HOMILIA NO V DOMINGO DA QUARESMA B 2021
1. Há tempos, aproximou-se de mim uma mulher, dos seus 30 e poucos anos, com este devoto pedido: «Senhor Padre, poderá benzer-me estas alianças»? Em resposta, perguntei-lhe se teria perdido as alianças, cuja bênção tem o seu lugar próprio na celebração do Matrimónio ou na renovação dos compromissos matrimoniais?! Ela disse-me que não! Ela e o companheiro tinham feito uma opção diferente: a de não casar pela Igreja. Perguntei-lhe então: “Porque não me pediu simplesmente para lhe benzer os anéis? Porque chama «alianças» a esses anéis, para os quais me pede a bênção”? A senhora não sabia responder, mesmo se, com esse pedido de bênção, ela já intuía algum significado religioso, alguma relação entre o amor conjugal e o amor divino. Foi então ocasião para conversarmos sobre o significado bíblico da palavra «aliança», que está tão associada à relação de amor que Deus quer viver connosco e que tem como uma das metáforas mais belas o amor conjugal. O nosso Deus revela-Se-nos como um Deus Esposo, que ama o seu povo como sua Esposa, com a paixão de um verdadeiro amor! É um Deus que deseja viver em íntima e pessoal comunhão de Vida connosco. Ele não Se contenta com uma relação jurídica, formal, ritualista! Deus chama-nos a viver com Ele uma relação de aliança, uma relação apaixonada, de toda a vida e para toda a vida, como aquela que une, totalmente e para sempre, num só coração e numa só alma, o Esposo e a Esposa, o Amado e a Amada, no encontro interminável do amor!
2. O livro do Cântico dos Cânticos e os profetas, “sobretudo Oseias e Ezequiel descreveram esta paixão de Deus pelo seu povo, com arrojadas imagens eróticas. A relação de Deus com Israel é ilustrada através das metáforas do noivado e do matrimónio; consequentemente, a idolatria (isto é, o culto aos falsos deuses) é vista como adultério e prostituição” (cf. Bento XVI, DCE 9), como infidelidade à Aliança selada no Sinai (cf. Is 54,1-10; Os 2,4-25; Jr 31,22; Ez 16,23). A Aliança de Deus com o seu povo exprime-se no Antigo Testamento como um desposório (cf. Ez 16, 8.60; Is 62, 5; Os 2, 21-22)e a nova Aliança é apresentada no Novo Testamento como um matrimónio (cf. Ap 19, 7; 21, 2; Ef 5, 25)” (Papa Francisco, AL 318, nota 378). Assim, “entre todas as expressões de amor, o amor conjugal entre o homem e a mulher sobressai como expressão do amor por excelência” (Bento XVI, DCE, n.º 1).O amor conjugal deve, pois, sinalizar o amor de Deus pelo seu povo, o amor de Cristo pela sua Igreja, como o elo mais forte da aliança conjugal!
3. Neste sentido, os casais vivam também o seu casamento como uma aliança, não apenas entre si, mas uma aliança de ambos com o próprio Senhor e com a Igreja, de que fazem parte. À luz da Aliança, o Matrimónio não é um mero contrato civil e muito menos um contrato a prazo! Na sua total comunhão de vida e amor, os casais cristãos, no seu amor fiel e fecundo, exclusivo e eterno, são «sacramento da nova aliança», quer dizer, são o sinal eficaz, a manifestação visível, sensível e tangível do amor esponsal com que Cristo Se entregou pela Igreja, sua Esposa, até ao extremo dom de Si, até ao fim, na Cruz! Em Cristo revela-se plenamente o mistério do amor humano. Ele é o Esposo definitivo, a fonte e a medida do verdadeiro amor, também do amor entre os esposos.
4.Queridos casais: mostrai e explicai a outros casais amigos, que ainda não descobriram a beleza do matrimónio cristão, o significado da aliança que trazeis no dedo anelar, por sinal o mais frágil. Explicai-o também aos vossos filhos. Revisitai o álbum do casamento. Se não casastes pela Igreja e nada vos impede, ponderai essa possibilidade. Em família, aí em casa, em oração, renovai a vossa aliança conjugal. Escrevei, no papiro desta semana, três qualidades de cada um dos membros da família, na certeza de que «o homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o que é bom» (Lc 6,45)! Irmãos e irmãs: pedi ao Senhor um coração novo. Porque é o coração novo a verdadeira arca da aliança, capaz de guardar fielmente o imenso tesouro do amor conjugal e familiar!