Homilia no VI Domingo de Páscoa A 2020
“Estai sempre prontos a responder a todo aquele que vos perguntar sobre a razão da vossa esperança” (1 Pd 3, 15).
1. Vai já longo o caminho da Páscoa. E na Páscoa de Jesus, dizia o Papa Francisco, “conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à esperança” (Homilia na Vigília Pascal 2020). É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo, não é uma ilusão, uma espécie de palmadinha nas costas, fazendo de conta que não se passa nada. “Vai ficar tudo bem”, dizemos e repetimos com tenacidade, nestas longas semanas de pandemia. Mas, à medida que os dias passam, os medos crescem, a pandemia da pobreza alastra e até a esperança mais audaz pode desvanecer. Ora, a esperança cristã é outra coisa: é um dom do Céu, porque não poderemos obter o que esperamos, por nós mesmos.
2. A esperança de Jesus é bem diferente. Ela não ilude a realidade do sofrimento e da morte, que estão aí e nos desafiam a abraçar a Cruz e a partilhar esta fragilidade, que nos irmana e humaniza. Mas coloca no coração a certeza de que Deus sabe e pode transformar o mal em bem, pois até do túmulo faz sair a vida. Por isso, não cedamos à resignação, não coloquemos uma pedra sobre a esperança. Podemos e devemos esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixa órfãos e sozinhos. Ele visitou-nos: veio a cada uma das nossas situações, no sofrimento, na angústia, na morte. E agora, vivo e Ressuscitado junto do Pai, Ele envia-nos o Espírito Santo, o Consolador, para estar sempre connosco. E essa vida de Deus em nós manifesta-se no amor de uns pelos outros. Esta é, no fundo, a razão da nossa esperança: Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, não Se descarta da nossa vida, não nos abandona à nossa sorte. A esta luz, somos chamados a dizer uns aos outros: “minha irmã, meu irmão, ainda que no coração tenhas sepultada a esperança, não desistas! Deus é maior. A escuridão, a dor e a morte não têm a última palavra. Coragem! Com Deus, nada está perdido”.
3. Oferecer aos outros as razões da nossa esperança não significa fazer proselitismo, organizar uma campanha agressiva ou promover uma publicidade religiosa, como se tivéssemos de converter os infiéis, como quem angaria novos sócios para um clube de futebol ou para uma qualquer associação humanitária. Não. Então, como oferecer então aos outros as razões da nossa esperança? Eu diria, simplesmente, pelo testemunho pessoal de uma vida bela, transformada pelo encontro com Cristo. Dir-te-ia então: começa a viver a tua fé, animada pela grande esperança e sempre atuante pela caridade. E quando os outros virem a alegria da tua fé, o largo horizonte da tua esperança, o testemunho do teu amor no serviço desinteressado aos demais, perguntarão: “Por que vive assim?” E assim encontrarão em Cristo, que veneras no teu coração, as razões da sua esperança.
4. Irmãos e irmãs: esta crise pandémica deixa-nos um lastro de miséria, face à qual os cristãos se devem tornar semeadores de esperança, não com teorias ou previsões do futuro, mas fazendo-se bons-samaritanos, missionários da caridade concreta, próxima e vizinha. Se queremos uma Igreja capaz de entrar no coração das nossas aldeias e cidades, transformemos as nossas Paróquias em hospitais de campanha e não apenas em lugares de um culto intermitente ou de uma catequese passageira. O testemunho do serviço (e) da caridade, num trabalho em rede e em sinergia com outras instituições no terreno, oferecerá aos outros as razões daquela esperança, que brota da nossa fé e ativa a caridade. Teremos de chegar lá, com um amor criativo, aos confinados na sua miséria, ali mesmo aonde a família e o Estado não chegam, para que ninguém fique para trás!
5. Como é belo sermos cristãos que consolam, que carregam os fardos dos outros, que encorajam: anunciadores de vida em tempo de morte, semeadores de esperança em tempos de angústia e perturbação! A todos levemos o cântico da vida, as razões da nossa esperança, que é Cristo vivo em nossos corações!