Homilia na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora 2021
«Maria levantou-se, foi apressadamente para a montanha» (Lc 1,39).
1. Maria acabara de dizer um «sim» ao sonho de Deus, que queria vir a este mundo, em carne viva. Para Maria, a escolha divina para ser a Mãe do Filho de Deus não está livre de escolhos. Mas tampouco, Maria se deixa confinar nos seus medos, problemas, dificuldades ou desafios. Maria levanta-se e põe-se apressadamente a caminho; sai a toda a pressa ao encontro da prima Isabel. E a pergunta, sem delongas, bem podia ser esta: Por que se levantou Maria? Por que há tanta pressa no ar? Maria não o fez para se ver livre de algum perigo imediato, pois tinha a companhia segura de José. Maria não o fez por imaginar a idosa prima Isabel sozinha, pois é dito que toda a vizinhança estava empolgada com a sua gravidez. Maria não o fez simplesmente para oferecer os seus préstimos a uma grávida de risco, pois, nesse caso, três meses seriam de bem curta duração!
2. Há – creio eu – razões mais profundas, que movem os pés e comovem o coração de Maria neste levantar-se, neste caminhar apressado. Apontemos apenas duas:
1.ª Razão:Maria levanta-se e parte a toda a pressa, porque fez a experiência de ser visitada pela graça, fez a experiência de um Deus que veio ao seu encontro desafiar a sua liberdade.Maria levanta-se porque disse um “sim” a Deus, que a desinstala de toda a comodidade e a move em direção ao próximo, rumo a um «nós» cada vez maior. E, por isso, Maria não permanece numa satisfação autorreferencial, como quem se apraz e compraz na ditosa honra de ser Mãe de Deus e de Deus filha. A experiência feliz deste encontro levanta e lança Maria para um novo anúncio, para um novo encontro. Na expectativa e no centro deste encontro está Cristo. Tudo gravita à sua volta. Também connosco tem de ser assim: é sempre a partir da graça do encontro com Cristo que se desperta em nós o desejo da partida e da saída de nós mesmos, para um novo anúncio, uma nova missão, a percorrer, com ousadia, como Maria, por um caminho novo e vivo!
2.ª Razão: Maria quer confirmar, com os seus ouvidos, com os seus olhos, no tato e no contacto daquele abraço, a experiência da sua fé. Maria deseja ver, a partir do encontro com Isabel, que não está a viver uma ilusão, a ter uma miragem enganadora e que os sonhos de Deus não se dissiparão no nada, como bolas de sabão no tempo, mas que transformam efetivamente a vida, rasgando-a a uma esperança maior do que Ela própria.No fundo, Maria quer ser testemunha viva de um Cristo vivo. E, por isso, sai ao encontro de Isabel e dela recebe as desejadas palavras de reconhecimento, a confirmação de que está efetivamente a realizar-se “tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor”!ParaMaria, como para nós, a fé não é uma experiência isolada, mas partilhada. Nascemos e crescemos, não em laboratório, mas em comunidade, como um “nós cada vez maior”, de modo que a fé é sempre um «símbolo», quer dizer, é um dom que requer o encontro e a confirmação de duas partes, pois ninguém vive, crê, espera ou ama sozinho.
3. Este “levantar-se” apressado de Maria é o mote da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e é também o lema do nosso Plano Diocesano de Pastoral 2021/22, que assim se resume neste imperativo e neste modo: “Levanta-te. Juntos por um caminho novo”.Neste novo normal da sua vida, Maria desafia-nos a não fazermos de conta que não se passou nada com esta pandemia, mas a enfrentarmos todos juntos a novidade desta hora, com coragem criativa, com a audácia de buscar novos caminhos, para que a alegria do Evangelho chegue a todos os confins da Terra. Maria desafia-nos a levantarmo-nos do chão e a sair de casa, a ressuscitar e a caminhar numa vida nova, e não a andar para trás, de volta à vida de antigamente.
Nossa Senhora de Agosto ou da Assunção nos alcance um novo ardor de ressuscitados, para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte! Elevada ao Céu, Maria nos ajude a avivar a chama olímpica, no ardor da nossa missão: sempre “mais rápido, mais alto, mais forte – juntos”. Com Maria e como Maria: com os pés apressados na Terra. E os olhos fitos no Céu.