Liturgia e Homilias | IV Domingo do Advento A 2019
Destaque

O Natal que se aproxima está também ele já marcado com o sinal da cruz, com a dor, o sofrimento, a rejeição. Este sinal marca a vida de Jesus desde o berço à Sua entrega na Cruz. Este é distintivo da nossa vida cristã. Este é o sinal. Diante dos outros batizados, este sinal é o atestado comum da minha inserção no mesmo Corpo, em virtude do Batismo comum.

Homilia no IV Domingo do Advento A 2019

1.“Pede um sinal ao Senhor, teu Deus” (Is 7,11)! Eis o conselho do Senhor ao Rei Acaz, num momento difícil do seu reinado! Mas Acaz, que nem sequer nega Deus e até o respeita lá nas alturas, não quer meter Deus ao barulho, agora que está nas profundezas do abismo, perante a ameaça poderosíssima dos povos vizinhos. Na resposta, diz que não pedirá nenhum sinal, que não quer pôr Deus à prova (cf. Is 7,12). Tal reação parece, à primeira vista, uma atitude de grande fé, daquela fé que não exige sinais, que não pede provas; mas é, pelo contrário, uma forma capciosa de Acaz dizer que não quer Deus como aliado da sua luta. Acaz confia mais nas suas jogadas políticas e na força das armas, do que em qualquer aliança com Deus. Para Acaz, Deus é uma figura muito respeitável, talvez como ideia, pensamento, mito ou objeto sagrado, mas é sempre um deus distante, ausente, que não entra na história, que não faz história, que passa ao lado da história.

2. Acaz não fica sem resposta. Porque Deus recusa-Se a ser um mito venerado, um meteorito temido, uma força sobrenatural respeitada, um deus solitário, que não mexe uma palha. Por isso, Isaías anuncia o sinal admirável, que põe em evidência a ação de Deus na matéria, a Sua presença no mundo, a Sua entrada na história: “A virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel” (Is 7,14). Com este anúncio, Acaz fica a saber que Deus não é um verbo de encher, não é um espectador passivo do mundo. Ele atuará, a partir de uma Virgem. E isto mesmo é um admirável sinal, para mostrar que o prometido Emanuel será fruto do poder divino e não produto do ser humano. Ele é o Deus connosco, no meio dos homens, entranhado na sua história. Este Deus é mesmo capaz de transformar a matéria, de dar início a uma nova criação, de mudar o curso da história. Esta Palavra vive à espera, desde o século VIII, e cumpre-se na Virgem Maria. N’Ela há, de facto, um novo início. O Filho de Deus não provém de nenhum homem. A Encarnação é o primeiro ato de uma nova criação divina. É precisamente em Maria que acontece este novo início de uma nova humanidade: n’Ela Deus recomeça, de modo radicalmente novo, a vida de todo o ser humano.

3. Este “admirável sinal” só pode ser acolhido na fé, naquela fé que reconhece a Deus o Seu lugar ativo na história. Por isso, ao lado de Maria, que deixa Deus tecer os fios da sua história pessoal, está José, o homem justo. Ele não diz palavra, mas deixa que Deus conduza a história, segundo o Seu próprio guião. E não se importa de ficar de guarda ao mistério que o envolve. Como diz o Papa Francisco: “José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática” (Admirabile Signum, n.º 7).

4.Irmãos e irmãs: estamos às portas do Natal. E o Senhor oferece-nos também a nós este“admirável sinal” que é o Presépio, que suscita maravilha e enlevo (Admirabile Signum, n.º 1)! Não nos abeiremos do Presépio como se estivéssemos diante do cenário mágico de um conto de fadas. Não! É um sinal mais da presença de Deus, que entra de mansinho na nossa história; que atua, de modo surpreendente, no nosso mundo, fazendo-Se pobre e fazendo dos mais pobres os protagonistas de um tempo novo, de uma nova humanidade. No nascimento daquele Menino, a partir de uma Virgem, temos a esperança de que é possível mudar e vencer o mundo; tal é possível, pela graça de Deus, se nascermos de novo com Jesus, se formos fiéis ao sinal do Presépio, onde já se divisa a Cruz.

5.Irmãos e irmãs: não façamos do Natal uma estória de magia! Neste Natal, deixemos que o Senhor escreva, ou mesmo, que reescreva a sua História de amor por nós e a nossa história de amor por Ele, iniciada no Batismo. Não deixemos que o Natal passe à história, mas que faça história na nossa vida, para que possamos também nós nascer de novo com Ele, neste Natal de 2019.

 

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