Homilia no V Domingo da Páscoa B | 1 e 2 de maio de 2021
Maio é sinónimo de Maria. Maio é o mês da Mãe. E o mês do coração começa com a Memória de São José, Operário. Com os olhos postos em Maria e em José, gostaria de destacar alguns pensamentos que a Liturgia da Palavra nos oferece.
1. Em primeiro lugar, salta-nos ao ouvido a repetição, por sete vezes, do verbo “permanecer”: trata-se sempre de permanecer em Cristo. Tal significa enraizarmos e embebermos em Cristo a própria vida, vivermos unidos a Ele, como ramos na única e verdadeira videira. Para o discípulo de Jesus, o que é decisivo é esta permanência, esta união inseparável, fiel e constante, esta união sem intervalos, sem pausas, sem cansaços, sem desistências, sem intermitências. Para o discípulo, o foco de atenção, o ponto de encontro, a raiz de tudo é Cristo e a relação com Ele. Por isso, sem Ele, fora d’Ele, nada feito: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Esta união a Cristo, iniciada no Batismo, alimenta-se da Eucaristia, poda-se e purifica-se na Reconciliação, respira-se na Oração, vive-se no amor concreto.
Olhemos então para Maria e José: no silêncio do agir quotidiano, José juntamente com Maria só têm um único centro comum de atenção: Jesus. Eles acompanham e protegem, com compromisso e ternura, o crescimento do Filho de Deus, meditando em tudo o que acontecia. São Lucas sublinha a atitude de Maria, que é também de São José: «Conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2, 19.51). Neste mês de Maria, neste Ano de São José, intensifiquemos a nossa relação com o Senhor, na Eucaristia, no mandamento do amor, na oração de cada dia, no mês de Maria, cada vez que vamos rezar e repetir “Pai-nosso… Ave-maria, São José, sombra na Terra do Pai celeste, rogai por nós”!
2. Em segundo lugar, o que se espera desta nossa união a Cristo? Que dêmos muito fruto! A nossa civilização pede-nos rentabilidade, mede-nos pelo produto, avalia-nos mais pelos resultados do trabalho do que pelo amor no que fazemos. E por isso, muitas vezes, a nossa vida é produtiva, rentável, bem-sucedida. Mas não dá fruto! Conseguimos bons resultados nos estudos, na carreira, nos lucros, mas fracassamos nas relações pessoais, no amor, no casamento, na família! Precisamos de nos cultivar por dentro, para que a nossa vida dê mais fruto, dê muito fruto. O fruto do amor é a marca que pomos naquilo que fazemos, é a marca que deixamos no amor com que tocamos a alma e a vida dos outros e nos entregamos por eles. Esse é o fruto. Há dias, o conhecido psiquiatra Daniel Sampaio, numa entrevista ao Semanário Expresso, ao fim de 50 dias de internamento por causa da covid-19, dava-nos conta de que, durante esse período, entre a vida e a morte, fez vários balanços da vida. E confessava: “Eu tive uma boa carreira, mas sem qualquer demagogia, o mais importante que construí na minha vida foi a família”. Este é o fruto que permanece. Não os livros, o dinheiro, a carreira. Tudo isso desaparece. O que fica de tudo o que passa é o amor.
3. Em terceiro lugar, porque este mês começa com dois dias especiais, o Dia do Trabalhador e o Dia da Mãe, vale a pena lembrar o apelo do apóstolo João: “Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade” (1 Jo 3,18). As mães ensinam-nos que o verdadeiro amor é trabalho, o amor dá muito trabalho, o amor dá muito que fazer. De que modo as mães e os pais amam os seus filhos? Com o trabalho. Cuidando deles. Trabalhando por eles. É assim o amor. De que modo amou José os seus tesouros, a esposa e o filho? Com o trabalho do amor.
Por fim, uma imagem e uma sugestão para o Dia da Mãe: no último Natal, deram-me um presépio com esta mensagem: «Deixemos a mãe descansar». Na imagem, está Maria deitada, a descansar, e José com o bebé, a embalá-l’O, a adormecê-l’O. Quantos de vós, se reveza(va)m à noite – entre marido e mulher – enquanto o vosso filho ou a vossa filha chora(va)? Neste Dia da Mãe, dai-lhe esta prenda, quer ela esteja em casa, quer ela esteja no Céu: «Deixemos a mãe descansar».