Liturgia e Homilias no XXI Domingo Comum B 2021
Destaque

Jesus dá um murro na mesa, que sabe a um murro no estômago dos discípulos, que não conseguem digerir as palavras duras no final do Discurso do Pão da Vida: “E vós, também quereis ir-vos embora?”, diz-lhes Jesus. Muitos séculos antes, também o povo de Israel fora confrontado com uma opção: “A que Deus quereis servir”? Porque não se pode andar de bem com Deus e com o Diabo. São opções de vida, que também se refletem nas relações entre marido e esposa. Tudo se conjuga em apelos que pedem resposta. Nós, se aqui estamos e aqui viemos, é porque queremos dizer com e como Pedro: A quem havemos nós de ir... se só Tu tens palavras de Vida Eterna?

HOMILIA NO XXI DOMINGO COMUM B 2021

Os últimos dias de agosto não são os melhores para a digestão das palavras duras com que Josué põe o povo de Deus entre a espada e a parede. Nem sequer a última côdea do Discurso do Pão da Vida, que dura já há quatro semanas, é fácil de roer. E se levarmos a peito as palavras malditas de Paulo sobre a submissão do marido à esposa, então está mesmo o caldo entornado. Permito-me deixar três notas de reflexão, para evitar um escaldão espiritual no corpo desta assembleia, porventura mais virada para o “bem-bom” e para a “dolce vita” do verão do que para as grandes questões da vida.

1.ª Nota: No Evangelho, Pedro exclama: “Para quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna”. Na verdade, muitas vezes, na vida, perdemos tempo interrogando-nos em longos monólogos: Mas, afinal, quem sou eu? Diz-nos o Papa: “E tu podes interrogar-te sobre quem és e passar uma vida inteira a procurar a tua própria identidade. Interroga-te, antes: «Para quem sou eu?»” (Christus vivit, n.º 286). A questão decisiva da vida é mesmo essa: a de saber a quem me entregar, com quem partilhar a minha vida, que destino lhe dar. O verão pode libertar-nos algum tempo para respondermos às perguntas: Para quem irei? Para quem se orienta a minha vida? A quem a entregarei? Por quem a darei?

2.ª Nota: Dentro desta opção por Cristo, que alcança a vida inteira, está também o Matrimónio, o casamento no Senhor. E, mais uma vez, outra palavra dura se atravessa como uma espinha na garganta. Na segunda leitura, o apóstolo Paulo fala-nos da submissão das mulheres aos maridos (Ef 5,22).Vamos com calma, para não chamarmos reacionário ao que é revolucionário. Na verdade, São Paulo, ao falar de submissão, acrescenta algo que transforma por completo o tipo de relação entre homem e mulher: em primeiro lugar, porque esta «submissão» diz respeito não apenas à mulher, mas também ao homem: ambos devem ser mutuamente “submissos no temor de Cristo”. A submissão é mútua e é a Cristo. Em segundo lugar, porque o modelo desta submissão é Cristo e, portanto, esta submissão não é equiparável à das relações de poder e de domínio dos mais fortes sobre os mais fracos. Não. O Apóstolo é claro: “As mulheres submetem-se aos maridos como ao Senhor”. Ora, este termo de comparação “como ao Senhor” revoluciona o tipo de submissão de que aqui se fala. Não é mais a escravidão! Não é a sobreposição! Não é o domínio do mais forte. Não. O amor de Cristo, a que se submetem marido e esposa, não os diminui, nem os esmaga, nem os violenta, mas envolve-os e eleva-os no Seu amor. Portanto, “submissão” não é domínio, poder ou violência de um sobre o outro. Na verdade, o amor exclui todo o género de submissão. Esta submissão é a atitude humilde que faz com que marido e esposa se coloquem cada um ao serviço do outro, numa pertença mútua, livremente escolhida, na fidelidade, respeito e solicitude de um pelo outro.

3.ª Nota: Se casarmos estas duas últimas notas de reflexão, então podíamos concluir com um apelo radical aos mais jovens, aos casais em união de facto ou casados apenas civilmente:

 

Sede revolucionários;

remai contra esta cultura do provisório,

que vos julga incapazes de decidirdes a vida

e de assumirdes responsabilidades,

de vos amardes verdadeiramente.

Casai e celebrai o dom do vosso amor,

na comunhão com a Igreja.

Celebrai o vosso amor como Sacramento,

isto é, como sinal eficaz e instrumento do amor de Deus,

e não como um mero sentimento ou evento social.

Mostrai a todos que o amor conjugal

é uma das mais altas expressões daquele Amor eterno

com que Deus ama e vive em aliança connosco.

Mostrai que o amor que vos une vem de Deus e não de vós;

é sinal e participação do amor fiel e fecundo

com que Cristo ama a Igreja, sua Esposa, até ao fim.

Por isso, não tenhais medo. Não adieis a vossa decisão.

Alargai as cordas do vosso coração.

Testemunhai a todos a alegria e a beleza do amor para sempre!

 

 

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