Homilia na Solenidade do Natal do Senhor 2019
Todos aqui nascemos!
Todos aqui nascemos! Contemplemos o mistério do Natal, nestas três palavras:
1. “Todos” é a primeira palavra. Esta é, aliás, uma palavra recorrente em toda a Liturgia do tempo do Natal: “Todos os confins da Terra viram a salvação do nosso Deus” (Sl 98,3). O Natal diz respeito a todos, porque o facto de Deus Se fazer Homem n’Aquele Menino de Belém põe em evidência a dignidade e a grandeza de cada pessoa humana, de todos os homens e mulheres, de todos os tempos e lugares. O mistério da Encarnação conduz-nos a partilhar, como irmãos, esta dimensão comum da nossa natureza humana e esta vocação comum à filiação divina. Tu só podes receber Cristo se receberes a todos, sem exclusão de uma só pessoa que seja! Tu não podes nascer de novo neste Natal, sem teres nada a ver com os outros. És chamado a celebrá-l’O, saindo ao encontro dos irmãos, não apenas com palavras ou sentimentos, mas, sobretudo, através dos pequenos gestos de amor. Começa, então, por sair ao encontro daqueles que talvez te pareça não o merecerem, pois são aqueles que mais carecem hoje do teu amor gratuito. Lembra-te: “Ninguém está excluído da participação nesta alegria (do Natal); a causa desta alegria é comum a todos, porque Nosso Senhor, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar” (São Leão Magno). Por isso, o Natal só é teu, se for dos outros. Se olhares bem para este Presépio, que tem como árvore uma videira, este «todos aqui nascemos» como filhos de Deus também significa: “todos aqui crescemos” como irmãos, unidos uns aos outros “como ramos na videira” verdadeira, que é Cristo.
2. “Todos aqui nascemos”.“Aqui” é a segunda palavra. Aqui, onde? Em primeiro lugar, é aqui no Presépio, no curral de Belém. Se estamos todos unidos a Cristo, como os ramos na videira, ou como membros do Seu Corpo, não podemos deixar de considerar que todos nascemos com Ele, neste Natal. E porque é que nascemos «aqui» no Presépio, com Ele, neste Natal? Porque este «aqui» do Presépio é também o «aqui» do Batistério. É aqui, na fonte batismal, que o pobre ser humano é mergulhado no oceano da divindade. O mesmo Espírito Santo, que gerou Jesus, no seio da Virgem Maria, atua aqui, nesta outra fonte de vida, para que esta água nos regenere a todos e nos faça nascer de novo (cf. São Leão Magno). Todos nós, que nascemos na fonte do Batismo, assim como fomos crucificados, sepultados e ressuscitados e glorificados com Cristo, também nascemos com Ele neste Natal.
3. Todos aqui nascemos. “Nascemos” não é a última palavra, mas a primeira, a mais bela de todas. Nascer é o verbo principal do Natal, a festa do Verbo de Deus, que Se fez Carne de criança, no Menino de Belém. Este “nascemos” é um verbo que se conjugará, sempre, para ti, no plural, em modo indicativo e em presente contínuo.
4. Irmão, irmã: entre o Natal de Jesus e o Batismo cristão há realmente uma afinidade de raiz: ambos celebram o nascimento pelo qual todos somos dados à luz, como filhos de Deus. Faço-te, pois, o convite, para que passes aqui pelo Presépio, construído por um grupo de jovens, no lugar do Batistério. Passa por aqui, para fazeres memória viva e agradecida do teu Batismo. Sabes o dia desde que és batizado? Se não, procura sabê-lo, quanto antes. E, ainda neste Natal, ou no dia de aniversário do teu Batismo, ou no domingo mais próximo, passa por aqui, para agradeceres ao Senhor essa admirável graça divina, que aqui te faz filho de Deus, que aqui te faz nascer de novo. Se não for possível, junto do Presépio, lá em casa, acende ao menos uma vela. Se a tiveres, acende a vela do teu Batismo.
5.Todos aqui nascemos! Todos aqui nos encontremos. E todos aqui rezemos, para nascermos de novo neste Natal:
“Obrigado(a), Jesus, por nasceres em nós.
Obrigado(a), Jesus, por nasceres por nós.
Obrigado(a), Jesus, por teres nascido para nós”.
Para todos, um santo e feliz Natal!