos de santidade!  Neste tempo, de tensões, de violências, doméstica e social, de uma guerra mundial em pedaços, tempo em que tanto ansiamos pela paz, usar de mansidão significa pôr no lugar da malícia a inocência, [pôr] no lugar da força o amor, [pôr] no lugar da soberba a humildade, [pôr] no lugar do prestígio o serviço; significa preferir o mel ao fel, [preferir] a simplicidade à exuberância, [preferir] a humildade à arrogância, [preferir] a mansidão à violência, [preferir] o perdão à vingança, [preferir] a ternura à agressividade, [preferir] a docilidade à dureza, [preferir] a gentileza à rudeza, [preferir] a escuta à acusação, [preferir] a unidade ao conflito. Na prática, não queiramos ter a última palavra na discussão, não respondamos ao mal com o mal, cuidemos dos mais vulneráveis. Só um coração manso e humilde desarma as resistências e violências dos que se aproximam de nós zangados com a vida!

Irmão e irmã: se te sentes longe da Bem-aventurança da mansidão, faz uma pausa no verão: põe de molho o teu coração. Fá-lo descansar no coração manso e humilde de Cristo! São férias no Paraíso desta Terra Prometida e, ainda por cima, a custo zero! Vai até Ele e gozarás de imensa paz [cf. Sl 37(36),10].

 

 

 

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