Homilia no XXXI Domingo Comum C 2019
1. Ora aqui está o publicano da parábola do passado domingo! Apanhamo-lo em flagrante delito! Agora sabemos o nome e conhecemos o rosto: é Zaqueu. Por ironia, o seu nome significa “puro”. É um homem rico, com nome na praça e bem conhecido na cidade. O homem é de baixa estatura e esse tamanho combina bem com o modo como se vê a si mesmo e com a cidade onde vive: Jericó é um belo e aprazível oásis, 300 metros abaixo do nível do mar. Sendo de baixa estatura, tem a coragem de ser dissonante, a coragem de assumir os próprios limites e ei-lo que sobe a uma árvore. Sobe não só porque queria ver quem era Jesus, que o vai olhar de baixo para cima; mas sobe também àquela árvore, porque não queria ser visto pelo olhar cego e fulminante da multidão, que o olhará sempre de cima para baixo!
2. Na verdade, quando Jesus chegou perto daquela árvore levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa» (Lc 19,5). Podemos imaginar a estupefação de Zaqueu! Mas porque é que Jesus disse «devo ficar em tua casa»? De que dever se trata? Sabemos que o seu dever supremo é “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,9-10). E aqui dá-se o feliz encontro entre dois buscadores que desejam a salvação: Zaqueu, que procura ver quem é Jesus e Jesus, que primeiro o atraiu, procurou e viu nele não um pecador, mas um “filho de Abraão” (Lc 19,9). Naquele olhar misericordioso de Jesus, Zaqueu aprende a ver-se a si mesmo com outros olhos e a ver as vítimas que prejudicou e os pobres que ignorou. Pelo contrário, a multidão, cega de ódio e desprezo, murmura: “Foi hospedar-se em casa dum pecador” (Lc 19,7). Mas se Jesus lhe tivesse dito: “Desce tu, ó explorador, ó traidor do povo! Vem falar comigo para ajustarmos contas”, certamente o povo teria aplaudido. Mas Zaqueu soube aproveitar a hora. Para Zaqueu, aquele “hoje” foi o dia em que lhe saiu o Euromilhões do bolso. Por isso, dá tudo aos pobres. Não dá tudo, para ser salvo; dá tudo, porque foi salvo.
3. Irmãos e irmãs: o olhar de Jesus vai para além dos pecados e dos preconceitos. Isto é importante! Devemos aprendê-lo. Jesus vê a pessoa com os olhos de Deus, que não Se detém no mal passado, mas entrevê o bem futuro. Jesus não Se resigna aos fechamentos, mas sempre abre novos espaços de vida; não Se detém nas aparências, mas olha para o coração. E, neste caso, olhou para o coração ferido deste homem: ferido pelo pecado da cupidez, pelas numerosas coisas más que este Zaqueu tinha cometido. Olha para aquele coração ferido e vai ali.
4. Por vezes, procuramos corrigir ou converter um pecador repreendendo-o, criticando os seus erros e o seu comportamento injusto. A atitude de Jesus com Zaqueu indica-nos outro caminho: o de mostrar a quem erra o seu valor, aquele valor que Deus continua a ver, apesar de tudo, apesar de todas as nossas faltas. Isto pode provocar uma surpresa positiva, que enternece o coração e impele a pessoa a tirar o bem que tem dentro de si. É dando confiança às pessoas que as fazemos crescer e mudar. É assim que Deus Se comporta com todos nós: não está bloqueado pelo nosso pecado, mas supera-o com o amor e faz-nos sentir a nostalgia do bem. Todos sentimos esta nostalgia do bem depois de um erro. E assim faz o nosso Deus Pai, assim faz Jesus. Não existe uma pessoa que não tenha algo de bom. E Deus olha para isto, para o tirar do mal.
5. Como recordávamos na Solenidade de Todos os Santos, não há um santo sem um passado de pecado, nem um pecador sem um futuro de perdão. Zaqueu mostra-nos duas coisas que pareciam impossíveis: primeira, um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha, porque um rico entrou no reino dos céus! Segunda, já não há apenas os santos de “ao pé da porta”; há também os santos da casa, que até fazem milagres, quando o Senhor Se torna o Hóspede.
Irmão, irmã: o Senhor quer ficar hoje em tua casa! Basta que O deixes entrar! Joga tudo, toda a tua vida, neste encontro com Ele. Hoje é o dia da tua sorte grande!