Homilia no XV Domingo Comum C 2019
1. Estamos em modo verão, mas a liturgia da Palavra não nos dá sossego! Em qualquer viagem, mesmo nas de férias ou de peregrinação, há sempre alguém, caído na valeta da vida, que nos incomoda e clama, ainda que silenciosamente, por uma ajuda imediata, por uma obra de misericórdia. Impõe-se-nos uma boa ação, tão concreta e tão real, que não há quaisquer desculpas para não a pôr em prática. Não interessa «catalogar» nem se pode escolher e é perda de tempo discutir «quem é o meu próximo». O que importa é cada um tornar-se próximo da pessoa que se cruza consigo, com necessidade de ajuda, mesmo que seja desconhecida ou hostil. Curiosamente, Jesus coloca nesta atitude cristã exemplar um samaritano, que era uma espécie de “estrangeiro”, um renegado na sua própria terra, um mal-amado. Mas é precisamente este mal-afamado samaritano que faz bem sem olhar a quem. É este estrangeiro que se torna, na parábola, imagem do próprio Cristo, “hóspede e peregrino no meio de nós”.
2. Este meio-estrangeiro, que faz bem àquele estranho meio-morto, leva-me a pensar sobretudo nos imigrantes e refugiados como os «últimos» dos últimos tempos. “São os últimos enganados e abandonados a morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violentados nos campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas de um mar impiedoso; são os últimos deixados em acampamentos de acolhimento (demasiado longo, para ser chamado de temporário). Estes são apenas alguns dos últimos, que Jesus nos pede para amar e levantar. Mas há mais. Infelizmente, as periferias existenciais das nossas aldeias, vilas e cidades, estão densamente povoadas de pessoas que foram descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, de pessoas pobres e sofredoras” (Papa Francisco, Homilia, 8.7.2019), que não nos deixam tranquilos, deitados «à sombra da bananeira». Não façamos férias, para fugirmos das pessoas ou para “metermos a cabeça na areia”, mas para nos encontrarmos mais atenciosa e generosamente com elas. Não importa a raça, a religião, a cor, o país, as virtudes ou os defeitos. São, antes de mais nada, pessoas humanas. Precisamos de recuperar esta visão da fé, que nos faz ver a todos como filhos de Deus, nossos irmãos.
3. Jesus concluiu esta tão belíssima como incómoda parábola com um imperativo categórico, com uma ordem de marcha: “Então, tu vai e faz o mesmo” (Lc 10,37). E repete-o a cada um de nós: «Tu, vai e faz o mesmo”, tornando-te próximo daquele irmão ou irmã que vês em dificuldade. Na verdade, “o programa do cristão – o programa do bom samaritano, o programa de Jesus – é «um coração que vê». Este coração vê onde há necessidade de amor e age de acordo com isso” (Bento XVI, DCE, n.º 31).
4. Que a Virgem Maria, a Senhora da Prontidão, que se levantou para ir a toda a pressa acudir às necessidades da sua prima Isabel, nos ajude a levantarmo-nos do sofá, para levantarmos os outros do chão. Que Maria nos ensine a caminhar pela vereda do amor generoso pelo próximo. Este é realmente o caminho, não para o paraíso de umas férias de sonho, mas para entrar na vida eterna!