Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição - II Domingo do Advento A 2019
1. Desde pequenino, que este dia da Imaculada Conceição tem, para mim, uma marca especial. Lembro-me, de quando era criança, que era este o dia em que começávamos a fazer o Presépio, com o pinheiro, uma cabana de palha, pedras, areia, musgo e muitas figurinhas de barro, pintadas à mão. Havia lugar no Presépio para as montanhas e para os riachos, para o burro e para o boi, para as ovelhas e pastores, num jeito de dizer que toda a criação participava na festa da vinda do Messias. E não faltavam os pobres, a gente simples do campo, e outras figuras, até chegar a vez dos senhores Magos. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres, com a bilha de água ao ombro, às crianças que brincam… tudo isso nos lembrava a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha connosco a sua vida divina. No centro, é claro, estava, está e estará sempre Jesus, Deus feito Menino, que tem a seu lado as figuras de Maria, a Mãe que O contempla e mostra a quantos vêm visitá-l’O, e a de José, que guarda e protege a Sagrada Família.
2. Pensando bem, fazia todo o sentido começar a dar forma ao Presépio, a primeira casa de Jesus, precisamente neste dia da Imaculada Conceição. Recolhida e hospitaleira, Maria tornara-Se a mais bela casa de Deus, a digna morada, que o Pai preparou para o seu Filho! Para Jesus, como para nós, a sua primeira morada é o seio de sua Mãe. Maria é a primeira e a mais digna morada, que Jesus podia encontrar, para nascer e habitar no meio de nós. Uma morada, que não é um palácio em ruínas, destruído pela desordem, ou uma casa atulhada de luxo ou de lixo. Mas um coração puro, recetivo e harmonioso, sem sombra de pecado. Maria, a cheia de graça, é a criatura humana, plenamente habitada pelo amor de Deus!
3.Também nós, pelo nosso Batismo, somos habitados por Deus! O mesmo Espírito Santo, que gerou Jesus no seio da Virgem Maria, faz com que a água da fonte batismal nos regenere, nos lave e nos purifique do pecado, para nos tornarmos morada santa de Deus, templos vivos do Espírito Santo. Não deixamos, por isso, de ser pecadores, mas doravante lutamos contra o vírus egoísta do pecado, na certeza de que o mal não terá sobre nós a última palavra. A unção no peito, com o óleo da fortaleza, recorda-nos que “esta luta é magnífica, porque nos permite cantar vitória, todas as vezes que o Senhor triunfa na nossa vida” (GE 158).
4.Somos habitados por Deus! Isto faz-nos voltar a pensar, não apenas em Maria, a mais santa das moradas do Altíssimo, mas na primeira habitação material de Jesus: o pobre curral de Belém. Segundo certa tradição, este curral aparece do meio de um palácio em ruínas,sinal visível da nossa humanidade decaída e destruída pelo pecado.Este cenário diz-nos que Jesus é a novidade, no meio de um mundo velho, e que Ele veio para curar e reconstruir, para reconduzir a nossa vida e o mundo à beleza inaugural da criação, nas suas origens.Pensemos então: assim como o curral, onde Jesus nasce, é o que sobra do mundo velho, assim da nossa ruína, da nossa desgraça, Deus é capaz de abrir um caminho de salvação (cf. Prefácio Dominical III)e reconstruir em nós o templo santo da Sua morada. Tenhamos esperança!
5.Caríssimos irmãos e irmãs: não deixemos então de construir o Presépio, em família, em nossa casa, mas façamo-lo ao jeito de Maria, a Mãe que preparava o berço do Menino, não atulhando-o de coisas, mas com um coração silencioso e recolhido, puro e imaculado, despojado e acolhedor, esperançoso e confiante; enfim, um coração totalmente preenchido pela graça de Deus, um coração que só sabe dizer “sim” a Deus. Um coração que não deseja mais nada do que fazer de Si mesma o mais belo Presépio para Deus habitar o nosso mundo.
Como Maria, deixemos Jesus nascer e habitar em nós. Se O deixarmos nascer e habitar em nós, seremos também nós a nascer, de novo com Ele, neste Natal.