Liturgia e Homilias no XXVII Domingo Comum A 2020
Destaque

Estamos a concluir, neste 1.º domingo de outubro, ainda com cheiro e sabor a colheitas e vindimas, os dias do chamado “Tempo da Criação”. Os cuidados primorosos da vinha, de que nos fala a Liturgia da Palavra deste domingo, recordam-nos o trabalho do amor com que Deus cuida de nós, na esperança dos melhores frutos. Esta vinha pode ser, para nós, a imagem da nossa Casa comum, da nossa família, da nossa Igreja e até da Criação inteira, que somos chamados a cuidar com a ternura de um jardineiro e a paciência de um vinhateiro. Passado o tempo das vindimas, deixemos Deus espremer a nossa vida, para vermos, com verdade, os frutos que Lhe oferecemos. Pois é «pelos frutos» (Mt 7,15)que os discípulos de Jesus são conhecidos.

Homilia no XXVII Domingo Comum A 2020

1. Começa por ser uma verdadeira cantiga de amigo aquele “cântico de amor que o amigo tinha à sua vinha” (Is 5,1). Mas rapidamente termina numa espécie de cantiga de escárnio e maldizer: “Ele esperava retidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror” (Is 5,7). Na verdade, o sonho de Deus terminara em pesadelo! Todas as expectativas que acalentavam o sonho do “amigo” saem frustradas. O seu “trabalho de amor” não produziu os frutos esperados!

2. O amor deste amigo à vinha é, pois, a imagem do amor cuidadoso de Deus pelo seu povo. O «sonho» de Deus é o seu povo: Ele plantou-o e cultiva-o, dia a dia, de sol a sol, com um amor delicado, paciente e fiel, para que este se torne um povo santo, um povo que produza muitos e bons frutos de justiça. Mas este amor de Deus, tantas vezes, não é correspondido pelo seu povo. Em vez do vinho doce da alegria, Deus colhe da nossa vida o sabor amargo das uvas azedas!

3. Na parábola contada por Jesus, a história repete-se! O povo recusa-se a receber os servos, mata os profetas enviados por Deus para cuidar da sua vinha. Esta obstinada rejeição chegará ao cúmulo da morte do Filho, enviado pelo Pai. Jesus torna-Se, no dizer de São Francisco de Assis, o «Amor não amado». Na parábola, os vinhateiros rebeldes, que deviam cuidar da vinha com amor, são a imagem dos líderes do povo. Em vez de cultivar a vinha com liberdade, criatividade e diligência, apoderaram-se da vinha como se fossem os donos disto tudo, os senhores da quinta e, assim, tiram a Deus a possibilidade de realizar o Seu sonho. A tentação da ganância está sempre presente. Nos grandes e nos pequenos. E é tão destrutiva.

4. Irmãos e irmãs: somos todos chamados a este “trabalho do amor” (1 Ts 1,3), na vinha do Senhor. E esta vinha bem pode ser a imagem da nossa Casa comum: da nossa família, da nossa Igreja e do nosso mundo.Mas porque estamos a concluir os dias do chamado “Tempo da Criação” é espontâneo olharmos para esta vinha como imagem da nossa Casa comum, do nosso planeta, da nossa Terra, que deixou de ser um belo jardim, com boas árvores de fruto, para se transformar numa terra “devastada, demolida, espezinhada, terreno deserto” (Is 5,5)! E se «os desertos exteriores se multiplicaram no mundo é porque os desertos interiores se tornaram cada vez mais amplos» (cf. Bento XVI, Homilia, 24.05.2005). Portanto, a imagem negra da vinha devastada, de uma terra poluída, não é obra de um “castigo divino”, mas do abuso humano no trato da Terra, porque crescemos a pensar que éramos donos da Criação, seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la, em nome de interesses pessoais imediatos, produzindo frutos envenenados, destruindo e consumindo os recursos da Terra, sem pensar nos outros e nas futuras gerações! Por isso, “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior, a uma conversão ecológica” (LS 218), a uma mudança de estilos salutares de vida.

5. O “Tempo da Criação”, iniciado no dia 1 de setembro e a concluir neste domingo, dia 4 de outubro (memória de São Francisco de Assis), é um estímulo a crescermos juntos, na consciência do cuidado da nossa Casa comum. Somos chamados a crescer na sobriedade (alegrando-nos com pouco), na simplicidade (saboreando as pequenas coisas), no louvor agradecido (sem estarmos obcecados pelo consumo) e na responsabilidade amorosa por todas as criaturas, através de um cuidado assente na compaixão. Neste dia (ou véspera do dia) de São Francisco de Assis, tomemo-lo como modelo da nossa relação com a Criação, ele que chamava “irmão” e “irmã” às plantas e aos animais, ao Sol e à Lua, ao vento e ao fogo, ao lobo e à formiga. Sob a sua inspiração, vivamos “a nossa vocação de guardiães da obra de Deus” (cf. LS 217), porque, afinal, estamos todos ligados, assim na Terra como no Céu. Todos irmãos!

 


 

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